Priscila Almeida é psicóloga clínica especialista em saúde mental, psicanálise e em trânsito. Escritora e editora do Blog Papos de Psico.
Acho que ando meio deprê…
A depressão nada tem a ver com um simples estado momentâneo. Para um diagnóstico, é necessário buscar um profissional de Psicologia ou de Psiquiaria
Quem nunca ouviu ou mesmo falou esta frase? Com o acesso cada dia maior e melhor das pessoas à internet, diagnósticos, sintomas, palavras como depressão, histeria se tornaram vocábulos comuns no cotidiano de todos. Mas não é porque essas palavras estão na nossa vida que elas são sempre empregadas da forma como deveriam.
A deprê que ouvimos muitos falarem está ligada ao fato de a pessoa apresentar um desânimo com algo, uma tristeza, um sono sem fim. Mas a depressão nada tem a ver com um simples estado momentâneo. Não vou aqui me deter sobre os sintomas da depressão, pois só isso não vai ajudar você a se diagnosticar. Para um diagnóstico de depressão é necessário ir a um psicólogo ou a um psiquiatra para uma avaliação.
Depressão é uma doença que afeta cerca 350 milhões de pessoas – cerca de 5% da população mundial sofre de depressão a cada ano [fonte: OMS, dados de 2012]. Diante dos números vemos que esta é uma realidade que faz parte da vida de muitas pessoas e, o pior, é que muitas das pessoas deprimidas não sabem que se encontram doentes.
Trabalhei por um bom tempo em hospital psiquiátrico e lá víamos muitas pessoas só chegarem para atendimento após terem passado por várias experiências de tratamento. Antes de ir ao hospital, procuravam tratamento de ordem espiritual ou mesmo tentativas domésticas de cuidar dos problemas psicológicos (remédios caseiros, ficar amarrado, acorrentado, trancado em um cômodo da casa). O medo da pessoa e das famílias de se confrontarem com a realidade do fato de ser ou ter uma pessoa com o emocional em desequilíbrio ainda é muito forte.
A negação da doença, o medo e o receio do estigma que ela representa na sociedade dificultam a chegada das pessoas ao cuidado necessário. A consequência disso é o agravamento da doença e o possível aumento na duração do tratamento. Isso serve para qualquer sofrimento de ordem emocional.
É comum ouvirmos pessoas dizendo que estão deprimidas quando de fato esse não é o diagnóstico. Essa é uma outra situação que vemos muito. Quero deixar claro aqui que a depressão é um dos diagnósticos, uma das doenças que podem ocorrer com uma pessoa que passa por um sofrimento de ordem emocional.
A tristeza da perda de um ente querido
pode ser considerada luto ou depressão?
Depois de atender a tantas pessoas com depressão, a imagem que me vem cabeça é a de um mergulho na alma. Se você tem ou já teve depressão sabe do que estou falando. Muitas descrições de pacientes são “me sinto afogando, procuro o chão e não acho”, “estou paralisado, não consigo me movimentar”, “choro, choro, não sei o porquê”. A pessoa se afoga em mágoas, tristeza, se deixa levar pela correnteza sem saber como e para onde nadar.
De fato, algo se perde e o sujeito fica paralisado nesse objeto perdido. Lacan, ao falar da depressão a trata como a paixão da alma, tomando como referência Platão, Aristóteles e São Tomás, a coloca assim, no campo da ética. Ele definiu a tristeza como uma covardia moral, uma falta moral. Em termos analíticos, se trata de uma decisão sobre a perda.
Por isso, há sempre a relação luto e depressão. A dificuldade de perder algo está sempre em jogo. Diante disso, fica a questão: como saber se a tristeza da perda de um ente querido pode ser considerada luto ou depressão? Bem isso dependerá do contexto em que a pessoa em sofrimento se encontra, há quanto tempo está em luto e como isso afeta seu dia a dia. Em alguns processos de luto, a pessoa pode vir, sim, a ter depressão. Em caso de dúvida é importante um atendimento psicológico para fazer uma avaliação.
E não esqueça: depressão é assunto sério e é imprescindível o tratamento psicológico e psiquiátrico para que haja melhora.
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