Liliana Peixinho é jornalista, ativista social, integrante de diversos grupos de luta e defesa de direitos humanos. Fundadora e coordenadora de mídias livres como: Reaja – Rede Ativista de Jornalismo e Ambiente, Mídia Orgânica, O Outro no Eu, Catadora de Sonhos, Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente, RAMA -Rede de Articulação e Mobilização em Comunicação.
Desconstrução do conceito ‘lixo’
O começo de tudo é o querer fazer um ambiente limpo, saudável, harmonioso, acolhedor de vida, em saúde e bem viver
O Brasil está doente. Descaso com a água e “lixo”, como resíduos sem valor, são fontes de ameaça à vida, fora do foco do cuidado necessário. Das desigualdades regionais, sem disponibilidade de infraestruturas, pipocam problemas, com vidas em lembranças de retratos em paredes. O Nordeste, por exemplo, tem sido foco sobre casos de concentração de doenças relacionadas à falta de saneamento. E são muitas as doenças associadas à falta de garantia desse direito básico: esquistossomose, febre amarela, febre paratifoide, amebíase, ancilostomíase, ascaridíase, cisticercose, cólera, dengue, disenterias, elefantíase, malária, poliomielite, teníase e tricuríase, febre tifoide, giardíase, hepatite, infecções na pele e nos olhos, leptospirose e mais recentemente febre chikungunya (pronuncia-se chicungunha), zika, Síndrome de Guillain-Barré, microcefalia, associadas aos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus.
É importante salientar que, para reduzir a ocorrência dessas doenças, é fundamental que a população tenha acesso a condições mínimas de saneamento, com água e esgoto tratados corretamente, destinação e tratamento adequado de resíduos, assim como serviços de drenagem urbana, instalações sanitárias corretas e educação para a promoção de hábitos saudáveis de higiene. Convido o leitor, a praticar, no cotidiano, as dicas, ao menos algumas delas, na perspectiva do Lixo Zero, em desconstrução do conceito “lixo” como resto, algo que não presta, sujo, nojento mesmo. Para isso, o começo de tudo é o querer fazer um ambiente limpo, saudável, harmonioso, acolhedor de vida, em saúde e bem viver.
A vida nos exige um fazer limpo diário para subverter o conceito ‘lixo’
Tem muita gente querendo limpar ambientes comuns de vida e trago aqui o exemplo do Movimento AMA-Amigos do Meio Ambiente, criado em 1999, e que, mesmo sem recursos, como movimento livre, não desiste de realizar ações em condomínios, escolas, residências, coletivos diversos, Bahia afora, na campanha permanente: “DESPERDICIO ZERO = LIXO ZERO = AMBIENTE 10= SAÚDE MIL. Saneamento básico requer infraestruturas e ações permanentes, contínuas, não apenas em campanhas emergenciais em tempos de epidemias, para garantir, de fato, a vida da população. A ideia é estimular o fazer limpo diário para brotar bons frutos, em cadeia de uso e descartes limpos de ponta a ponta. A sensibilização é focada em Cultura dos 7 Rs: racionalizar, reduzir, repartir, reutilizar, reinventar, reutilizar, para revolucionar comportamentos.
A proposta é mudar hábitos sujos, em limpos. O AMA identifica apoia e incluí em sua agenda de trabalho: catadores, artesãos, artistas, educadores ambientais, donas de casas proativas, como agentes transformadores. O Movimento faz coleta, porta a porta, de diversos tipos de materiais, com foco em saneamento, inclusão comunitária, cidadania e alegria, de quem recebe as doações e as transforma, em renda, cidadania. O sonho do AMA, desde 1999, é “LIXO ZERO”. Achavam loucura a proposta! E o mundo, agora horizontalizado em redes sociais, mostra que é possível, e necessário, zerar nossos rastros de consumo. Basta querer e fazer. Se tudo for separado para descartar, em cuidado, até o orgânico – problema sério em falta de saneamento – vai adubar a vida em “quintais verdes”. A vida está a nos exigir um fazer limpo, diário, para subverter o conceito “lixo”: algo sujo, misturado, foco de doenças – em civilidade, saúde, onde MENOS consumo, desperdício, será sempre MAIS vida, harmonia, felicidade de verdade! Quem sabe o alerta do mosquito nos mobilize a atitudes permanentes para o cuidado com a vida?…
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