Liliana Peixinho é jornalista, ativista social, integrante de diversos grupos de luta e defesa de direitos humanos. Fundadora e coordenadora de mídias livres como: Reaja – Rede Ativista de Jornalismo e Ambiente, Mídia Orgânica, O Outro no Eu, Catadora de Sonhos, Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente, RAMA -Rede de Articulação e Mobilização em Comunicação.
Desejos e necessidades
Desejo é uma tensão em direção a um fim considerado como fonte de satisfação; necessidade é condição de sobrevivência, muitas vezes, no limite entre vida e morte

Tem uma propaganda no ar, com gancho em “desejo e necessidade”, cujo foco da mensagem não direciona para a real diferença entre o que uma, e outra, provocam, socialmente. Senti a necessidade de aprofundar a questão. Esses dias, quando li sobre como e quanto o Brasil gasta, “investe”, disponibiliza, libera, desperdiça…. recursos aqui e ali, para áreas como Segurança, por exemplo, de forma tão ineficiente em resultados, e vemos a violência no Brasil matar mais que em guerras declaradas, mundo afora, pronto, aí eu tinha um ponto macropolítico para abordagem cotidiana, em desafios sociais graves como: consumo, valores, saúde, educação, cuidado, prevenção, modos de vida.
Na filosofia diz-se que o desejo é uma tensão em direção a um fim considerado por alguém como fonte de satisfação. É uma tendência, algumas vezes consciente, outras vezes, inconsciente ou reprimida. A necessidade vem na contramão desse objetivo como condição de sobrevivência, muitas vezes, no limite entre a vida e a morte. Quem dera o mundo pudesse aliar desejos com necessidade sem precisar ostentar de um lado, e faltar muito, do outro. Quando vejo consumidores chamados de compulsivos, que querem compensar problemas emocionais ostentando em cartões de créditos pendurados em parcelas a perder de vista para compra de roupas e sapatos, e ampliamos esse problema para o cenário de desemprego e desigualdade que o Brasil nos apresenta, me pergunto: o que nos fez chegar a esse ponto sobre a vida? Teremos chance, oportunidades, desejos de satisfazer tanta necessidade em desejos tão rasos?
Uns têm desejo de sexo, a qualquer custo, e temos pesquisas sérias que mostram o Brasil com um estupro a cada 11 segundos. E ainda, que bom, temos pessoas que praticam o sexo como necessidade de amor, de respeito, de satisfação compartilhada em harmonia e maturidade com o outro. Essa educação emocional vem sendo relegada em comportamentos que diminuem a evolução humana em sua sofisticação de sentimentos, prazer, alegria, harmonia, relacionamentos.A cultura musical rasa, da bundinha, do prazer, da ostentação, da bebedeira, do consumo, tem contribuído para problemas sérios, sob o incentivo do capital, apressado, para a fama e a riqueza.
As desconexões estão por toda parte,
em todas as áreas e em todas as cabeças
É criminoso ver que o país desperdiça milhões, bilhões em compras de equipamentos para Saúde, Educação, Segurança, e não temos as contrapartidas oferecidas em resultados, em mudanças de estatísticas desumanas, criminosas, com a vida. Está tudo desconectado! O trabalho sério não parece dar prazer e o fim do turno, do dia, da semana, do mês, são etapas aguardadas com ansiedade. Não há programas conectados com o fazer de forma integral. As desconexões estão por toda parte, em todas as áreas e em todas as cabeças. Dia desses, vi trabalhadores ficarem mais de duas semanas para consertar algumas poucas dezenas de paralelepípedos soltos numa rua porque uma equipe chegava cedo, com o material de trabalho, e tinha que ficar sentada, esperando a liberação, por outra equipe, de um saco de cimento, ou parar o trabalho porque a carro da areia demorou a chegar e não foi programado para um trabalho em aproveitamento de tempo, em fases certas de execução e coesão da equipe.
Quando observamos famílias que recebem auxílios políticos em nome da redução de deficiências na alimentação, saúde, educação… e vemos, por ai, donas de casas deixarem de comprar frutas e legumes, por exemplo, para trocarem pisos de casa, ainda bem conservado, porque saiu um novo desenho no mercado e a vizinha já trocou o seu dá uma tristeza gigante em sentir vidas em retrocesso.
A prioridade de desejos escanteia necessidades vitais, como segurança alimentar, prevenção, saúde. É muito triste ouvir de um adolescente que o lixo que circunda sua casa não é problema seu e se baratas, ratos, mosquitos… ameaçam a vida coletiva, um “eca!” se mostra suficiente para deixar tudo como está porque o seu vestido, o seu perfume, o seu cabelo alisado em chapinha se revelam como suficientes para uma vida em faz de conta cor-de- rosa. Em meio a ocupações de escolas, em debates sobre redações de temas do Enem e sacrifícios de estudantes para entrar numa faculdade, fico a pensar sobre o que tem se aprendido, de fato, sobre o que é importante para o viver em dignidade, civilidade, respeito, justiça?
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