Publicado em 21/12/2016 às 14h30.

É verão, é Natal – entre o culto do corpo e a necessidade do prazer

Com o calor, crescem a vontade de usar roupas mais leves e o número de pessoas frequentando academias para tentar atingir o "corpo perfeito"

Priscila Almeida

 

Verão e Natal (reprodução)
Imagem ilustrativa

 

O verão chegou e, com ele o calor, a vontade de ir à praia e usar roupas mais leves e confortáveis. Neste período vemos um crescente número de pessoas frequentando academias e tentando fazer dieta para chegar ao corpo perfeito. Ao mesmo tempo, chega a temporada de confraternizações e festejos natalinos, onde a comida e a bebida ganham lugar de destaque. Não é mesmo?

E você, como tem se sentido com relação ao seu corpo? Você é feliz com o seu corpo e sua saúde no momento? É difícil manter o corpo na linha, hein? Você é parte do grupo que se cuida o ano todo ou só quando está chegando o verão?

O grande aumento do número de perfis nas redes sociais e estudos realizados sobre comportamento alimentar nos revela que este tem sido foco de atenção das pessoas. Você já percebeu isso também? Nos últimos anos, não só o culto ao corpo tem crescido, há agora uma preocupação com o conteúdo do que você come, com sua saúde. Essa valorização do trabalho nutricional tem me chamado atenção. Acho muito bom que haja um outro olhar sobre o emagrecimento.

O Comportamento Alimentar se refere à ingestão de qualquer alimento. Uma pessoa que tenha comido apenas chocolate hoje se alimentou, mas não se nutriu convenientemente, não é mesmo? Nutrição é alimentar-se adequadamente com qualidade e quantidade. O comportamento alimentar deveria ser regulado pelo complexo mecanismo fome-saciedade, mas é importante entender que as emoções, a ansiedade, os estados de humor e outros fatores psicológicos podem alterá-lo profundamente e, consequentemente, o comportamento nutricional.

Nas orientações nutricionais que visam emagrecimento recebemos uma lista do que fazer e o que comer. Saímos da nutricionista nos sentindo já magros só de pensar em todas aquelas mudanças…  Você sai do nutricionista e vai direto para o mercado comprar todas aquelas sementes, frutas secas, oleaginosas, alimentos sem glúten, sem lactose… gasta uma pequena fortuna! Vai à academia se matricula naquela promoção de seis meses – assim se obriga a ir e fica mais em conta… Mas, passada uma semana, você sente uma impotência, algo se quebra para fazer as tais mudanças? Algo mais forte que sua vontade o impede? Aparece, repentinamente um desânimo total.

Você sabe que não está saudável se alimentando de forma incorreta, seu peso está acima do que gostaria, ou abaixo, mas você não encontra aquela força que vem de dentro e que lhe dá foco e lhe joga para os exercícios físicos e alimentação adequada?

Saiba que você não está só! A grande maioria das pessoas come sem fome, sabendo que não deveria fazê-lo, mas o faz. O alívio provisório da ansiedade, que volta reforçada pela culpa e que leva a pessoa a comer mais, para tornar a diminuir a tensão é o mecanismo mais comum utilizado pelo nosso organismo.

A pessoa que engorda passa a evitar toda uma gama de situações e atividades, assim como as gratificações delas decorrentes. Muitas vezes, restringe sua vida social e pode tender ao isolamento. Essa reação provoca o afastamento de outras pessoas, mas fica difícil perceber que isso ocorre por causa do seu comportamento e não por sua aparência. Sua ansiedade aumenta e a solidão também, a qual, por sua vez, reforça a ansiedade.

 

Precisamos estar atentos à forma

como nos relacionamos com

a comida desde a infância

 

A comida assume o papel de “redutor de tensão” e por vezes, única fonte de prazer. A pessoa passa a rejeitar seu corpo. Os mais tênues sinais de ansiedade, antes mesmo de se tornarem conscientes, passam a ser “amortecidos” pelo ato de comer. Da mesma forma que, em várias situações da nossa vida, não só com relação ao hábito alimentar, tendemos a repetir comportamentos de maneira “automática”, diante de uma situação parecida com a qual já havíamos vivenciado anteriormente. Repetimos, sem muitas vezes notar que estamos diante do mesmo padrão de comportamento.

Os hábitos alimentares vêm desde os primeiros momentos de vida com a mãe. A relação com a comida nos primeiros anos de vida é um fator importante para o modo como cada indivíduo lidará com a alimentação no futuro.  A criança, desde o nascimento, estabelece um vínculo com a mãe através da amamentação. As primeiras sensações de ansiedade (sensação desagradável, negativa) são experimentadas quando o bebê tem fome. O alivio da tensão (sensação agradável) é conseguido quando a criança se alimenta (saciedade).

E, dessa maneira, alimentação e emoção vão se misturando. Ao comer uma comida supergostosa, as pessoas costumam falar de sensações de prazer, alívio, paixão. Preste atenção em você mesmo após comer algo que achou saboroso. Foi agradável? Qual foi seu sentimento com relação à comida?

A percepção dos sabores compreende a sensação do doce, salgado, azedo e amargo. A sensibilidade ao sabor doce já aparece na fase pré-natal, sendo, portanto, uma preferência inata. Segundo Beauchamp (1994), possivelmente, devido a essa sensibilidade ao doce estimulada pelas substâncias químicas do líquido amniótico durante a fase pré-natal, verifica-se um aumento da aceitação de alimentos desconhecidos, quando estes estão associados ao açúcar ou a alimentos naturalmente adocicados.

O sabor doce está associado ao prazer, e, provavelmente por essa razão, se mantém ao longo do tempo. Modificar essa memória só é possível quando outra experiência aprendida substitua ou neutralize a experiência anterior. Mas, para isso, é necessário entender o que ocorre, elaborar e partir para as mudanças.

Temos uma “memória afetiva” com relação a todas as situações vividas em nosso dia a dia. E com a nossa alimentação não é diferente. Por isso, as equipes de tratamento alimentar têm a psicoterapia como suporte, porque o emocional tem peso forte em todo plano alimentar. Então, se quer emagrecer e tem tido dificuldades para prosseguir na dieta comece a prestar atenção nos seus sentimentos com relação a comida e procurar um psicólogo pode lhe ajudar muito nessa caminhada.

Acredite, não adianta só saber que você é ansioso, tem que saber o que fazer diante disto! E ir além, o que lhe impede de seguir com o emagrecimento? Qual sua relação com seu corpo? Qual sua relação com a comida? Quais sensações a comida desperta em você? Como sua família lida com a comida? Como se vê diante dos outros?…

E se você é pai ou mãe, preste atenção: a alimentação envolve a participação efetiva dos pais como educadores nutricionais. É através das relações familiares que o comportamento alimentar das crianças é estimulado de várias formas. As estratégias que os pais utilizam na hora da refeição, para ensinar as crianças sobre o que e o quanto comer, desempenham papel preponderante no desenvolvimento do comportamento alimentar infantil.

Desse modo, precisamos estar sempre atentos à forma como nos utilizamos da comida desde a infância, pois tanto o excesso, como as restrições sem limites, são maléficos ao nosso corpo físico e emocional. O importante é vivermos bem conosco e prezarmos pela nossa saúde física e mental.

Priscila Almeida

Priscila Almeida é psicóloga clínica especialista em saúde mental, psicanálise e em trânsito. Escritora e editora do Blog Papos de Psico.

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