Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
Esperar o Natal ou viver o Natal?
Não necessitamos esperar a chegada do próximo mês de dezembro para vivermos o Natal; o mundo é um espelho que devolve a cada um de nós o reflexo de nossas ações e de nossos pensamentos
“Quando se viu, já era Natal”, como notou o poeta gaúcho Mário Quintana, em seu belo poema “O Tempo”. Mas, este ano, tive uma sensação de que nos shopping centers, outlets e zonas comerciais não havia o lufa-lufa tão característico do período natalino, entre nós.
Não foi sem sentido que este Natal de 2016 recebeu o apelido de Natal da Crise, numa alusão à terrível recessão que assola a economia brasileira e que, sem que percebêssemos, nos levou à diminuição e ao sumiço das decorações das ruas, empresas e residências, assim como a uma maior moderação nas compras dos produtos natalinos e dos presentes.
Se para nós o Natal é somente comer muito e trocar presentes, com a crise econômica, verdadeiramente, tivemos razões para nos lamentar, pois, desestimulados ao altruísmo e à solidariedade, nos acostumamos a centrar as nossas existências em nós mesmos e em buscar preencher o nosso crescente vazio interior com bens materiais e excessos de todos os tipos, principalmente os alimentares.
Como o verdadeiro significado do Natal é outro bem diferente daquele que comumente costumamos lhe dar, uma verdadeira comemoração natalina não necessita de muitos recursos financeiros para ser celebrada. Assim, se na noite do último sábado, nossas mesas tiveram menos pessoas felizes ao seu redor, com certeza, não podemos culpar apenas a falta de dinheiro, salvo se nos esquecermos de que o mais importante nesse festejar não é a troca de presentes, nem a ceia farta e variada.
O tempo voa e é bom que seja assim:
em breve, será Natal novamente.
Embora a comemoração de Natal, para além da sua acepção essencialmente religiosa, também tenha assumido contornos de uma festividade laica e comercial, ao menos em intenção, existe uma pretensão comum de espalhar esperança e alegria a todos, bastante coerente com o sentido e o significado do festejar o nascimento daquele que veio ao mundo pregar uma mensagem de paz e de solidariedade entre os homens.
Assim, mais um Natal chegou e passou, pois, para usar uma imagem comum do nosso dia a dia, o tempo voa. Voa mesmo e que bom que seja assim! Em breve, será Natal novamente! Afinal, pelo simbolismo e emoções que esta data evoca em grande parte da humanidade, tanto como um fenômeno de massa ou como uma experiência subjetiva, torna-se a ocasião propícia para, como propôs Jesus a Nicodemos, nascer de novo ou, na expressão de Freud, para tratar “o mal-estar da civilização”, que tanta angústia, ansiedade e depressão tem gerado em nós.
Nessa lógica, porém, não necessitamos esperar a chegada do próximo mês de dezembro para vivermos o Natal, pois, acredito que o mundo é um espelho que devolve a cada um de nós o reflexo de nossas ações e de nossos pensamentos. Assim, basta que comecemos, hoje, através do sincretismo das ações laicas e religiosas, a mudar este nosso mundo que, preso à cruel dinâmica desta sociedade individualista e consumista, ultimamente, anda tão feio, tão hostil, tão faminto, tão violento, tão corrupto e tão carente de esperança.
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