Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
‘Nada é permanente, exceto a mudança’
Tudo flui, nada persiste: até o que parece imutável se transforma, o que significa melhorar, piorar ou simplesmente mudar


A tecnologia causou mudanças significativas em nossas vidas, pois ela está presente em praticamente todos os processos da vida do ser humano, não sendo à toa que as redes sociais se tornaram um dos espaços mais propícios para as pessoas terem vez e voz, discutindo assuntos importantes e de interesse público, embora, não raro, tais discussões possam gerar polêmicas, pois, também, são usadas para desabafos contra situações julgadas absurdas ou injustas vivenciadas no dia a dia, em busca de apoio de amigos, familiares e conhecidos.
Nessa lógica, basta uma rápida navegada em nossa linha do tempo ou no feed de notícias para perceber que não só as publicações acerca de temas considerados espinhosos, como política, religião e futebol etc. podem gerar percepções e sentimentos negativos, exigindo muita atenção e tato na hora de realizar postagens e/ou compartilhamentos.
Pouco importa quão corretos os conteúdos das opiniões ou dos comentários possam estar, ainda assim podem ser interpretados como críticas diretas ou indiretas, gerando mal-entendidos ou, o que é pior: a carapuça pode servir em pessoas erradas.
Um exemplo disso foi uma recente postagem que realizei a respeito do aplicativo de transportes Uber, transcrevendo uma mensagem recebida de um amigo, pois, como tudo, instantaneamente, vira debate, não faltaram concordâncias e discordâncias emocionais em relação ao trabalho dos uberistas.
Polêmicas à parte, o fato me levou a pensar com mais profundidade a respeito da profissão de motorista, seja de táxi, de Uber ou de qualquer outro serviço similar, diante da inevitável tendência de uma migração tecnológica para carros autônomos, em um futuro não muito distante.
O ser humano, enquanto reflexo do macrocosmo, faz da sua vida social um ir e vir entre a ordem e o caos. Nesse processo, conflitos entre “o velho” e “o novo” são naturais, pois as inovações tecnológicas nos mostram que dificilmente é possível evitar o progresso. Afinal, os principais responsáveis pelo avanço de novas tecnologias são os usuários, as pessoas que sempre estão interessadas no que é melhor para elas.
Podemos temer o futuro ou
nos preparar para enfrentá-lo
Com isso, não estou querendo dizer que todas as inovações tecnológicas são, por si só, boas para os seres humanos e há diversos exemplos que comprovam isso. Mas, já que o progresso triunfa sempre e os carros autônomos já são uma realidade, mais breve do que imaginamos, eles estarão nas ruas, como um sistema paralelo ou condenando à obsolescência o Uber e o táxi.
Nessa lógica, na onda das tecnologias chamadas disruptivas pelo poder que têm para criar e destruir mercados num curto espaço de tempo, os partidários dos uberistas e taxistas que se digladiaram concordando e discordando com o meu posicionamento, com certeza, além de errarem o alvo, gastaram tempo e energia, pois, como a velocidade das mudanças é constante, dentro de uma ou duas décadas, provavelmente estarão unidos para protestar e lutar contra um “inimigo” comum, muito maior e mais poderoso, frio e calculista: os carros autônomos.
O futuro está aí e é incerto. Podemos temê-lo ou nos preparar para enfrentá-lo e esta será a escolha de cada um. Portanto, não adianta chorar sobre o leite derramado e como nenhum mal acontece sem pelo menos o nosso secreto consentimento, o sucesso do Uber entre nós, não pode ser apenas creditado ao seu baixo custo, pois a questão é mais complexa e nessa equação não podem ficar de fora variáveis como a fragilidade e a indolência de um setor, historicamente, acomodado na zona de conforto dos monopólios.
Está claro que estamos e estaremos vivendo num mundo onde haverá muito mais perguntas do que respostas, pois, tudo que existe está em transformação. Assim como nós, tudo que nos cerca está em constante mudança, porém nem sempre para melhor. Não é sem sentido que, para Heráclito, filósofo nascido em Éfeso por volta de 540 a.C.: “Nada é permanente, exceto a mudança”.
Nessa lógica, tudo flui, nada persiste nem permanece o mesmo e até o que parece imutável se transforma, o que significa melhorar, piorar ou simplesmente mudar. Portanto, para muito além das disputas intestinas entre taxistas e uberistas, na inexorável marcha do tempo, ainda teremos que conviver com muitas transformações. Algumas já estão acontecendo e podemos observar seus efeitos e defeitos. Outras ainda soam como sacrilégios ou delírios, embora já estejam a caminho mirando de longe os seus alvos.
A verdade é que, em meio a tantas evoluções, revoluções e disrupções acontecendo, frequentemente, chegamos a esquecer que o que hoje damos por realidade foi ontem uma miragem dentro da própria imaginação.
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