Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
O amor na dor
São nos dias mais doloridos que as oportunidades de amar se manifestam da forma mais bonita
Ao longo de toda nossa vida, todos os dias, vivenciamos perdas. Perdemos objetos, somos reprovados em avaliações, sofremos com desilusões amorosas, separações, demissões, diagnósticos de enfermidades graves ou incuráveis, vivenciamos a menopausa, encerrando o nosso ciclo reprodutivo, a aposentadoria, pondo um ponto final no nosso ciclo produtivo ou a morte de amigos ou familiares muito queridos, além de outras experiências cotidianas que nos ajudam a entender que tudo é passageiro, inclusive nós, na nossa condição de mortais.
Pequenas ou grandes, não raro, as perdas nos fazem sentir as dores mais doloridas que achamos que poderíamos sentir e o mais próximo que poderíamos chegar daquilo que chamamos de “tristeza”. Mas, de todas as experiências humanas, nenhuma traz mais implicações e inquietude do que a ideia da morte e o medo que ela inspira.
Infelizmente, uns mais, outros menos, inevitavelmente passaremos por isso, pois ao longo de nossa existência, as perdas sempre serão maiores do que as aquisições.
Nesse sentido, sei, por experiência própria, que o adoecer pode gerar crises e momentos de desestruturação. Afinal, apesar dos avanços científicos, o diagnóstico de algumas doenças graves amedronta e traz sofrimento para os portadores da morbidade e seus familiares, impondo a todos uma difícil adaptação.
A começar pela tomada de decisões sobre o tratamento adequado, o enfretamento de uma enfermidade grave em um ente querido acarreta implicações físicas, emocionais, afetivas, profissionais e financeiras para o enfermo, além de, não raro, comprometer as relações familiares, gerando estresse, tensão e conflitos.
Queiramos ou não, a doença altera o papel social do enfermo e a dinâmica familiar. Assim, salvo os casos de ausência completa de empatia, o processo do adoecer envolve não somente o paciente que se encontra internado, mas também toda a família, que vivencia a hospitalização diariamente.
Quando uma lágrima cai, quem melhor
a enxuga é o amor familiar
Sinceramente, por mais que eu tente, a sensação é a de que nem as doutrinas filosóficas ou as religiões e nem mesmo a ciência são capazes de aplacar totalmente a angústia que a consciência da finitude promove, naqueles momentos em que a esperança não se mostra como algo possível de se alcançar, dando lugar a sentimentos e a condições objetivas de desamparo e impotência.
Ninguém vivencia a enfermidade de um ente querido sem dor, mas a maturidade nos permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranquilidade. Afinal resiliência é algo que se aprende com o tempo e com a sabedoria adquirida através do sofrimento, pois, na maioria das vezes, é mais pela vereda da dor do que pelos caminhos do amor que compreenderemos que aceitar o inevitável é o melhor que se tem a fazer.
Já que, nem sempre, a fé remove montanhas, embora nos ajude a contorná-las, o impacto da doença para o enfermo e o grupo familiar precisa ser compreendido por todos que o integram, pois, abaixo de Deus, independentemente da forma como o vejamos, é a família que nos lega o necessário otimismo e a segurança para superarmos ou convivermos com as adversidades.
A hospitalização é um desafio não só para o paciente, como também para a família. Mas, por mais paradoxal que isso possa parecer, são nos dias mais doloridos que as oportunidades de amar se manifestam da forma mais bonita, pois quando uma lágrima cai, quem melhor a enxuga é o amor, principalmente o amor familiar.
Não é fácil amar na dor! Mas, mesmo diante das adversidades, o cuidado e a presença da família trazem segurança afetiva para o enfermo, tranquilizando-o e fazendo com que a tensão emocional seja minimizada. Afinal, como nos ensina Lya Luft, é nesse pequeno território, campo de nossos treinamentos como seres humanos, misto de amor e conflito, onde estão os verdadeiros amigos e os melhores amores.
Mais notícias
-
Artigos
13h07 de 08 de março de 2024
Qualidade de vida: as mulheres ainda estão em desvantagem. Até quando?
Texto de Leila Brito (foto)
-
Artigos
18h21 de 03 de março de 2024
A Procuradoria Geral da República e o Conselho Nacional do Ministério Público lideraram um [...]
Texto de Agusto Aras
-
Artigos
09h31 de 18 de fevereiro de 2024
Na escola, começamos mais um capítulo da Nova Bahia
Artigo do governador Jerônimo Rodrigues
-
Artigos
07h16 de 26 de dezembro de 2023
Mais presente, mais futuro
Artigo de André Curvelo
-
Artigos
14h34 de 04 de dezembro de 2023
Liberdade sempre. Responsabilidade também
Artigo de André Curvello
-
Artigos
16h07 de 14 de novembro de 2023
O Novembro Negro de todos os dias
Texto de André Curvello
-
Artigos
09h19 de 24 de outubro de 2023
Competência e coragem por uma medicina diagnóstica de excelência
Texto de Gileno Portugal, VP do Grupo Meddi, publicado no jornal A Tarde
-
Artigos
14h47 de 17 de setembro de 2023
O espírito de união da Pandemia precisa ser invocado no combate ao Crime Organizado
Artigo do médico e ex-secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas
-
Artigos
19h21 de 14 de setembro de 2023
Dia de Responsa: moderação é a palavra de ordem
Conhecer os seus próprios padrões de consumo e dominar dicas práticas sobre como beber com moderação tornam-se ferramentas essenciais para a prática do consumo responsável
-
Artigos
12h32 de 20 de julho de 2023
Fraude de energia: quem paga a conta?
Artigo de Fabrício Castro