Liliana Peixinho é jornalista, ativista social, integrante de diversos grupos de luta e defesa de direitos humanos. Fundadora e coordenadora de mídias livres como: Reaja – Rede Ativista de Jornalismo e Ambiente, Mídia Orgânica, O Outro no Eu, Catadora de Sonhos, Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente, RAMA -Rede de Articulação e Mobilização em Comunicação.
O país, os pais, o cuidado e o legado
Quando cuidado e amor se juntam, desafios se transformam em prazer, no fazer direito, sem pressa, em harmonia coletiva
Quando olhamos para o país e vemos o descaso com a Saúde, com a Natureza, com o patrimônio construído com o suor do trabalhador, e em meio a tudo isso, um faz de conta que cuida da vida, em garantia de direitos, lembro dos pais e suas lutas com filhos, que não valorizam o passado, como referência, e sofrem em gerações, por falta de cuidado e responsabilidade com a vida.
É muito triste ver um Brasil outrora rico, harmonioso, potente, ter que entregar sua riqueza, via commodities, por exemplo, a países que se estruturaram para explorar minérios, grãos, água, vento e tantos insumos, porque não tivemos a coragem e sabedoria de pensar em nos prepararmos, para, internamente, beneficiar nossa produção, em prol dos próprios brasileiros, usufruir dela e exportar, dividir, compartilhar os excedentes.
Em escala menor, e tão importante quanto, é a tristeza de ver pais mal cuidados, desdentados, em dores, sem poder mastigar; pais desestruturados, psicológica e emocionalmente, diante de desarmonias familiares, em função de posturas e decisões à revelia de um com e outro. Família é base para tudo e se não há consensos sobre essa ou aquela decisão, que haja respeito e valorização de fazeres históricos, que garantiram espaços e oportunidades para a construção da vida.
O cuidado, a prevenção, a preservação, o trabalho em amor e responsabilidade, exigem um fazer coletivo, com visão ampliada entre passado, presente e futuro. Desconsiderar qualquer um desses tempos é renegar esforços de vida dos que acreditaram na luta como instrumento de transformação. Um país que parece recomeçar do zero, a cada eleição, é como uma família esfacelada, sem rumo, sem boas referências para as futuras gerações. Quando cuidado e amor se juntam, desafios se transformam em prazer, no fazer direito, sem pressa, sem agonia, em harmonia coletiva, como o fazer indígena, por exemplo.
O egoísmo tem levado a humanidade
a negar-se a si própria
Dos estudos e vivências práticas em comunidades indígenas, iniciados a partir dos anos 1980, o que observamos é o interesse na sustentação da expansão sob o argumento da necessidade de crescimento e desenvolvimento econômico. Modelo que tem se mostrado predatório, desarmonioso, insustentável. O desperdício de energia, recursos, esforços, investidos em nome de um projeto, de um sonho, de necessidades prementes à nossa frente, histórica e cotidianamente, é traço de irracionalidade que o Ser Humano não merece. Seu potencial divino, extraordiário, para o realizar, com primazia, rigor, disciplina e responsabilidade, deveria ser suficiente para fazer da experiência, boa ou má, uma referência, um exemplo, para seguir em frente, em busca da harmonia entre o que foi, o que é, e o que poderá ser feito, para fazer valer a vida, em dignidade, conforto, segurança, bem viver.
O egoísmo, o fazer de conta, o não ouvir o outro, o cinismo, a ganância pelo poder, o consumo raso, a extravagância, tem levado a humanidade a negar-se a si próprio, como indivíduo, cidadão, filho, profissional, irmão, marido, mulher, pai, avô e um sem fim de relações construidas socialmente como forma de civilização.
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