Porque as empresas devem investir em felicidade?
Está mais do que comprovado que os modelos tradicionais de liderança orientada para resultados não funcionam mais
A história da humanidade começou com a luta do ser humano pela sobrevivência. Durante muitos e muitos anos vivemos a “Era do Fazer”. Nossos antepassados trabalharam duro na agricultura, na caça e na pesca. O trabalho era físico, pesado, básico e manual.
A partir da Revolução Industrial, iniciamos uma nova era, a “Era do Ter”, quando o ser humano começou a preocupar-se com a prosperidade material. As palavras de ordem foram: reengenharia, qualidade total, eficácia e eficiência, otimização de recursos, produtividade, supervisão, controle, comando, hierarquia, autoritarismo, e sistemas de recompensa. As principais motivações giravam em torno do status, do poder e do dinheiro.
As empresas começaram a produzir mais e os recursos materiais começaram a chegar a mais pessoas ao redor do mundo. Ao mesmo tempo acontecia uma nova revolução: a da tecnologia. Passamos a ter acesso fácil e rápido a qualquer tipo de informação e a novas formas de comunicação. Com suas necessidades básicas mais equacionadas e com uma consciência mais expandida, o ser humano começou a preocupar-se com o sentido da sua existência.
Hoje vivemos na “Era do Ser”, que prioriza a felicidade e o bem-estar, na qual o ser humano está em busca de algo mais além do material, a grande busca por propósito e espiritualidade. Depois de décadas tendo o dinheiro e os recursos materiais como incentivo e motivação dos seus colaboradores, as organizações inovadoras começaram a perceber que este modelo já não funciona mais.
Uma pesquisa realizada em 2007 pela OPP, consultoria britânica, em seis países europeus, revelou que até 60% dos respondentes escolheriam outra carreira se pudessem começar do zero. Já 31% deles mostraram seu descontentamento com o trabalho atual e um em cada cinco disse que nunca trabalhou em uma posição na qual pudesse usar suas principais qualidades.
Outro estudo realizado pelo Instituto Gallup, entre 2010 e 2012 nos Estados Unidos, indicou que apenas 30% da força de trabalho americana está participando ativamente nas posições que ocupam. Ou seja, 70% não atingem o seu pleno potencial e são amplamente subutilizadas. O estudo também aponta os elevados custos de empregados desligados e emocionalmente desconectados de seus empregos em termos de produtividade, lucratividade, satisfação do cliente, acidentes de trabalho e outras despesas correspondentes.
Uma pesquisa realizada no Brasil em 2013 pela Consultoria LeadPix, com mais de 4.200 profissionais em todo o país, descobriu que o que motiva os brasileiros no trabalho é ter um propósito. Desses, apenas 7% estão mais motivados por ganhos materiais.
A felicidade nos negócios ainda é
algo novo e pouco valorizado
Instalações adequadas, salários robustos e diversidade de benefícios para atender às diversas pesquisas de ambiente de trabalho foram muito importantes até agora, mas já não satisfazem as demandas das pessoas. Tudo isso ainda segue sendo importante, mas o anseio de encontrar um propósito e a chegada das novas gerações ao mercado de trabalho estão empurrando as empresas na direção de um tema há muito tempo negligenciado: a felicidade no trabalho.
Criar uma cultura de engajamento exige mais do que completar uma pesquisa de clima, avaliar os resultados, construir planos de ação e esperar que os líderes mudem seu comportamento diário por conta própria. Na empresa clássica, os funcionários eram seus meios, recursos importantes; na empresa moderna devem ser o seu fim, a sua prioridade. Este é o grande desafio dos novos tempos.
Está mais do que comprovado que os modelos tradicionais de liderança orientada para resultados não funcionam mais. Por outro lado, as empresas estão percebendo o forte impacto que a felicidade provoca no desempenho de seus funcionários e, portanto, em seus resultados. Mas a felicidade nos negócios ainda é algo novo, desconhecido e pouco valorizado.
O mundo também está se adaptando a esta nova Era. Temos um novo índice para medir o nível de desenvolvimento dos países, não só tendo em conta a riqueza material ou Produto Interno Bruto (PIB), mas também considerando o bem-estar dos indivíduos ou a Felicidade Interna Bruta (FIB) – índice criado em um pequeno país asiático chamado Butão, e recentemente adotado pela ONU.
Resumindo, as empresas precisam colocar mais “felicidade” em suas agendas estratégicas e seus modelos de liderança precisam ser transformados. Essa mudança deve basear-se em uma visão inspiradora, em um sentido maior de propósito, na valorização dos talentos e contribuições individuais, em mais saúde física, mental e emocional, mais relações de qualidade, mais amor, diversão, compreensão, otimismo, generosidade e gratidão.
Vale ressaltar que esse movimento não deve ser conduzido exclusivamente pelas empresas e seus líderes, mas também pelos seus empregados. Todo mundo tem que assumir essa responsabilidade. A ciência tem demonstrado que a felicidade depende de decisões individuais e que 90% dependem de cada pessoa. Apenas 10% dependem de condições externas.
Esse foi o tema de uma das palestras magnas do Conarh 2016, ministrada nessa última terça-feira, 16 de agosto, pela mexicana Nicole Fuentes, minha parceira de trabalho em temas de felicidade, há dois anos. Economista, com mestrado em ciências sociais pela Universidade de Columbia, Nova York, e mais de 15 anos de investigação em bem-estar social, Nicole apresentou dados científicos que sustentam a ideia de que cada vez mais, serão necessários colaboradores felizes para fazer empresas produtivas.
Esse é o novo cenário, cheio de oportunidades e desafios. Deixo aqui o meu convite para líderes, empresários e equipes de Recursos Humanos: não tem nada mais promissor no mundo de hoje, do que investir em “felicidade”.
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