Reflexões sobre respeito e responsabilidade no trânsito
Texto de Reinaldo Copello de C. Filho


Enfrentamos atualmente uma guerra mundial contra o coronavirus. Dentre milhões de mortos e feridos, tragédias e sobreviventes, sentimos que não há espaço para outro assunto. Embora seja a pandemia um assunto de imensa gravidade, vou pedir licença para tratarmos de outro tema neste meu artigo: o Maio Amarelo.
Esse mês de Maio, em todo mundo, é lançado o Movimento Maio Amarelo. Essa causa busca unir o poder público e a iniciativa privada em um único objetivo que é alertar para os milhões de vítimas de acidentes de trânsito no mundo. A OMS estima que no ano de 2021, em torno de 2 milhões de pessoas podem perder suas vidas por conta desses acidentes.
No país, estima-se que 50 milhões de pessoas, entre vítimas fatais e sobreviventes, já precisaram de atendimento hospitalar em razão desse tipo de acidente. Isso significa que por essa causa são gastos todos os anos do país 3% do Produto Interno Bruto. Em números: cerca de R$ 220 bilhões da União são utilizados para pagar os custos decorrentes dos acidentes de trânsito. Esse é um apontamento da Organização das Nações Unidas (ONU). Esse valor é tão significativo que corresponde a cerca de metade de tudo que foi gasto pela União com o combate ao coronavírus no ano passado, computando inclusive o auxílio emergencial a pessoas em vulnerabilidade e repasses adicionais a estados e municípios.
De acordo com o Observatório Nacional de Segurança Viária, as três principais motivações dos acidentes de trânsito estão relacionadas e podem ser agrupadas em “Fator Humano, Fator Veículo e Fator Via”.
Ainda segundo a entidade, 90% dos acidentes ocorrem por falhas humanas – que podem envolver desde a desatenção dos condutores até o desrespeito à legislação. Os exemplos são claros: excesso de velocidade, uso do celular, falta de equipamentos de segurança como o cinto de segurança ou capacete, o uso de bebidas antes de dirigir ou até mesmo dirigir cansado.
Por isso, esse ano, o mote da Campanha Maio Amarelo é “Respeito e Responsabilidade, pratique no trânsito”. Um mote, inclusive, que ultrapassa os trágicos números estatísticos de acidente de trânsito – que impreterivelmente devem ser sempre relembrados – mas, que não compõem unicamente os flagelos que esses altos custos causam no nosso cotidiano.
Este mote também faz uma reflexão das formas com que relações humanas e a sociedade interagem. Os códigos de conduta atuais que, ao invés de unir as pessoas, deixam mais em evidência a diferença entre elas. Não basta seguir leis e regras, e ter a conduta guiada pela égide da convenção, é necessário saber compartilhar espaços públicos e ideais, respeitando o espaço do próximo.
A resposta para o equilíbrio entre a ordem e a liberdade individual está no resgate de valores sólidos como a responsabilidade e o respeito ao próximo e às leis. Uma norma de conduta não escrita, mas que as gerações que nos antecederam já pregavam: “o seu direito termina quando o do outro começa”. Esse conceito é o que fundamenta o nosso ideal para o trânsito (e também para a vida). Respeito ao pedestre, às vagas destinadas às pessoas idosas ou com necessidades especiais, cuidado com os outros veículos no seu entorno, entre outros.
Em entrevista a Roberto Calil, o antropólogo Roberto Da Matta lembra que “quando tentaram obrigar as pessoas a usar cinto de segurança em 1985, não adiantou muito porque as pessoas tinham acabado de sair de uma ditadura e não queriam que o governo dissesse mais o que eles tinham que fazer. Mais tarde, nos anos 90, apesar dos lobbies e das restrições de alguns setores, acabou dando certo porque as pessoas já estavam prontas para a lei. Mudaram por causa da lei? Claro. Mas porque viram que o cinto realmente protegia, o que deveria ter sido posto em primeiro lugar; a lei estava atrelada a uma prática social, em vez de estar contra ela”.
Ele vai além, e peremptoriamente define que o trânsito a representação das diferenças culturais e serve índice de civilidade de seu povo. Ou seja, quando melhor o trânsito de uma cidade, mais desenvolvida socialmente é seu povo.
Por isso, neste ano que comemoramos a Cidade Centenária na nossa Santo Estêvão, conclamo você, leitor, neste Maio Amarelo, a refletir que a cidade que viverá e deixará para as próximas gerações será o reflexo dos nossos valores daqui por diante. Pratique o respeito e a reponsabilidade no trânsito e – também – na vida.
Reinaldo de Copello Cerqueira Filho é advogado e estudioso da área
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