Graduada e mestre em Relações Internacionais, com foco em Geopolítica; tem experiência em análises conjunturais para diversos institutos de pesquisa da PUC MINAS, Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade de Groningen, na Holanda; já trabalhou na pesquisa e redação de clippings e notícias para a base de dados CoPeSe, parceria com o programa de Voluntariado das Nações Unidas.
Publicado em 31/03/2025 às 10h54.
Salvador além de praia e carnaval: a importância das cidades para as relações internacionais
Texto de Júlia Cezana
Júlia Cezana

Internacionalmente, estereótipos de subdesenvolvimento, favela, pobreza, país do samba, futebol e carnaval são frequentemente atribuídos ao Brasil. Contudo, historicamente, o país sempre foi visto com grande potencial econômico exportador. Devido à sua localização geográfica, é considerado geopoliticamente e geoestrategicamente relevante no cenário internacional por ser entendido como a porta de entrada para a América Latina. A região em questão vem sendo de maior destaque e interesse nos dias atuais, devido às instabilidades política e econômica na Europa, América do Norte e Oriente Médio.
Nesse cenário, o mantimento de boas relações estratégicas são pontos chave na política externa de um país. Contudo, tais relações não compreendem apenas encontros presidenciais, diplomacia, embaixadas e reuniões nas Nações Unidas. As cidades têm ganhado cada vez mais espaço e força de atuação no cenário internacional, como influentes atores políticos e econômicos. A relação entre cidades de países diferentes, ou entre uma cidade e um ente federado configura o que chamamos de cooperação internacional descentralizada. Nela, há troca bilateral de recursos (econômicos, materiais), conhecimento, experiências, boas práticas e/ou expertise, com o objetivo de, na competência de cada ente, trazerem desenvolvimento socioeconômico e sustentável.
Nesse sentido, o mês de Março foi extremamente importante para Salvador, que recebeu Rashad Novruz, embaixador do Azerbaijão no Brasil. O interesse mútuo entre ambos os países é datado desde 1991 e se dá principalmente nos setores de tecnologia, agricultura, aviação civil, economia, agricultura, clima e meio ambiente. No dia 21 de Março, Novruz visitou a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB). Durante a visita, o Azerbaijão demonstrou interesse em identificar oportunidades de parceria e investimento na indústria baiana, com especial destaque para os setores de mineração, gás, energia e algodão. À Bahia foi oferecida a possibilidade de fortalecer seu setor agropecuário, através de uma maior exportação de animais vivos do Azerbaijão.
No dia 24, Novruz se encontrou com Geraldo Júnior, Vice-Governador da Bahia, os quais discutiram sobre cooperação nos setores de agricultura, educação e cultura. Durante sua estadia em solo soteropolitano, o Embaixador não apenas indicou um interesse em exportar mais produtos brasileiros, também foi discutido o intercâmbio de conhecimento, práticas e tecnologias no setor agrícola.
O Azerbaijão parece firme no desenvolvimento de futuras parcerias: Novruz sinalizou interesse para que haja avanços sólidos no desenvolvimento de acordos comerciais ainda no primeiro semestre de 2025. Até Julho, pretende-se firmar acordos de exportação de produtos como carne, tabaco e fertilizantes. Para além da economia, ambas as partes também demonstraram intenção de fortalecer cooperação no que tange à educação (com programas de capacitação profissional e intercâmbio acadêmico) e ao clima (especialmente com foco nas mudanças climáticas e na transição verde).
O clima vem se apresentando como um tópico mais presente na relação entre ambos os países. Não apenas pela urgência e relevância do tema no cenário internacional, mas também devido ao fato de que no ano passado o Azerbaijão sediou a COP 29 e neste ano, a cidade sede da COP 30 será Belém. Nesse sentido, o país Cáucaso se mostrou solícito em compartilhar os aprendizados existentes com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas ao Brasil, que se prepara para receber atenção e presença internacional em novembro. Com a COP no Brasil se aproximando, os principais desafios que serão enfrentados referem-se especialmente, no que diz respeito a conseguir maior transparência entre as partes e que haja um consenso entre todos os envolvidos a respeito da alocação de recursos financeiros direcionados à combater a crise climática. É urgente e necessário que todos os envolvidos consigam se comprometer a definir e implementar soluções concretas. Nesse cenário, Brasil e Azerbaijão defendem que haja, na COP-30, o pedido de um acordo de $1,3 trilhão anuais, com previsão de finalização em 2035, para apoiar países em subdesenvolvimento na luta contra a crise climática.
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