Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
São João: a mais brasileira das festas
Festejos em homenagem a São João, misturados às tradições indígenas e afro-brasileiras, tomam características particulares em cada região do país

É junho e a fogueira está queimando em homenagem a São João, em meio a bandeirinhas, quadrilhas, barraquinhas com brincadeiras e, principalmente, as gostosas comidas que ocupam uma parte central da festa. Mas qual a origem da festividade e da sua rica simbologia?
É sabido que os povos que habitavam a região da Europa Ocidental, até o século XIV, eram muito afeitos aos cultos solares e lunares originários de rituais pré-cristãos associados à vida agrícola e, dentre os seus mais importantes cultos solares, estavam o solstício de verão, dia com maior duração da luminosidade do sol (21 de junho), e seis meses depois, o solstício de inverno, dia de menor incidência da luz solar sobre o continente (21 de dezembro).
Nessa lógica, não foi sem sentido que a Igreja Católica, em seu esforço catequista para libertar os povos europeus dos cultos ancestrais, ressignificando as práticas pagãs relativas ao fogo, adotou esses marcos cósmicos como momentos dos nascimentos dos primos João e Jesus: o primeiro, perto do solstício de verão; o segundo, perto do solstício de inverno.
Como no período correspondente ao solstício de verão, comemorava-se a época da fecundidade das terras e colheitas, a população daquele continente costumava passar a noite ao redor de fogueiras, festejando a vitória da luz e do calor sobre a escuridão e o frio, na cultura cristã, estas passaram a representar o meio utilizado por Isabel, prima de Maria, mãe de Jesus, para avisá-la, em 24 de junho, do nascimento de seu filho, João Batista, o São João.
No Congresso, o maior São João do Brasil:
quadrilha o ano inteiro, laranjas e milhões
Apesar das dificuldades para que a população europeia associasse a festa do fogo e da luz ao culto a São João Batista, as fogueiras continuaram a flamejar, atravessando séculos e cruzando oceanos sem se apagar para que aqui, em terras tupiniquins, graças ao trabalho dos jesuítas, o festejo religioso se tornasse um acontecimento de sucesso.
Numa animação da moringa, entre fogueiras, balões, danças, brincadeiras, músicas, danças, licores variados e muita comilança, sempre sobram tempo e espaço para o santo. Afinal, São João é o único santo da igreja católica lembrado pelo dia do seu nascimento e não no da sua morte.
E foi assim, segundo Luciana Chianca, professora de Antropologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e autora do livro “A festa do interior” que, nas palavras de Roger Bastide, os festejos em homenagem a São João, multiculturais por origem, misturados às tradições indígenas e afro-brasileiras, tornaram-se “a mais brasileira das festas”, tomando características particulares em cada uma das diversas regiões do país.
Embora seja na região Nordeste que o evento tenha adquirido a sua maior expressão, há quem diga que, hoje em dia, é em Brasília, particularmente no Congresso Nacional, onde temos o maior São João do Brasil, pois lá tem quadrilha o ano inteiro, laranjas, pamonhas e muitos milhões, bombas, foguetes e balões, uma pirotecnia espetacular, muita gente se queimando, enquanto outros pulam fogueiras, em uma grande festança com o povo, sempre o primeiro a dançar, no final, pagando a conta.
Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
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