‘É desesperador’, diz gaúcha que acompanha de Salvador drama de familiares no RS
Jornalista Camila de Moraes, 37, relata que a mãe, irmão e outros parentes enfrentam escassez de água e alimentos em Porto Alegre
“Ver o que está acontecendo no Rio Grande do Sul é desesperador”, relata ao bahia.ba a jornalista e cineasta Camila de Moraes, de 37 anos, gaúcha que há 14 vive em Salvador e acompanha a distancia o drama de familiares em meio ao maior evento climático já registrado no estado desde 1941. Mais de 100 pessoas morreram em decorrência da catástrofe até então sem precedentes, segundo números que não param de crescer.
“Meu irmão, meu sobrinho, minha mãe e o restante todo da família estão no Rio Grande do Sul. Estou aqui de longe, acompanhando toda essa situação bem crítica. Os meus familiares estão lá e amigos também. A minha mãe acabou indo pra lá uma semana antes [do início das enchentes]. Agora ela não tem como retornar porque o aeroporto ainda está fechado. A maioria está na capital, em Porto Alegre, em um local onde a água ainda não chegou”, narra Camila, na expectativa que tanto parentes quanto pessoas próximas possam ficar em segurança.
Tomando pela água, o Aeroporto Internacional Salgado Filho está fechado por tempo indeterminado.
Sem a possibilidade de saírem de avião e com rodovias bloqueadas, o pai de Camila e a esposa dele só puderam deixar o Rio Grande do Sul três dias após encontrarem uma rota alternativa para chegar a Santa Catarina, onde estão atualmente. O casal estava no interior quando a tragédia eclodiu. Escaparam antes que o pior acontecesse.
“Eles estavam voltando de um festival de cinema em uma cidade chamada Bagé, onde estão anunciando que água também está chegando. E aí começou a acontecer tudo, e eles não conseguiram sair do Rio Grande do Sul. Somente há três dias, conseguiram pegar uma rota alternativa e conseguiram ir pra Santa Catarina”, detalha a jornalista, que tem uma irmã no Rio de Janeiro.
Embora parte dos seus esteja relativamente a salvo, a gaúcha se diz preocupada com outros familiares que moram em Patos. Situado a cerca de 200 km da capital, o município abriga uma lagoa homônima sob o risco iminente de transbordamento.
“Eu tenho família que mora muito próxima da Lagoa dos Patos, que está enchendo bastante. Já avisaram que vai transbordar daqui a pouco. E aí esses familiares estão procurando outro lugar para ir, porque eles moram muito próximo [à lagoa], a uma quadra de lá.”
Em Lomba do Pinheiro, bairro periférico da zona leste porto-alegrense, afilhados de Camila foram acolhidos em um abrigo improvisado. “Essa família mesmo dos meus afilhados está em um lugar chamado CPCA, que é um centro estudantil onde as crianças ficam em turno contrário [ao que estudam] na escola. Lá também está servindo de local para doações”, descreve a jornalista.
Escassez de água e alimentos
Camila afirma que, apesar da mobilização dos brasileiros para o envio de donativos, o acesso à água potável e alimentos é algo praticamente escasso. No bairro em que a família da jornalista está há luz elétrica, mas o temor é que tudo fique às escuras a qualquer momento.
“O que a gente tem recebido de relatos é que a energia elétrica está oscilando. Os alimentos estão mais caros nos supermercados. Estão faltando várias coisas. Água potável tem faltando muito pra comprar”, diz.
A jornalista afirma que as ações do poder público local, incluindo do governo Eduardo Leite (PSDB), têm pouco impacto em relação ao trabalho realizado por voluntários.
“A gente tem visto muito a população fazendo pela população, porque tanto a prefeitura quanto o governo do Estado. Infelizmente é uma tragédia que deveria ter sido evitável. É tipo: isso não precisava estar acontecendo, né? O tamanho dessa enchente, a calamidade que está. O caos que está aí que não parece ter retorno de melhoras. Parece que não vai melhorar em breve.]”.
Diante dos estragos que devastaram cidades inteiras no RS, Camila diz temer pela população mais afetada —em suas palavras, pessoas “negras e pobres”
“Há notícias dizendo que tem cidades que não têm nem como ser reconstruídas. Vão ter que mudar de local pra poder minimamente as pessoas se reorganizarem, porque não tem como reconstruir algumas cidades. É muito difícil ver famílias perdendo tudo. Nisso quem sofre mais são as pessoas em situações mais vulneráveis, que estão em locais onde a água chegou, perderam tudo, mas não têm condições de voltar”, lamenta a jornalista.
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