Publicado em 22/05/2016 às 11h40.

Jornal espanhol acusa polícia baiana de tortura e assassinato

Inácio de Jesus, 16 anos, foi abordado por viatura policial e asfixiado diversas vezes durante sessão de tortura; caso é investigado por Corregedoria

Redação
Foto: Reprodução El País
Foto: Reprodução El País

 

Inácio de Jesus, 16 anos, voltava para o lava jato do tio – onde trabalhava – de carona na garupa de uma moto quando foi parado por uma viatura com três policiais militares, mas não foi conduzido à delegacia. No entanto, ele e seu amigo foram levados a um um matagal, no entorno do presídio Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, e segundo a denúncia que é apurada, foi torturado durante horas no dia 27 de abril.

Conforme matéria publicada neste sábado no jornal El País, os detalhes das agressões vieram do próprio adolescente, que descreveu a sessão de agressões a sua mãe, assim que ela chegou em casa. Segundo o relato da mulher, uma desempregada de 35 anos que não teve o nome divulgado, o jovem sofreu várias tentativas de asfixia com uma sacola plástica, recebeu golpes no corpo todo sem marcas externas e foi desafiado a escolher entre um pedaço de madeira fino e outro mais grosso para ser abusado pelos policiais.

Com o reforço de mais uma viatura, os policiais levaram os jovens até suas casas, onde teriam vasculhado tudo, sem mandado judicial, em busca de armas e drogas que, segundo seus familiares, não existiam. Os agentes, porém, disseram ter achado uma pistola e com ela pegaram Inácio para levá-lo, quatro horas depois da abordagem, até a delegacia. Algemado a uma barra de ferro e obrigado a ficar de pé, o menor de idade passou a noite preso em uma cela comum, o que viola o Estatuto da Criança e do Adolescente.

“O menino andava torto, tinha as pernas inchadas de ter passado a noite inteira de pé, e dois dias depois começou a passar mal. Estava com falta de ar. Levei-o ao médico”, disse a mãe. No primeiro atendimento em um posto de saúde, Inácio recebeu remédio e foi dispensado, mas nos dias seguintes não conseguia respirar. Em 2 de maio ele foi internado em um hospital e morreu quatro dias depois.

Segundo o médico explicou à família, o menino tinha uma lesão na traqueia, que tinha afetado o esôfago e comprometido os pulmões, lesões supostamente associadas às tentativas de asfixia que Inácio sofreu. No primeiro informe, ao qual o El País teve acesso, o médico constatou que o garoto havia sido vítima de agressões e apresentava um “enfisema subcutâneo na região cervical”, normalmente associado a uma lesão pulmonar que permite que o ar escape dos pulmões para se infiltrar embaixo da pele.

Corregedoria – “Meu filho não era errado, mas mesmo que fosse eles não teriam esse direito de fazer o que fizeram com ele”, reclama a mãe, que resolveu denunciar o caso, ainda com o garoto no hospital, à Corregedoria da Polícia, órgão fiscalizador da corporação. “Eles nos advertiram que sabiam onde a gente morava, mas eu denunciei. Antes dele morrer. Só não deu tempo de salvar a vida dele”, afirma. De acordo com a reportagem, os seis policiais envolvidos continuam trabalhando normalmente. O relato da mãe de Inácio foi complementado pelo amigo que sobreviveu às agressões.

De acordo com último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 3.009 pessoas foram mortas pela polícia brasileira em 2014. A Bahia ostenta o terceiro lugar nesse ranking, após São Paulo e Rio de Janeiro. Questionadas, tanto a Corregedoria quanto a Secretaria de Segurança Pública de Bahia não se pronunciaram sobre o caso de Inácio.

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