Publicado em 25/11/2015 às 16h12.

‘Lobo solitário’, brigadista preso na Chapada nega ser incendiário

Terra Orestes fala com exclusividade ao bahia.ba e atribui sua prisão à perseguição desencadeada por adversários que não aceitam sua atuação individual

Elieser Cesar
 José Orestes, o Terra Orestes,se diz vítima de perseguição por atuar sozinho como brigadista/Acervo pessoal
José Orestes, o Terra Orestes, se diz vítima de perseguição /Fotos: Acervo pessoal

Preso na segunda-feira por bombeiros de Brasília, sob a acusação de incendiar a mata na região da Chapada Diamantina, e liberado logo depois de ser ouvido na Delegacia de Polícia de Lençóis, o empresário e ecologista José Orestes Macedo Moura, o Terra Orestes, de 53 anos, se diz vítima de perseguição por vir atuando sozinho como brigadista.  Em entrevista exclusiva ao bahia.ba, Terra Orestes negou as acusações e informou que foi preso por uma capitão e um tenente do Corpo de Bombeiros de Brasília, enviados para ajudar a combater o incêndio que já consumiu uma área equivalente a mais de 30 mil campos de futebol na região.

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Orestes: lobo solitário, no combate ao fogo

Segundo Terra, os oficiais o encontraram sozinho na mata e passaram a acusá-lo de incendiário. Depois, o levaram para a delegacia e como a acusação parece não haver pegado, diante da reação de muita gente na cidade, passaram a acusá-lo de desacato à autoridade. O empresário acha que sua atuação de lobo solitário, como ele mesmo define, tenha desagradado alguns brigadistas e mesmo bombeiros.

Terra Orestes nega que tenha ateado fogo na mata e garante que, pelo contrário, trabalha sozinho há 12 dias, até 16 horas por dia, no combate ao incêndio na Chapada. Na segunda-feira (23), dia em que foi preso, ele postou em seu perfil no Facebook sobre a atividade, que já atraiu cerca de 150 brigadistas voluntários para a região: “Amigos, hoje foi o 11º dia de combate, debelamos uma linha gigante, trabalhei sozinho na ponta de cima da linha até encontrar com o grupo de baixo. Via, a serra toda escura. Amanhã vou para o Morro Branco no Capão”

O empresário e ecologista acha que também está sendo perseguindo por haver apontado o que considera inépcia dos bombeiros vindos de fora no combate ao fogo. “Quem já viu combater o fogo das 8h às 15h, no período em que sol está bem mais quente, como os bombeiros vêm fazendo? Isso é contraproducente e só ajuda a alimentar o incêndio”, diz Terra Orestes. Ele se gaba de sozinho ter apagado um grande foco de incêndio na serra, esta semana “Ao invés de ser preso e estar sendo acusado injustamente, eu deveria receber uma medalha pelo trabalho de lobo solitário que venho fazendo”. assinala.

“Se for necessário, conseguirei

um milhão de assinaturas

para desmascarar esta farsa”

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Brigadista recebe apoio no Facebook

Terra Orestes dedicou esta quarta-feira a recolher assinaturas para um manifesto no qual pretende atestar sua dedicação de brigadista voluntário e sua atuação na defesa e na preservação do ecossistema na Chapada Diamantina. “Se for necessário, conseguirei uma milhão de assinaturas para desmascarar esta farsa”, exagera.

Mensagens de solidariedade não têm faltado na página do Facebook de Terra Orestes Moura. Tão logo circulou na região a notícia de sua prisão, começaram as postagens que expressavam perplexidade e apoio. O internauta Cláudio Villas Boas, por exemplo, escreveu: “Conheço Terra há muito tempo, sempre ligado às causas ecológicas. É absurda a acusação de que ele estaria ateando fogo na Chapada Diamantina. Quem acredita nisso? Estão tentando colocar a opinião pública contra ele. Só não esperavam que Terra fosse um notório ecologista, pois toda a população o conhece como defensor a natureza”.

Já Paulo Gusmão, do Vale do Campão, entoou; “Terra Orestes Moura foi morador da Campina Vale do Capão e sempre participou das mobilização de combate a incêndio na Chapada Diamantina”. Sabrina Cristina Martins desabafou: ‘Parem de propagar mentiras. Não têm o que fazer? Vão ajudar na brigada mais próxima”. Suzana Matos foi romântica: “Te amo revolucionário do amor”. Selma Marsson emendou: “Nosso querido Terra é um dos maiores defensores da Chapada Diamantina, sempre pronto a proteger aquelas matas e paisagens. Não sei quem está por trás dessa infâmia”.

Carlos Formiga também deu seu testemunho: “Terra Orestes é um dos pioneiros na defesa da Chapada Diamantina e do Parque Nacional da Chapada Diamantina”. Natural de Tucano nos semiárido baiano, Terra Orestes Moura, se mudou há 30 anos para a Chapada. Na praça principal de Lençóis, a Horácio de Mattos, ele mantém a empresa Terra Chapada Expedições, que oferece turismo radical, com caminhadas e trilhas de bike, para mostrar as maiores atrações da região. Na noite de terça-feira, a chuva caiu no Vale do Capão, no município de Palmeiras, animando os brigadistas.

Defesa – Defensora de Terra Orestes, a advogada Roberta Ribeiro acredita que o caso de seu cliente deverá terminar num termo circunstanciado (para delito de menor potencial ofensivo), mas espera que o inquérito seja encaminhado ao Ministério Público Federal, já que o suposto crime foi cometido num parque nacional. “Como é que Terra pode ser um incendiário se foi um helicóptero dos Bombeiros que o levou para a serra para combater a linha de fogo? A cidade que o conhece não acredita nesta história”, argumenta a advogada.

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