83% das mulheres jovens afirmam ter filiação religiosa, apesar de dúvidas geracionais
Público feminino com 20 anos ou mais segue firme na fé, mesmo diante de uma série de relatos sensíveis.

Um mapeamento da World Population Review identificou cerca de 192 milhões de brasileiros adeptos à algum tipo de religião, segundo o ranking “Religious People by Country 2025”. Segundo a pesquisa, até o início da década, o número de fiéis convertidos ao ‘cristianismo’ se manteve esmagadora, reunindo uma parcela de 185 milhões de devotos em todo o Brasil.
Ao redor do mundo, a Pew Research Center mostra, por meio de uma análise realizada em 192 países e territórios, que o grupo de homens e mulheres com 20 anos ou mais de idade não esmoreceu a fé com o passar dos anos. Segundo o relatório The Future of World Religions, 83,4% das mulheres nessa faixa etária afirmam ter uma filiação religiosa, enquanto entre os homens o índice é de 79,9%.
Apesar da majoritariedade de mulheres que pertencem às comunidades religiosas, o aprofundamento histórico das práticas sacras no público feminino escancara uma série de relatos sensíveis, à exemplo dos encarceramentos paternalistas em conventos, invisibilização intelectual, limitações nos papéis sociais, imposições rígidas de condutas e exclusão dos espaços de liderança.
Diante das condutas conflitantes que envolvem a fé, o imaginário popular acerca de conventos e procissões se tornaram alvos de análises e reflexões na literatura, cinema e exposições nacionais. Clássicos como ‘Spotlight: Segredos Revelados’ (2015), do diretor Tom McCarthy, alcançaram a cinematografia, enquanto a obra ‘A Mão Esquerda de Deus’, de Paul Hoffman, alcança a literatura através de trechos memoráveis.
Com a oportunidade de revisitar o passado, essa mesma inquietação ressurge em solo brasileiro com a exposição “Lounge da Renúncia”, assinada pelo arquiteto Hugo Ribeiro. Longe de ser um mero exercício de memória, o espaço imersivo de 125 m² dialoga com o imaginário internacional ao ocupar a histórica Casa Nossa Senhora das Mercês, no coração do antigo Convento das Mercês, construído em 1735. O espaço projetado para fé, reflexão e livre-arbítrio se assemelha ao fictício santuário de Paul Hoffman, ao causar espanto justamente por não ser convidativo ao “refúgio divino e à redenção”, mas sim às memórias ancestrais de fé, renúncia e resistência.
Tradicionalismo religioso e o impacto no público feminino
Segundo o estudo “Religion and gender inequality: The status of women in the societies of world religions” publicado na ResearchGate, a complexidade ao redor de questões, normas e tradições religiosas podem ter contribuído para a formação da desigualdade de gênero e subordinar o papel das mulheres na sociedade.
É nesse sentido que o arquiteto Hugo Ribeiro relata o impacto do olhar feminino acerca do lounge. Entre os relatos, Hugo afirma que um misto de angústia, subordinação, resistência, renúncia e pertencimento cerca às visitantes, reverberando memórias e provocando arrepios junto às obras que compõem o espaço. Entre os destaques apontados pelo público, estão a imagem barroca de Nossa Senhora da Conceição com 1,20m; a pintura “Vertigem”, assinado por Luis H. Lunardelli; o mobiliário sacro; a música gregoriana ao fundo a instalação artística que leva o nome de “Penitência”.
“A maioria das reações envoltas em emoção e arrepios vieram, até agora, do público feminino. Mesmo persistentes na fé, as mulheres compreendem o processo do espaço com mais facilidade do que os homens. E quando chegam na salinha lilás (Penitência), é quando elas mais se identificam. Algumas das visitantes, principalmente as de idade avançada, sentem tanta angústia que simplesmente não conseguem permanecer no espaço, e isso vale ser considerado, porque arte é isso”, explica o arquiteto.
Parafraseando o escritor Oscar Wilde, Hugo recorda da frase que se assemelha à sua exposição “É o espectador e não a vida que a Arte realmente reflete”. Na concepção do arquiteto, o ambiente é intencional para provocar o sentimento de renúncia e penitência humana, mas não sem antes relembrar as práticas controversas de um convento. “E nada melhor do que um próprio convento para dialogar arte, história e renúncia. Meu espaço não é comercial, fiz intencionalmente. Meu intuito é manter a arquitetura do local e mostrar como conseguimos transformá-lo. Não houve troca de piso e do forro; revitalizei a escada, entrei com mobiliário e uma parede de drywall, e mexi apenas na iluminação. O próprio ambiente tratou em trazer à tona a memória ancestral dessas mulheres”, comenta.
Apesar do contexto, Hugo explica que o lounge é amplamente convidativo aos questionamentos, e até os livros que deixou na mesa de centro são artifícios para despertar questionamentos. O profissional explica que, dentro do antigo Convento das Mercês, ao se deparar com a placa “Renúncia” ou a imagem do padre e da mulher pecadora, as indagações logo aparecem junto à autorreflexão da fé secular.
“O lounge é um lugar onde o sagrado e o desconforto dividem o mesmo banco. Nada aqui é feito para agradar, ainda mais quando o espectador entra pela ‘salinha lilás’. Ali, na ‘Penitência’, a dor reverbera das memórias históricas do convento e da percepção única de seu espectador. Nada é por acaso, nem mesmo o milho jogado no que já foi um piso de castidade É como se a arquitetura do convento, os objetos sacros e as obras falassem por si. Eu apenas escutei e organizei. O resto, o espaço entrega”, explica.
Ideias e composição artística acerca do “Lounge da Renúncia”
Segundo Hugo Ribeiro, a composição artística do espaço e a ideia da ‘renúncia’ emergiu com força já na primeira visita ao convento. “Foi algo muito intenso. Vim de uma família evangélica e passei por um processo difícil de autoconhecimento e aceitação como homem gay. Sair desse ambiente religioso foi doloroso, e talvez a renúncia tenha surgido exatamente dessa travessia pessoal”, explica.
A instalação artística ocupa atualmente a CASACOR Bahia 2025, recebendo uma amplitude de públicos à fim de tensionar o silêncio em torno dos corpos dissidentes na religião. “Durante essa primeira semana da CASACOR, tivemos muitas conversas com o público. Algumas pessoas compreendem de imediato o espaço, outras precisam de uma mediação, mas todas se sentem atravessadas de algum modo. A ‘TRIA Galeria de Arte’, nosso parceiro de longa data, entrou no projeto e conseguimos formular um espaço que conversa para além da decoração, com alma, e uma pitada de desconforto”, provoca Hugo.
Na visão do produtor visual, as obras selecionadas também cumprem esse papel de desconstrução. Para tanto, integram o espaço três pinturas dramáticas do artista visual baiano Artur Rios, entre elas, o destaque da edição “nome da obra”. Há também a obra “Vertigem”, do próprio Luis H. Lunardelli, que dá vida à angustiante mulher de quatro olhos. Hugo ainda destaca a escultura colaborativa com o Studio L, feita com pedra natural e couro, simbolizando prisão, liberdade e poesia.
O conjunto de artistas e peças se organiza para formar uma narrativa em camadas, com gravuras de Emanoel Araújo, paisagismo da HORTAKI, tapeçarias de Renan Estivan, além das obras de Ana Serafim, Diogo Miranda, Adilson Santos, Oscar Brasileiro, Eduardo Custódio, Cris Grigoletto (TRIA), Mobiletti Atelier e Arthur Fraga.
A visitação ao Lounge da Renúncia e aos demais ambientes da CASACOR Bahia 2025 acontece até o dia 7 de setembro, integrando a programação cultural da cidade e provocando o Brasil com experiências marcadas pela profundidade e pela subjetividade que atravessam a arquitetura.
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