Publicado em 16/11/2025 às 11h30.

Pesquisadores identificam primeiras evidências de dinossauros na Amazônia

Pegadas com mais de 103 milhões de anos foram encontradas na Bacia do Tacutu, em Roraima

Redação
Foto: Reprodução/ Agência Brasil

A presença de dinossauros em diferentes regiões do Brasil já é conhecida pela ciência, mas faltavam evidências de que esses animais também habitaram a Amazônia. Agora, pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) identificaram, pela primeira vez, indícios de que dinossauros viveram na região há mais de 103 milhões de anos.

Os principais vestígios são mais de dez pegadas da era jurássico-cretácea encontradas na Bacia do Tacutu, no município de Bonfim, norte de Roraima. Embora não seja possível determinar exatamente quais espécies as produziram, as marcas indicam a presença de grupos como raptores, ornitópodes — bípedes herbívoros — e xireóforos, que possuíam uma espécie de armadura óssea nas costas.

Desafios da região

A Amazônia costuma registrar poucas descobertas paleontológicas porque suas rochas sofreram intensa exposição e intemperização, processo que provoca desgaste e dificulta a preservação de fósseis. Segundo o pesquisador Lucas Barros, responsável por identificar a pegada, a preservação ocorre apenas quando as rochas permanecem soterradas.

“O Tacutu seria um vale com diversos canais de rios que fluíam juntos. Era uma área muito úmida e com abundante vegetação”, explica Barros, que concluiu um mestrado sobre o tema na Unipampa. Nessas condições, a pegada endurece e resiste ao soterramento, solidificando-se ao longo de milhares de anos até se transformar em rocha.

A existência de áreas de cerrado na Bacia do Tacutu também favoreceu a preservação. A vegetação mais baixa permitiu a exposição de afloramentos rochosos, possibilitando a descoberta de icnofósseis — vestígios de organismos — além de troncos fossilizados e impressões de folhas.

Uma descoberta atrasada por 11 anos

As pegadas foram registradas inicialmente em 2014, durante uma atividade de campo da UFRR coordenada pelo professor Vladimir Souza. Naquele momento, a universidade não possuía especialistas nem equipamentos adequados para análise, e o estudo acabou suspenso.

“Se divulgássemos naquela época, outras pessoas poderiam tomar a pesquisa”, afirma Souza.

O trabalho foi retomado apenas em 2021, quando Barros transformou a investigação em seu projeto de mestrado, orientado pelo professor Felipe Pinheiro, da Unipampa. Ele iniciou o mapeamento dos icnofósseis da região utilizando fotogrametria, técnica que gera modelos 3D de alta precisão das pegadas.

Próximos passos da pesquisa

Barros acredita que a Bacia do Tacutu abriga centenas de pegadas ainda não estudadas. Atualmente, ele pesquisa marcas encontradas na terra indígena Jabuti, onde já foram identificadas quatro áreas de relevância científica.

Parte dos vestígios está em propriedades privadas, o que limita o trabalho dos pesquisadores. Segundo Barros, alguns fazendeiros temem que estudos paleontológicos resultem em demarcações de terras ou conflitos fundiários, o que impede o acesso pleno às áreas com potencial fossilífero.

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