Publicado em 23/04/2024 às 20h02.

Diretor do Goldman diz que mercado estava certo ao suspeitar que metas fiscais não eram críveis

Alberto Ramos afirma que governo considera gasto público como um instrumento essencial para o crescimento econômico

Redação
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

 

A mudança das metas fiscais na semana passada prova que o governo deseja gastar mais para aquecer a economia e que o mercado estava certo ao duvidar da trajetória de resultados primários apresentada pelo Ministério da Fazenda, afirma em entrevista ao Estadão/Broadcast, o diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do banco americano Goldman Sachs, Alberto Ramos.

Durante a entrevista, Ramos alertou que ainda há o risco de uma mudança na meta de 2024, de déficit zero, e até na de 2025, alterada de um superávit de 0,5% do PIB para resultado nulo. E essa incerteza na seara fiscal, segundo o economista, pesa sobre o rating soberano do País.

“O tema fiscal e o baixo crescimento potencial da economia, o baixo crescimento da produtividade na economia, são os dois fatores que provavelmente atrasam um pouco a obtenção do grau de investimento”, afirma.

Segundo o Estadão, de acordo com Ramos, a mudança das metas fiscais nunca foi uma sinalização do governo em mostrar disposição para fazer um ajuste fiscal.

“Esse compromisso nunca existiu de maneira séria. O mercado nunca acreditou, nunca deu valor a esse arcabouço como âncora fiscal. Se o objetivo era que funcionasse como âncora, falhou, porque a percepção do mercado é que vamos ter déficits primários a perder de vista. Essas revisões da meta provam que o mercado estava certo ao suspeitar que as metas não eram críveis”, continua o diretor do banco Goldman.

O Estadão acrescenta que ao ser questionado sobre a possibilidade de afastamento de investidores estrangeiros após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmar que o mercado pode começar a se debruçar mais sobre o problema fiscal, devido ao aumento da dívida global, Campos não descartou a possibilidade.

“Até pode ser que não afaste, mas é um ponto de vulnerabilidade. Se muda o cenário externo e, de repente, há uma preocupação maior com a dinâmica fiscal a nível global, e os juros globais começam a subir por causa de prêmio de risco, isso vai bater no Brasil. E o Brasil, nesse quesito, começa em uma posição de debilidade: tem déficits primários, dívida alta e que continua a crescer e uma carga tributária que já é muito alta. Desde a PEC da transição, a carga tributária tem aumentado significativamente e não para gerar primário, mas para suportar gastos. Isso é complicado porque não resolve o problema e, à medida em que você aumenta a carga tributária, fica com menos margem para lidar com um problema no futuro”, complementa.

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