Mercado de trabalho ainda segue afetado pela pandemia
Taxa de desocupação ficou em 15,1% e Ipea vê perspectiva de recuperação ainda neste ano
A melhora da atividade econômica e o crescimento da população ocupada não foram suficientes para reduzir o impacto provocado pela pandemia da covid-19 no mercado de trabalho, que segue com alta no desemprego, subocupação e desalento. A avaliação faz parte da análise do desempenho recente do mercado de trabalho e perspectivas para 2021 apresentado, nesta segunda (28), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), em março, o estudo mostra que a taxa de desocupação ficou em 15,1%, o que representa 2,3 pontos percentuais acima do resultado do mesmo período do ano anterior. O crescimento do contingente de desalentados também indica que o mercado de trabalho não se recuperou. Nos últimos 12 meses, o número de pessoas com idade de trabalhar que estavam fora da força de trabalho por conta do desalento avançou de 4,8 milhões para quase 6 milhões, uma alta de 25%.
Desemprego
Segundo a pesquisadora do Grupo de Conjuntura do Ipea e autora do estudo, Maria Andréia Lameiras, os níveis de desemprego ainda estão ruins porque a cada dia que passa, mais gente volta para o mercado de trabalho para procurar emprego, o que não ocorria no período inicial da pandemia.
“Muita gente deixou de procurar emprego por medo de contágio, porque sabia que a situação econômica estava muito ruim e a probabilidade de conseguir um emprego era muito pequena e porque existiu o auxílio emergencial que, bem ou mal, deu segurança ao trabalhador de ficar em casa se protegendo e ter algum meio de subsistência”, informou em entrevista à Agência Brasil.
A movimentação da economia que apresentou sinais de melhora no primeiro trimestre de 2021, o avanço da vacinação e o valor menor do auxílio emergencial, segundo Maria Andréia, estão fazendo as pessoas procurarem mais o mercado de trabalho o que vai continuar impactando o nível de desemprego.
“Todas as pessoas que ficaram desempregadas na pandemia e, também têm chegado para este contingente, as pessoas que estavam inativas e sem procurar emprego. Quando chega ao mercado de trabalho sem uma colocação é considerado um desempregado e, por isso, o contingente de desempregados continua crescendo e vai continua crescendo, porque o movimento de retorno só tende a crescer nos próximos meses”, afirmou.
Informalidade
O estudo indica ainda que a recuperação da ocupação vem ocorrendo de maneira mais intensa entre os empregados sem carteira e os trabalhadores por conta própria, que integram os segmentos informais do mercado de trabalho. O contingente de trabalhadores sem carteira e por conta própria registraram recuos menos expressivos no primeiro trimestre de 2021 com retrações de 12,1% e de 1,3% respectivamente, do que no trimestre móvel encerrado em agosto de 2020, quando os recuos foram de 25,8% e de 11,6%. Para a pesquisadora, a melhora da recuperação da ocupação pelos informais já era esperada.
“Porque primeiro foi o segmento mais afetado pela pandemia que foi o de serviços e de comércio. Segundo porque a gente já tinha visto que a pandemia causou menos estrago no setor formal. O emprego com carteira acabou sendo um pouco mais preservado durante a pandemia, porque é o trabalho com melhor qualificação, o trabalhador consegue fazer home office, então, foi de fato mais preservado. O informal foi mais atingido e é compreensível que, na retomada, acabe liderando”, comentou.
A pesquisadora destacou que, embora apresentasse sinais de recuperação no período de pré-pandemia, a situação do mercado de trabalho não era excepcional.
“Vem a pandemia e piora ainda mais, sendo que a gente já estava partindo de um ponto que não era excepcionalmente bom. Só que, quando a gente olha a foto do último trimestre, há indícios de melhora, porque a gente está vendo que a ocupação que caiu fortemente no segundo semestre, ela já começa a melhorar, claro que quando compara com o número de ocupados de um ano atrás a gente ainda está com taxa de negativa, mas quando olha a margem essa taxa negativa está cada vez menor”, disse.
Mais atingidos
A análise mostrou ainda que, no primeiro trimestre de 2021, se comparado ao mesmo período de 2020, a taxa de desocupação foi maior para as mulheres (17,9%) do que para os homens (12,2%). Além disso, os mais jovens seguem como os mais prejudicados, com taxa de desocupação de 31%; enquanto o desemprego dos mais idosos é menor (5,7%). Na escolaridade, os trabalhadores com ensino médio incompleto e completo foram os mais impactados pela pandemia na relação com as taxas de desocupação, que avançaram de 20,4% e 14,4% para 24,4% e 17,2%, de 2020 para 2021, respectivamente. Já os trabalhadores com menor taxa de desemprego, no período, foram os que possuem ensino superior (10,4%).
Nas regiões, a alta do desemprego foi generalizada. Com exceção de Roraima e do Amapá, todas as unidades da federação registraram aumento da desocupação este ano. As maiores taxas ficaram com Pernambuco (21,3%), Bahia (21,3%), Sergipe (20,9%), Alagoas (20%) e Rio de Janeiro (19,4%).
Perspectivas
O cenário é favorável para 2021, de acordo com a economista Maria Andreia Lameiras. “Para os próximos meses, a expectativa é que o movimento de recomposição da força de trabalho se intensifique. O avanço da vacinação combinado à retomada mais forte da atividade econômica deve ampliar a geração de empregos”, destacou.
A expansão da ocupação, entretanto, não será suficientemente forte para reduzir a taxa de desemprego no período devido ao esperado aumento da força de trabalho (com mais pessoas procurando emprego).
Pré-pandemia
A pesquisadora acredita que, mantido o cenário atual, o mercado de trabalho poderá voltar ao nível pré-pandemia no primeiro trimestre de 2022.
“No primeiro trimestre de 2022, acho que a gente volta para o nível pré-pandemia. Mantido o cenário atual. A gente está imaginando que não vai ter nenhuma grande variante [de covid-19], nenhum distúrbio político no país. A gente está imaginando com as informações que tem hoje de uma economia que está ganhando força. Tudo leva a crer que a gente vai ter a ocupação aumentando no segundo semestre e no primeiro trimestre do ano que vem, de maneira que a gente deve pensar o primeiro trimestre de 2022 próximo do patamar que a gente tinha”, completou.
Mais notícias
-
Economia
19h05 de 28 de novembro de 2024
Dólar fecha em R$ 5,98, e Ibovespa recua em meio à reação do mercado ao pacote fiscal
A valorização refletiu a reação dos investidores ao pacote de corte de gastos anunciado pelo governo federal
-
Economia
18h09 de 28 de novembro de 2024
Black Friday: Especialista dá dicas sobre como comprar com segurança em sites
Professor do curso de Ciência da Computação e estrategista digital, Marcos Leite, explica os cuidados essenciais para não cair em golpes
-
Economia
17h45 de 28 de novembro de 2024
Presidente da Febraban diz que pacote fiscal anunciado está ‘na direção certa’
A federação sinalizou “pontos de atenção”, como a não inclusão de uma revisão dos pisos dos gastos com saúde e educação, com "crescimento acima dos limites do arcabouço”
-
Economia
17h35 de 28 de novembro de 2024
Black Friday: Amazon tem cupons de desconto para iPhone, Le Creuset, livros e mais
Na véspera, o índice já tinha caído 1,73% antes do anúncio
-
Economia
17h12 de 28 de novembro de 2024
Ibovespa cai e perde 126 mil pontos, com mercado desaprovando pacote fiscal
Na véspera, o índice já tinha caído 1,73% antes do anúncio
-
Economia
17h03 de 28 de novembro de 2024
Centrais sindicais aprovam pacote fiscal e criticam mercado financeiro e imprensa
As centrais também criticaram a pressão do mercado financeiro e parte da imprensa por pressão ao Governo Federal
-
Economia
16h15 de 28 de novembro de 2024
Produção de etanol do Brasil cresce com impulso do milho
Segundo a Conab, o rendimento do cereal deve avançar para 119,81 milhões de toneladas na nova temporada
-
Economia
15h47 de 28 de novembro de 2024
Mercado imobiliário baiano se reúne em Praia do Forte para 34ª Convenção Anual da ADEMI-BA
Evento reunirá especialistas para analisar o cenário de 2024 e debater expectativas para 2025
-
Economia
13h47 de 28 de novembro de 2024
BC não consegue vender todos os contratos de swap cambial com forte queda do real
Banco Central vendeu 1.000 contratos de swap cambial para 2 de maio de 2025 e outros 13.500 contratos de swap cambial para 1º de outubro de 2025
-
Economia
13h35 de 28 de novembro de 2024
Ibovespa Futuro cai com reação ao pacote fiscal em dia de feriado nos EUA
Haddad anunciou na noite de quarta-feira as principais medidas do pacote de corte de gastos