Publicado em 30/10/2025 às 11h37.

A arte originária de Juvenal Payayá e Artur Soar chega a Salvador

Mostra reúne obras que dialogam sobre ancestralidade, território e resistência

João Lucas Dantas
Fotos: Divulgação/ Assessoria

 

Direto de Lençóis (BA), a exposição Olhares de um povo que re-existe em nós estreia em Salvador hoje (29), reunindo obras do artista visual Artur Soar e os Rabiscuitos do cacique Juvenal Payayá. Nascidos na Chapada Diamantina, os artistas apresentam trabalhos que traduzem a força simbólica, espiritual e política da arte originária.

A mostra, que nasceu do duo entre Artur Soar e o cacique Juvenal Payayá, estará em cartaz no Restaurante Recôncavo, na Barra, até o dia 23 de dezembro. A visitação é gratuita, das 11h às 21h.

A curadoria da mostra ressalta o diálogo entre dois modos de criação distintos, mas igualmente potentes. Segundo Marjorie Nolasko, coordenadora do Campus Avançado da Chapada Diamantina da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e idealizadora do encontro, o projeto nasceu do desejo de aproximar linguagens e mundos que se reconhecem na resistência.

“A grandeza do artista que divide o espaço com o ‘rabiscador’, como se define Juvenal Payayá, está na humildade de quem cria com propósito. Ambos afirmam: estamos aqui! E estamos rebrotando, nos reorganizando, retornando e retomando”, destaca Nolasko.

Sobre Artur Soar

Nascido em Salvador e criado em Lençóis, Artur Soar teve na infância suas primeiras influências artísticas. É bacharel e mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), com pesquisa voltada para o uso da ardósia da Chapada Diamantina como matriz de gravura.

Premiado e reconhecido, Soar mantém sua galeria na Rua Boa Vista, 196, em Lençóis, onde expõe e comercializa suas obras. Artur é também músico, compositor e cordelista. Fez a ilustração da capa da série Vidas em Cordel, do Museu da Pessoa, de São Paulo.

Em 2022, foi um dos artistas premiados no 64º Salão de Artes Visuais do Estado da Bahia com a série Pretos, na qual destaca o compositor cachoeirano Matheus Aleluia.

Sobre o cacique Juvenal Payayá

Líder espiritual e escritor, Juvenal Payayá acredita que a terra não é propriedade, mas um ser vivo que preserva e sustenta outras vidas. Sua escrita e seus “rabiscos” nascem da escuta da natureza e da reconexão com os ciclos naturais.

Em sua trajetória, combate o avanço predatório sobre as serras e florestas e denuncia a desconexão humana com o ambiente e a cultura do consumismo. Para o cacique, a perda dessa consciência representa um risco à saúde coletiva, à biodiversidade e ao próprio futuro da humanidade. Por isso, ele atua como ponte entre o conhecimento ancestral e as novas gerações.

Autor dos livros Rabiscuitos, Retorno para a Caverna, Roda de Prosa na Periferia e O Filho da Ditadura, Payayá ambienta suas obras às margens do Rio Paraguasu — nome que ele escreve com “s” como forma de resistência e afirmação da língua originária Tupy, “contra o colonialismo secular”.

João Lucas Dantas
Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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