Publicado em 24/10/2025 às 11h45.

Antônio Carlos & Jocafi: conheça a história, sucessos e legado da dupla baiana

Nos 80 anos de Antônio Carlos, a trajetória de quase seis décadas da dupla segue marcando gerações na música brasileira

João Lucas Dantas
Foto: Divulgação/ RCA Victor

 

Nesta sexta-feira (24), são comemorados os 80 anos de Antônio Carlos Marques Pinto, parceiro de José Carlos Figueiredo. Juntos, formam uma dupla que é uma verdadeira pedra angular da música brasileira, sobretudo baiana, conhecidos sob o nome de Antônio Carlos & Jocafi. Uma união que “Abusou”, “Desacatou” e até deixou cair um “Toró de Lágrimas”.

Apesar do aniversário hoje ser apenas de Antônio Carlos (o de Jocafi ainda será no dia 21 de dezembro), o bahia.ba celebra este momento da forma que gostariam de ser lembrados: juntos. A dupla de soteropolitanos enfileira sucessos e faz parte da rica história da nossa música, em quase 60 anos de carreira.

Formação e trajetória da dupla

Juntos desde 1968, os dois estrearam publicamente em 1969 ao inscreverem a canção Catendê, parceria com o poeta e dramaturgo Ildásio Tavares (1940–2010), no V Festival de Música Popular Brasileira (da TV Record), defendida por Maria Creuza, esposa de Antônio Carlos.

No ano seguinte, a dupla voltou a se apresentar em festivais no Nordeste com a mesma canção. Em 1971, Creuza gravou Catendê – grande sucesso na voz dela – e a dupla conquistou o 2º lugar no VI Festival Internacional da Canção (FIC), no Rio de Janeiro, com Desacato.

Logo em seguida, assinaram com a gravadora RCA Victor e lançaram o disco Mudei de Ideia (1971), contendo já as faixas Mudei de Ideia, Desacato e Você Abusou, que rapidamente se tornaram sucessos e ganharam inúmeras regravações ao redor do mundo.

A partir dos anos 70, Antônio Carlos & Jocafi participaram de muitos festivais e turnês pelo Brasil e exterior, consolidando-se como um dos principais nomes do samba e da Música Popular Brasileira.

Eles também escreveram temas para novelas e programas infantis da TV Globo (como O Primeiro Amor e Supermanoela), incluindo o clássico Shazam e o Xerife, que gerou até uma série televisiva, e trilhas para cinema. Em 1978, integraram o Projeto Pixinguinha em turnê pelo Nordeste com Paulo Moura e outros músicos, divulgando o álbum Elas por Elas.

Em festivais internacionais, obtiveram diversas premiações. Em 1974, ganharam o segundo lugar no World Popular Song Festival de Tóquio com Diacho de Dor. A carreira seguiu ativa, alternando álbuns próprios e parcerias com artistas como Maria Creuza (no disco Pastores da Noite, 1977) até os dias atuais.

Principais sucessos e obras marcantes

Entre os grandes sucessos de Antônio Carlos & Jocafi estão sambas como Você Abusou (composta por Jocafi na melodia e letrada por Antônio Carlos), Mas que Doidice, Morte do Amor, Toró de Lágrimas, Desacato, Jesuíno Galo-Doido, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Catendê e muitos outros.

Essas canções uniram a simplicidade da tradição do samba de roda da Bahia à MPB urbana, tornando-se “músicas populares para serem cantadas e dançadas pelo povo”, como eles mesmo afirmam.

Você Abusou, em especial, ganhou enorme projeção internacional. Virou o sucesso Fais comme l’oiseau na França (interpretado por Michel Fugain) e foi gravada por nomes como Celia Cruz, Paul Mauriat, e tiveram a honra de ter Stevie Wonder a incluindo em seu repertório durante apresentação no Rock in Rio de 2011, mas, sendo sincero, talvez a honra tenha sido mesmo do cantor americano ter tido a chance de tocá-la.

De 1971 até 2023, somam 13 discos completos, com muitas composições da dupla tendo virado tema de trilhas sonoras e novelas, fixando-se no imaginário popular. O conjunto desses êxitos fez da dupla referência da música baiana e brasileira dos anos 70 e 80.

 

Foto: Filipe Cartaxo / Divulgação

 

Parcerias e colaborações importantes

Como compositores, Antônio Carlos e Jocafi trabalharam com muitos nomes da música brasileira. No início de carreira, contaram com o poeta Ildásio Tavares para algumas letras. Suas canções foram gravadas por grandes intérpretes como Vinicius de Moraes, Orlando Silva, Clara Nunes, Alcione, Djavan, Daniela Mercury, Celia Cruz, José Feliciano, além de inserções internacionais.

Recentemente, a dupla ganhou renovada visibilidade através de parcerias com artistas jovens. Colaboraram bastante com o cantor e compositor Russo Passapusso (líder do BaianaSystem), tendo participado da criação do álbum da banda O Futuro Não Demora (2019, vencedor do Grammy Latino), e juntos lançaram Alto da Maravilha (2022), em parceria na carreira solo do cantor.

Essas colaborações recentes introduziram as músicas da dupla a novas gerações. Além disso, participações em coletâneas e homenagens nacionais recentes como no programa Altas Horas da TV Globo, e o Sem Censura, da TV Brasil, continuam a revelar seu repertório a públicos diversos.

Estilo musical e contribuições

O som de Antônio Carlos e Jocafi combina elementos do samba tradicional da Bahia (sobretudo o batuque de roda), da bossa nova e da MPB urbana, com influências do Candomblé. Suas letras simples, porém poéticas, e melodias cativantes visam à popularidade e à dança. Instrumentalmente, a dupla valoriza banjo, cavaquinho e violão, resgatando ritmos nordestinos, como baião e samba-reggae, numa linguagem contemporânea.

Culturalmente, contribuíram para difundir ritmos baianos no cenário brasileiro. Escreveram também canções infantis e de protesto ambiental. Por exemplo, Antônio Carlos lançou o livro O Agonizante Mundo Verde (2003) para conscientizar jovens sobre ecologia.

Antônio Carlos compôs ainda peças teatrais (O Boi Fujão) e histórias baseadas na mitologia indígena (Amazônia Terra dos Xamãs). Todo esse leque ilustra o papel da dupla não apenas como cantores, mas como autores versáteis da cultura baiana, integrando música, literatura e educação.

 

Foto: Divulgação/ Assessoria

 

Legado e relevância

Ao longo de mais de meio século, Antônio Carlos e Jocafi tornaram-se referências da música popular brasileira de raiz baiana. Suas composições foram incorporadas ao repertório de intérpretes clássicos da MPB e mantêm presença em festas, rádios e trilhas sonoras até hoje.

No cenário atual, sua influência é percebida em artistas que mesclam tradição e modernidade, como o BaianaSystem, e em projetos que resgatam o samba e o folclore nordestino. O reconhecimento à dupla vem de prêmios, homenagens culturais e do público fiel que ainda dança e canta seus sambas nas rodas de música pelo Brasil.

Em suma, Antônio Carlos & Jocafi figuram como pilares da identidade sonora da Bahia, tendo contribuído para difundir a cultura brasileira no país e no exterior, com suas canções que continuam ecoando no imaginário popular de todo o país.

João Lucas Dantas
Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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