Publicado em 23/11/2018 às 13h00.

Após abrir caminho, Baco Exu do Blues esbanja referência em novo LP

No seu 2º álbum solo, rapper baiano põe dedo na ferida do racismo e se autointitula o "Kanny West da Bahia"

Luiz Felipe Fernandez
Foto: Arquivo Pessoal/Instagram
Foto: Arquivo Pessoal/Instagram

 

Alçado à fama depois do lançamento de Sulicídio (2016), o rapper soteropolitano Baco Exu do Blues precisou lidar com a cobrança dos próprios fãs e a incessante busca pela geração de conteúdo, para conseguir construir novos trabalhos. Com o lançamento de “Esú”, o músico mostrou que tinha muito mais guardado do que boas linhas e um flow peculiar. Brincou com a mitologia greco-romana, questionou divindades e foi aclamado pela crítica com um disco autobiográfico, onde sana quaisquer dúvidas sobre o seu talento.

Após abrir caminhos, o álbum de Baco lançado nesta sexta-feira (23) intitulado “Bluesman” corrobora mais uma vez com aqueles que põem o baiano de apenas 22 anos entre as maiores promessas – e realidades – da música nacional. Em um momento de valorização da autoestima preta, Baco já garante o seu nome na história contada também por artistas como Rincón Sapiência, BK, Djonga e tantos outros.

A faixa homônima ao álbum é a primeira do LP, que começa com um sample de “Mannish Boy”, sucesso de Muddy Waters nos anos 1950. Na letra, o rapper Diogo Moncorvo atribui ao “blues”, não só o o valor, mas à liberdade empregada, já que o gênero se originou de cânticos de trabalhadores afro-americanos no século XIX.

“O samba é blues, o rock é blues, o jazz é blues/ O funk é blues, o soul é blues/Eu sou Exu do Blues/Tudo que quando era preto era do demônio/E depois virou branco e foi aceito eu vou chamar de Blues”, alerta Baco.

Em outra parte, o rapper dispara: “Eles querem um preto com arma pra cima/Num clipe na favela gritando cocaína/Querem que nossa pele seja a pele do crime/Que Pantera Negra só seja um filme”.

Na faixa 2 do disco, “Queima minha Pele”, Baco traz uma “love song” bem ao seu estilo, onde mostra a potência de um amor que pode se tornar nocivo”. “Amor, você é como o sol/Ilumina meu dia, mas queima minha pele”. Em “Me Desculpa Jay-Z”, o rapper brinca com uma “bipolaridade”, admite ter “sonhos eróticos” com Beyoncé e deseja a vida do gangsta americano.

Baco também se intitula como o “Kanye West da Bahia” em uma das composições que traz linhas pesadas, entre elas a que diz preferir a morte à ser “preto de estimação”. Ele escreve que “espancou” Jesus ao vê-lo “chorando, gritando, falando que queria ser branco”.

Bastante explorado em suas primeiras músicas, a mitologia grega volta a ter espaço em “Bluesman” na faixa “Minotauro de Borges”. A pintura “Girassóis” do holandês Van Gogh também inspira uma música do álbum. Já a lenda B.B King se torna título da faixa que encerra segundo disco solo de Baco e na qual ele enaltece a sua própria trajetória: “Cê entrou duas vezes pra história em dois anos/Só com 22 dois anos/Você rima como se fosse o B.B King solando/Autoestima, eu te amo”.

Com “Bluesman”, a nova estrela do rap de Salvador se consolida na cena, não só do gênero mas da música nacional. Se em “Sulicídio” Baco abriu caminhos e em “Esú” pediu passagem, principalmente com o sucesso de “Te Amo Disgraça”, em “Bluesman” ele definitivamente senta na “janelinha” do busu. Um lugar privilegiado e merecido entre os grandes.

O álbum foi lançado nesta sexta-feira (23) no Spotify e em todas as plataformas digitais. O clipe da música “Bluesman” também já está disponível no YouTube.

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