Publicado em 25/11/2025 às 15h00.

Disney tira mais um coelho da cartola com o ótimo ‘Zootopia 2’

A sequência amplia o universo da cidade dos bichos com humor, aventura e temas maduros

João Lucas Dantas
Hopps e Wilde. Imagem: Walt Disney Studios/ Reprodução

 

Zootopia 2 é uma sequência divertida, bem-humorada e com coração de sobra para acompanhar o filme de 2016, que já havia sido uma agradável surpresa. O longa estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (27).

A nova animação dos Walt Disney Studios traz de volta a coelha policial Judy Hopps e seu amigo, a raposa Nick Wilde, com o retorno à direção de Byron Howard, um dos responsáveis pelo primeiro filme, e a adição de Jared Bush, que também assina o roteiro.

Em uma temporada marcada por sequências, reboots, remakes e spin-offs, Zootopia volta a mostrar que ainda tem algo relevante a dizer, combinando personagens carismáticos com uma aventura infantojuvenil capaz de divertir públicos de todas as idades.

Quando o bicho pega

Em Zootopia 2, os detetives retornam para desvendar o mistério envolvendo um novo e enigmático réptil, Gary De’Snake, cuja chegada vira a metrópole animal de cabeça para baixo. Para capturá-lo, eles precisam se infiltrar em áreas até então desconhecidas da cidade, o que coloca à prova a parceria e a amizade entre ambos.

O filme demora um pouco para entrar em ritmo, já que se mostra necessária uma contextualização dos acontecimentos do longa anterior, que está prestes a completar uma década. Porém, logo somos transportados novamente para a cidade dos bichos, sustentada pelo carisma da dupla Hopps e Wilde e pelas adições de novos membros que compõem um esquadrão improvável.

Um dos grandes trunfos do filme é expandir o universo animalesco apresentado em 2016, explorando novos biomas e espécies em um mundo colorido e cheio de personagens cativantes. A sensação é quase a de estar em um videogame de Super Mario Bros., passando por fases de água, terra, montanhas, neve e tudo o mais que a criatividade permite.

Gary a Cobra
Imagem: Reprodução/ Walt Disney Studios

 

Maturidade e evolução

Os temas tratados são surpreendentemente adultos. Preconceito racial, apagamento social, uso excessivo de forças policiais e a importância da saúde mental. Claro, tudo abordado de forma superficial, já que o público-alvo ainda são as crianças. Mesmo assim, o filme lida com essas questões de maneira madura o suficiente para tocar espectadores de diferentes idades.

Num cenário em que muitas produções infantis apostam no hiperestímulo visual e sonoro, tudo muito rápido, mastigado e direto, é um alívio ver que a Disney ainda entrega uma animação delicada.

Apesar das grandes cenas de ação, dos momentos musicais e das piadas constantes, o filme reserva espaço para silêncios, diálogos sinceros e sentimentos reais, além de deixar diversas camadas nas entrelinhas.

Nesse mundo antropomorfizado, múltiplas referências a clássicos do cinema são recriadas com bom gosto ao longo de cenas hilárias, incluindo emulações à O Poderoso Chefão, O Silêncio dos Inocentes e O Iluminado, além de toques de cultura pop, como o urso da Coca-Cola.

Os vilões principais têm motivações maniqueístas, querendo destruir o lar de espécies de que não gostam simplesmente por serem diferentes (qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência). Apesar da simplicidade, isso funciona dentro da proposta infantojuvenil.

O grande destaque é a evolução da relação entre Hopps e Wilde, parceiros inseparáveis que carregam traumas e sentimentos mal resolvidos, mas que, à sua maneira, sempre encontram espaço para se entender e se apoiar como a família que acabam se tornando.

Gary, a Cobra, às vezes é o personagem menos interessante, mas ganha excelentes momentos ao final, justificando sua presença. A reviravolta em determinado ponto já era previsível, algo admitido pelo próprio roteiro em um comentário metalinguístico, mérito de uma escrita esperta que sabe brincar até com suas falhas.

Imagem: Reprodução/ Walt Disney Studios

 

Dois coelhos em duas cajadadas 

A Disney tira mais um coelho da cartola com uma sequência inteligente, espirituosa e cheia de sensibilidade. Zootopia 2 entrega humor, ação e emoção na medida certa, durante maior parte do tempo, por vezes também piegas. E, claro, não poderia deixar de mencionar mais uma participação de Shakira que lança a música tema do filme.

Porém honra o legado do original enquanto aprofunda seus personagens e amplia seu universo com criatividade. O resultado é um filme capaz de aquecer o coração de crianças e adultos, exatamente como o estúdio vem fazendo com maestria ao longo de décadas (talvez não tanto nos últimos 10 anos).

João Lucas Dantas
Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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