Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba.
DRT: 7543/BA
Publicado em 02/12/2025 às 10h30.
Festival Paisagem Sonora amplia horizontes culturais em nova edição
Homenageando o artista Alberto Pitta, evento reúne programação de peso na Casa Rosa neste fim de semana, no Rio Vermelho
João Lucas Dantas

Foto: Roberto Abreu/ Divulgação
O Festival Paisagem Sonora chega à sua sétima edição, pelo segundo ano consecutivo, sendo realizado em Salvador. Nascido na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o evento prepara três dias de arte, educação e cultura, com uma justa homenagem ao artista plástico, carnavalesco, designer e serígrafo Alberto Pitta.
Com seminários, lançamentos de livros, exposição e shows, a programação começa nesta sexta-feira (05) e segue até o domingo (07), sempre na Casa Rosa, no Rio Vermelho, com entrada gratuita, e sob a curadoria do artista e professor Danillo Barata. Para celebrar a realização do evento, o bahia.ba conversou com o curador, o homenageado, além de Lazzo Matumbi, que irá encerrar a programação musical no dia 7.
“Desde o ano passado, na sexta edição, que nós iniciamos um trabalho com as organizações da resistência negra, através de trabalhos da UFRB com o Ilê Aiyê, o Olodum, a Casa da Ponte e o Instituto da Mulher Negra – Mãe Hilda Jitolu. No ano passado, fizemos um livro de J. Cunha sobre o carnaval negro, como homenagem aos 50 anos do Ilê. Neste ano, a ideia é estabelecer uma continuidade, convidando Pitta pela trajetória incontornável na relação com o carnaval de Salvador”, explicou Danillo.
“Além de ter sido diretor artístico do Olodum, do Muzenza, criador do Cortejo Afro, ele tem uma trajetória muito sedimentada, com diversas passagens pelos blocos afros e afoxés. A gente não tem uma literatura que exalte o design afro-brasileiro, e isso é uma preocupação do festival; o nosso diferencial é relacionar isso com a música”, acrescentou.
Com um line-up musical de peso, na sexta-feira a abertura ficará por conta do Cortejo Afro, com participação de Arto Lindsay, seguido da banda Afrocidade; no sábado, o Afoxé Filhos de Gandhy irá comandar o palco, seguido de Àttooxxá e Márcia Castro ao lado da Roda de Samba-Reggae; no domingo, o Ilê irá animar o encerramento, com Lazzo Matumbi e Anelis Assumpção encerrando a noite.
“Essa programação é um seminário de como abrir o verão de Salvador. Os blocos afro e o samba-reggae estarão no centro da discussão da musicalidade do verão e do carnaval da Bahia”, comemorou o curador.
“O nosso desejo é criar uma preparação para os temas que nos são caros. Nas publicações que fizemos com J. Cunha e agora com Pitta, é discutirmos qual seria a identidade do carnaval negro da Bahia, no centro da cidade, e a sonoridade disso. O nome Paisagem Sonora é muito apropriado, porque em Salvador temos essa dimensão sonora muito enraizada no samba-reggae. A ideia é colocarmos isso no centro da discussão e promover debates em torno disso”, provocou Danillo.

Foto: Roberto Abreu/ Divulgação
As cores e tecidos de Alberto Pitta
Além do lançamento do livro Alberto Pitta: FúnFún DúDú, o festival buscou vestir sua identidade com a visualidade de Pitta. Para o próprio homenageado, é um momento muito significativo.
“Significa muito e, sobretudo, perceber que existe interesse manifesto pelo que a gente faz. O meu trabalho se desenvolve e marca toda uma geração. Escolhi o tecido como plataforma de comunicação, a segunda pele, o que nos representa. Entendo dessa forma e estou feliz com a discrição”, celebrou o artista.
Pitta contribuiu de forma decisiva para os blocos afro de Salvador ao criar uma identidade visual marcante que uniu estética, política e ancestralidade. Por meio de seus tecidos, estampas e concepções artísticas, ele ajudou a consolidar a linguagem visual desses movimentos, ampliando sua força simbólica no carnaval e na cultura baiana. Seu trabalho traduziu a história, a resistência e o orgulho negro em arte, influenciando gerações e fortalecendo o papel dos blocos como expressão cultural e política.
“Com certeza tenho uma grande contribuição nesse processo todo. Tudo foi uma construção ao longo desses anos. Na verdade, não sabíamos o que nos esperava. O fato é que os blocos afro e afoxés foram divisores de água no processo civilizatório da cultura na Bahia; ditaram as cores e a estética baiana”, pontuou o próprio.
Questionado a respeito de como o diálogo entre tradição e invenção guiou a sua carreira ao longo dos anos, sempre inovando os conceitos estéticos e identitários dos blocos afro da Bahia, Pitta afirma fazer releituras de si mesmo.
“Para além da música, da dança e da estética, existe uma atitude política e social que nos faz pensar, refletir e perceber tudo além do carnaval. Eu faço releitura de mim mesmo, pois lido com organizações, pensamentos e ideias diferentes. Portanto, a renovação do discurso estético acontece dentro de uma estratégia de comunicação e consonância com o que possa estar acontecendo no momento. Alguns panos são marcantes nesse contexto”, esclareceu.
Filho de Mãe Santinha de Oyá, Pitta cresceu imerso nos bordados, ritos e narrativas do candomblé, uma herança que se manifesta em cada detalhe de sua produção. Desde os anos 1980, suas criações transformaram o carnaval negro baiano, fornecendo as icônicas estampas e figurinos para blocos emblemáticos como Ilê Aiyê, Olodum, Filhos de Gandhy e o seu próprio Cortejo Afro, do qual é um dos fundadores.
O Paisagem Sonora reforça o papel da música e da arte como ferramentas de memória e resistência. Para Pitta, é um impacto positivo na cena carnavalesca. “Avalio isso positivamente a partir do momento em que essas organizações resistem a um mercado predador e a pessoas que lidam com verbas astronômicas em departamentos de arte e marketing de empresas grandes. Só mesmo uma música forte para dar conta de tudo isso. A juventude precisa saber que não chegou só até aqui; alguém sedimentou essa estrada”, concluiu.
Com obras presentes em acervos de instituições no Brasil e no exterior, Pitta reafirma sua relevância. Ele transforma o tecido em uma linguagem pulsante, uma trama de símbolos, cores e narrativas que cria uma ponte fundamental, unindo os Brasis, as Áfricas e suas diásporas em uma expressão visual poderosa.

A força e potência musical de Lazzo Matumbi
Lazzo Matumbi é uma das vozes mais importantes da música baiana, reconhecido por unir reggae, soul, samba e ritmos afro-baianos em uma expressão artística profundamente ligada à identidade negra da Bahia. Sua interpretação marcante, a força de suas letras e sua atuação política e cultural ajudaram a fortalecer a música afro-brasileira e abrir caminhos para novas gerações de artistas. Com uma trajetória que dialoga com luta, espiritualidade e resistência, ele se tornou referência fundamental na construção sonora e simbólica da cultura do estado.
O cantor e compositor estará no domingo, fechando a programação do Paisagem Sonora, como um desses nomes fundamentais para a história do nosso carnaval. Também estará celebrando as quase três décadas do lançamento de um dos seus discos essenciais, no seminário Clube da Radiola ‘Atrás do Pôr do Sol’, às 15h30, com mediação de Tatiana Lima.
“Por incrível que pareça, a verdade é que esse disco tem um discurso muito atual, falando sobre questionamentos sociais e raciais, o que significa que, por mais que nós tenhamos evoluído em muitas coisas, isso prova que, na real, nada mudou. Continuamos tendo que falar sobre coisas que nos incomodam e nos fazem mal até os dias de hoje, desde aquela época (1988, quando foi lançado)”, exclamou Lazzo.
No período, o álbum foi gravado de forma independente, através de uma escolha consciente para preservar a visão artística da época, sem interferências de grandes estúdios.
“Juntou-se a necessidade com a vontade de sobreviver. Na época, era mais que necessário, para manutenção da minha identidade artístico-musical, produzir independentemente um material fonográfico que não tivesse interferência nem intervenção de ideias mercadológicas que tirassem a originalidade do meu trabalho. Pois já existiam outros grandes artistas se rebelando e brigando pela sua independência e autonomia artística”, relembrou o cantor.
Atrás do Pôr do Sol foi regravado em 2022, reinterpretado por artistas da nova geração musical, como Larissa Luz, Luedji Luna e a própria Anelis Assumpção, que dividirá o palco com Lazzo no evento. O cantor sempre manteve relação próxima com as novas vozes que vêm surgindo, e esse foi um dos resultados de como abraça os novos talentos.
“Descrevo, com muito respeito, a história de todos eles, e com muita gratidão, por poder trocar experiências com todos, com os quais eu aprendo muito todos os dias, pois cada um traz uma característica diferenciada em sua caminhada, o que só faz enriquecer o cenário”, pontuou.

Foto: Reprodução/Instagram @coalafestival
A amizade com Anelis Assumpção, filha do grande e saudoso Itamar Assumpção (1949–2003), ícone da vanguarda musical paulista e um dos grandes cantores “malditos” do Brasil, não nasceu agora. Em setembro, Anelis já havia convidado Lazzo para dividir o palco do Coala Festival, e agora ele irá retribuir o favor.
“Acredito que essa amizade já nasceu lá atrás, com o respeito e a admiração que eu já nutria pelo trabalho de Itamar, seu pai, e que se estende pela admiração que ela tem pelo meu trabalho, sendo também referência para o seu. Por isso, acredito que tudo isso já estava escrito e, com certeza, já fazia parte de um projeto de troca ancestral”, expressou.
Anelis, também diretora do Instituto Museu Itamar Assumpção, é uma das responsáveis por levar adiante o legado de um gigante da história da musicalidade brasileira. “Quanto à manutenção do legado do seu pai, conduzido dignamente por ela, acho maravilhoso e plausível. Pois isso também faz parte de um processo de conduta ancestral, em se manter conhecido todo o trabalho prestado pelo grande artista que ele foi para o cenário histórico da nossa música popular”, acrescentou Lazzo.
O Paisagem Sonora reforça a música como memória e resistência, especialmente a música negra baiana, algo também reafirmado por eventos como o Afropunk, no qual o cantor tocou a convite de Tatau em novembro. Esses espaços de celebração da ancestralidade e da cultura têm grande importância, pois fortalecem identidades, valorizam tradições e ampliam a visibilidade da produção artística afro-baiana, como pontua o artista.
“Já não era tempo de a Bahia ter seus vários quilombos como estes se aquilombando em torno do fortalecimento ancestral e da manutenção da cultura afrodescendente diaspórica viva, principalmente na cidade mais negra depois de Lagos, na Nigéria. Com isso, quero dizer que nós estamos reescrevendo um novo capítulo, no qual, desta vez, nós somos os protagonistas da nossa própria história”, celebrou.
Quanto ao reconhecimento que os blocos afro têm recebido nos últimos anos, ele tem sido recebido com grande alegria por Lazzo, cuja história começou intrinsecamente ligada ao Ilê Aiyê, em uma passagem marcante nos anos de 1980.
“Espero que, com a chegada desse tal reconhecimento, ainda que tardio, seja valioso e proveitoso, para que nós sejamos cada vez mais irmanados, pensando principalmente no coletivo, e que quanto mais nos aquilombarmos, mais fortes estaremos para o enfrentamento, trazendo assim o respeito à diversidade cultural como a verdadeira identidade de um povo, que precisa ser mais dignificada não só para os holofotes, mas sim para a caminhada em direção à verdadeira reparação”, concluiu Lazzo Matumbi.
Outras informações
Durante os três dias, o evento traz em sua programação cinco seminários voltados para debates sobre arte e educação. São eles: A Política Nacional de Equidade; Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola; Paisagens Sonoras: Processos Criativos e Redes do Comum; Reconfigurações do Carnaval Negro; Museu Itamar Assumpção: Memória, Música e Afrofuturismo, com Anelis Assumpção; e Clube da Radiola Atrás do Pôr do Sol, com Lazzo Matumbi.
Além do livro de Alberto Pitta desenvolvido pelo Selo Editorial Anjo Negro, vinculado ao festival, também haverá outros lançamentos, pelo mesmo selo, no dia 05, na Casa Rosa. São obras como a de Mateus Aleluia — Nações do Candomblé: Jeje; Bembé do Mercado: Dossiê de Registro como Patrimônio Cultural do Brasil; e o box com os 21 Cadernos de Educação do Ilê Aiyê. No mesmo dia, mas no Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, localizado no bairro São Gonçalo do Retiro, haverá o lançamento do livro e documentário Ilê Axé Opô Afonjá: Pedagogia da Ancestralidade: Fé, Educação e Liderança no Ilê Axé Opô Afonjá, em homenagem aos 100 anos de Mãe Stella de Oxóssi.
A programação completa está disponível no site: https://festivalpaisagemsonora.org/programacao/.
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