Publicado em 17/10/2025 às 10h59.

Flerte Flamingo lança primeiro álbum de estúdio com sonoridade que mescla ijexá e samba-reggae

Projeto costura sobras de guitarras, gravações caseiras que vão de áudios de WhatsApp a narrações de jogos antigos de futebol,

Redação
Foto: Bruno Castro/Assessoria

 

A banda baiana Flerte Flamingo lança, nesta sexta-feira (17), o primeiro álbum do estúdio. Intitulado “Dói Ter”, o trabalho é a consolidação de uma sonoridade própria a partir da combinação entre a energia do rock e o balanço característico da música baiana, com variações que passeiam pelo samba, ijexá e samba-reggae.

O projeto é classificado pela banca como mais “ambicioso”, uma vez que mergulha em um registro mais denso, urbano e noturno, que transforma experiência de vida em matéria sonora.

Gravado entre São Paulo e Salvador, o disco nasceu de uma imersão criativa de dez dias numa casa alugada em Mairinque (SP), no inverno de 2023. Ali, entre fogueira, cerveja e longos ensaios, o grupo, Leonardo Passovi (voz e guitarra), Gustavo Cravinhos (guitarra e teclas), Bruno de Sá (baixo) e Igor Quadros (bateria), lapidou dez arranjos sob a produção de Fernando Tavares, parceiro de longa data e cofundador do projeto. O processo de gravação se estendeu até junho de 2024. “Levamos muito a sério a missão de fazer um álbum e queríamos, mais do que tudo, poder sentir orgulho por um trabalho bem feito”, resume Passovi.

As 14 faixas de “Dói Ter” se entrelaçam em uma escuta imersiva, em que o som se expande além da música. O álbum costura sobras de guitarras, gravações caseiras que vão de áudios de WhatsApp a narrações de jogos antigos de futebol, até o registro de um jantar entre amigos, todos inseridos como camadas narrativas que reforçam sua dimensão sensorial. A decisão de gravar os vocais em Salvador, depois de registrar a base instrumental em São Paulo, nasce de um gesto interpretativo e afetivo, um retorno à atmosfera que deu origem às composições.

“Foi quase como um trabalho de laboratório, deixar barba e cabelo crescerem, revisitar o estúdio antigo, me reconectar com a cidade e com o que eu era quando escrevi essas músicas”, conta Leonardo.

“As palavras surgiram numa noite de reflexão individual e sequer parecia português, de início pareciam estar em latim, ou algum idioma arcaico. Primeiro me pegou pela sonoridade e aparência, antes mesmo do significado. Depois percebi que traduzia um sentimento que permeia o disco, o aspecto silenciosamente dilacerante de manter algo na vida de que você não quer — e nem consegue — se desfazer, mesmo que lhe consuma”, descreve o vocalista.

Se os trabalhos anteriores do grupo giravam em torno de narrativas românticas e de interlocutores externos, “Dói Ter” vira o espelho para dentro. As letras agora observam o impacto do amor em quem sente, e não mais em quem é amado. O álbum propõe uma jornada emocional, um passeio por uma Salvador boêmia e pré-pandêmica, onde o fim de semana se transforma em uma metáfora da existência, começa com euforia, passa pela introspecção e termina com uma aurora melancólica.

O disco tem influências que passam por Led Zeppelin, Gal Costa, BaianaSystem, Luiza Lian, The Marias e Dorival Caymmi, o Flerte Flamingo se coloca no território híbrido que eles mesmos batizaram de “indie samba-rock”.

Na construção estética, o grupo cita inspirações visuais no estilo Art Déco e no Expressionismo Alemão, o que se traduz nas “formas angulares” dos arranjos e nos “diálogos entre guitarras”, marca sonora que atravessa todo o trabalho. É um álbum que busca condensar o que a banda foi, acenando para os primeiros anos de palco, mas em roupas novas, mais citadinas e sombrias. Esse conceito se evidencia na intensidade da faixa 7, “O Último Homem”, que condensa a atmosfera pesada, porém suingada, do trabalho. O título, como tantos outros do disco, surgiu de forma quase misteriosa, nenhum dos integrantes sabe explicar exatamente de onde veio.

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