Publicado em 16/06/2020 às 09h13.

Forrozeiros criticam Léo Santana em live de São João da Globo: ‘Descaracterização’

A coordenadora estadual do Fórum Forró Raiz da Bahia afirma que os forrozeiros estão sofrendo com a falta de espaço na mídia e com a não realização da festa

Bianca Andrade
Foto: Saulo Brandão/ Arraía do Galinho
Foto: Saulo Brandão/ Arraía do Galinho

 

“Fagulhas, pontas de agulha, brilham estrelas de São João. Babados, xotes e xaxados…”, por anos as estrofes da música ‘Festa do Interior’, interpretada por Gal Costa, descrevia o verdadeiro significado de uma das festas mais tradicionais e representativas da região Nordeste, o São João.

Com o passar do tempo, no entanto, a tradição foi abrindo espaço para a renovação no cenário e para novos costumes, o que desagradou quem prefere se manter fiel a essência junina.

O Fórum Forró Raiz da Bahia é um exemplo deles. Em entrevista ao bahia.ba, a coordenação do movimento em apoio ao registro do forró como patrimônio imaterial se manifestou contra a escolha do cantor Léo Santana como representante baiano para o especial da Live de São João produzido pela Globo Nordeste que será exibido no dia 20 de junho.

“Com tantos artistas referências, forrozeiros e forrozeiras, do nível que a gente tem aqui, da maior qualidade, porque a Bahia um dos estados que mais produz forró, a gente tem uma referência muito grande na festas identitárias do São João, e já sofremos com a descaracterização da nossa cultura no único período que deveria nos ser exclusivo, porque somos especialistas, os criados do gênero que nasceu nos festejos, da manifestação popular e também pela memória afetiva do São João para os baianos. É o único período que a gente consegue trabalhar. O forrozeiro na Bahia deveria ser mais respeitado pela mídia e pelos entes públicos, quando a gente mais precisa desse apoio, a gente sofre uma descaracterização como essa”, afirmou Alessandra Gramacho, coordenadora estadual do Fórum.

Alessandra, que também é cantora e se considera uma militante do forró, afirma que o problema não é com Léo, e sim com a iniciativa da TV em convidar um artista que não é do gênero para fazer parte da programação de São João.

“Nada contra o cantor, que tem sua importância para música baiana, mas temos dezenas de forrozeiros que representam genuinamente o Estado. Quando uma agência desse tipo propaga para o mundo todo essa ideia, parece que eles jogaram uma pá de terra em cima da gente”.

A coordenadora do Fórum Forró Raiz da Bahia ainda lamentou a situação da festa neste momento de pandemia. O São João é responsável por movimentar a economia em vários municípios da Bahia, e atualmente o forró movimenta mais de 3 milhões de profissionais.

“Pra gente tá sendo muito triste, muito penoso. É uma comoção muito grande na comunidade forrozeira, porque a gente espera o ano todo para tocar no São João, e não é só por causa dos recursos financeiros, mas também pela receptividade de amor do público e troca de referências populares que constrói nosso forró. Fazer cultura no Brasil é muito difícil, imagine fazer cultura de raiz? Nós estamos recebendo tudo isso de forma muito dolorosa. Não temos nenhum apoio, estamos desassistidos de qualquer tipo de política pública na Bahia, mesmo com o eminente registro do Forró no Iphan como patrimônio imaterial”.

Especial São João da TV Globo

Além de Léo Santana, representando a Bahia, estão confirmadas as participações de Mano Walter, representando Alagoas; Solange Almeida, pelo Ceará; Calcinha Preta, por Sergipe; Fulô de Mandacaru, por Pernambuco; Cavaleiros do Forró, pelo Rio Grande do Norte; da Paraíba, Amazan; e do Maranhão, Flávia Bitencourt.

A live faz parte de uma programação da emissora montada para o período junino. A Globo Nordeste ainda vai exibir um “Globo Repórter” especial, mostrando as belezas da cultura do sertão nordestino, um programa sobre Domiguinhos, um especial musical com o forrozeiro Genival Lacerda e os Melhores Momentos do Festival de Quadrilhas Juninas da Globo.

Por que a Lei da Zabumba não pode ser aplicada neste caso?

Aprovada pela Assembleia Legislativa da Bahia em 2015, a Lei da Zabumba exige que pelo menos 60% dos recursos públicos sejam investidos na contratação de artistas que valorizem a cultura da Bahia durante o São João.

Em seu primeiro teste, em 2016, o projeto de lei deu “chabu”, e até hoje os forrozeiros sentem dificuldades de em conquistar esse espaço.

No caso do projeto realizado pela TV Globo, a lei não pode ser aplicada por se tratar de uma instituição privada.

Mais notícias

Este site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência de navegação. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.