Publicado em 20/10/2025 às 14h26.

Ilê Aiyê anuncia tema para o Carnaval de 2026: ‘Turbantes e Cocares’

Bloco afro reforça ancestralidade afro-indígena e celebra resistência do povo de Maricá

João Lucas Dantas
Foto: Fafá Araújo/ Divulgação

 

O Ilê Aiyê acaba de lançar o tema “Turbantes e Cocares: a história de resistência do povo afro e indígena de Maricá” para o Carnaval de 2026. A escolha reafirma o papel do bloco como guardião da ancestralidade e voz ativa na valorização da identidade afro-brasileira, celebrando a conexão entre Bahia e Rio de Janeiro e destacando a força de um território marcado pela diversidade cultural e pela herança dos povos africanos e indígenas.

Segundo o presidente Antônio Carlos Vovô, cada tema do Ilê é uma lição de história, uma forma de ensinar, celebrar e resistir. “Nosso objetivo é reforçar a parceria com a cidade de Maricá, que nos últimos três anos desenvolve o projeto Ilê in Maricá, oferecendo oficinas e cursos gratuitos de cultura afro, como dança, percussão e estética, incluindo aulas de tranças e turbantes”, afirma.

Em 2026, o bloco vai levar para a avenida a história e a simbologia de Maricá, retratando sua diversidade cultural, beleza natural e riqueza geográfica. Serão destacados elementos da identidade afro-indígena local e relembrada a presença de quilombos históricos, como os de Bacaxá, São Bartolomeu, Lagoinha, Ingá e Itaocaia. Personalidades locais que contribuíram para manter viva a memória afro-indígena também serão reverenciadas.

“Escolhemos esse tema para conscientizar e fortalecer a autoestima de uma cidade fortemente negra. Queremos que pessoas negras e indígenas se vejam refletidas nessa história e se reconheçam como parte fundamental dela. Com a recém-inaugurada Universidade Livre do Carnaval (Unicarnaval) em Maricá, teremos um espaço fixo para desenvolver oficinas de percussão, dança, estética e formação cidadã, ampliando o trabalho já realizado”, explica Vovô.

Enquanto o tema de 2025, “Kenya: Berço da Humanidade”, destacou o continente africano, o de 2026 homenageia uma cidade brasileira. “Queremos mostrar não apenas países africanos, mas também o Brasil negro. Já homenageamos povos negros de Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, tratando esses territórios como verdadeiras nações africanas. É importante que o Brasil conheça mais de si mesmo por meio da música, da estética e dos tecidos que expressam nossa ancestralidade”, complementa o presidente.

Sobre Maricá

Ao resgatar a história de Maricá, o Ilê Aiyê reforça seu compromisso de transformar o Carnaval em instrumento político e pedagógico. Assim como os povos de Maricá resistiram à escravidão e à expropriação, o bloco afro, fundado em 1974 no Curuzu, há 50 anos defende a dignidade e autoestima do povo preto. Em 2026, a avenida será novamente uma sala de aula a céu aberto, onde os tambores ecoarão as vozes de quem sempre lutou por liberdade.

Maricá mantém viva a presença indígena, com aldeias Guarani Mbya e comunidades tradicionais que preservam saberes ancestrais, como os pescadores de Zacarias. Essa convivência entre passado e presente inspira o Ilê a celebrar a continuidade da resistência, mostrando que turbantes e cocares seguem firmes como símbolos de fé, força e pertencimento.

O Carnaval de Maricá é tradicional e profundamente enraizado na cultura local, mantendo forte conexão com os moradores e preservando saberes ancestrais. Desde a década de 1920, blocos como Jacaré e Tira-teima animavam a população com marchinhas, e, nos anos 1970, desfiles de Esferinhas e Antiga Amizade refletiam rivalidades sociais e políticas. Mais recentemente, blocos como o Bloco da Gabriela mantêm viva a tradição, e, em 2015, a criação da União de Maricá consolidou a cidade em uma escola de samba representativa nos desfiles do Rio, com as cores vermelho, ouro e branco.

O lançamento oficial do tema do Ilê Aiyê para o Carnaval de 2026 aconteceu no último sábado (18), no Largo Quincas Berro D’Água, no Pelourinho, com apresentações da Band’Aiyê, do grupo Orisun e da Escola de Samba União de Maricá. O evento foi realizado pela Associação Cultural Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê e pelo Governo Federal, com produção da Caderno 2 Produções e apoio do Clube Correio, contando com patrocínio da Neoenergia e do Grupo Belov, mantenedores do Plano Anual do Ilê Aiyê, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet.

João Lucas Dantas
Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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