Publicado em 03/09/2025 às 13h00.

‘Invocação do Mal 4’ encerra saga de Ed e Lorraine Warren com adeus apático

Mesmo com Patrick Wilson e Vera Farmiga sustentando o longa, a franquia dá sinais claros de desgaste, sem novos vilões memoráveis

João Lucas Dantas
Foto: Reprodução/ Warner Bros.

 

A dupla Patrick Wilson e Vera Farmiga se despede dos personagens Ed e Lorraine Warren em Invocação do Mal 4: O Último Ritual, mas não da forma que mereciam. Michael Chaves, que também dirigiu o terceiro filme e dois derivados, volta ao comando da franquia iniciada por James Wan, que assinou o primeiro e o segundo capítulos da série iniciada em 2013.

Em 12 anos, a franquia acumulou dez produções: quatro filmes principais, três da boneca Annabelle, duas de A Freira e uma de A Maldição da Chorona. É possivelmente a franquia de terror mais rentável das últimas duas décadas, somando mais de 2 bilhões de dólares em bilheteria, mas o esgotamento de conteúdo é evidente. No longa de 2h15min, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (4), o talento dos protagonistas é o principal trunfo, sustentando um filme morno e pouco envolvente.

O último ritual

Na nova entrada da franquia, os Warren enfrentam mais um caso “aterrorizante”, desta vez envolvendo entidades que desafiam sua experiência. Ed e Lorraine encaram seus maiores medos numa batalha final contra forças malignas. A execução, porém, fica aquém do prometido.

O roteiro de Ian Goldberg, Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick transforma a vida do casal, que agora inclui a filha mais velha, Judy Warren (Mia Tomlinson), em algo próximo a uma sitcom norte-americana com pitadas sobrenaturais. A maior parte do longa concentra-se na rotina monótona do trio após a aposentadoria motivada pelos eventos do filme anterior.

Com problemas cardíacos, Ed já não pode mais se colocar tanto em risco e, durante a primeira hora e 40 minutos do filme, vemos apenas festas, churrascos e eventos familiares animados, com direito a Let’s Dance, de David Bowie, para relembrar que estamos ambientados no ano de 1986. A única vantagem disso é o público poder ouvir um pouco de Bowie na potência do som de um cinema.

Em paralelo, vemos os acontecimentos bizarros relacionados à chegada de um espelho misterioso na casa de uma grande família suburbana, com oito pessoas e um cachorro, que acabam precisando da ajuda dos especialistas no assunto em determinado momento.

Foto: Reprodução/ Warner Bros.

 

Falta de antagonistas

Em uma série com antagonistas tão marcantes, como Annabelle e a Freira, não encontramos aqui nenhum novo personagem à altura dos anteriores. Em um ano tão rico para o terror, com exemplos como Pecadores ou A Hora do Mal, Invocação do Mal 4 dificilmente será lembrado no mesmo patamar.

Michael Chaves aparenta adotar um estilo funcional ao estúdio, mas não demonstra a personalidade autoral de seu antecessor, James Wan, nem um repertório amplo fora da franquia. A família vítima das forças demoníacas frequentemente parece parte de um elenco de série B, o que ressalta o contraste com o bom desempenho de Farmiga e Wilson.

Se havia algum objetivo de ainda assustar, talvez funcione para uma turma do jardim de infância. Predominam momentos calmos, sustos pontuais baseados em jump scares e uma trama de curta ressonância emocional. O filme já prepara uma possível próxima geração de investigadores sobrenaturais, principalmente focada nos personagens Judy e seu namorado, Tony Spera (Ben Hardy).

Se, com um grande casal de atores, já não está sendo possível salvar muita coisa, o que esperar dessa fraca próxima geração?

Respiro final

Ainda assim, há momentos que funcionam. Os minutos finais tornam a experiência menos morna, quando Patrick Wilson e Vera Farmiga mostram o alcance de suas performances.

Chaves demonstra lampejos de criatividade em jogos de câmera em algumas cenas. Por outro lado, o padre Gordon (Steve Coulter), personagem do primeiro filme, tem participação reduzida e pouco aproveitada.

Quando foi lançado, Invocação do Mal renovou o gênero; hoje a franquia opera de forma industrializada, e os protagonistas parecem cumprir compromissos contratuais antigos, num modelo comparável ao do cinema de super-herói. Que estes personagens possam, finalmente, aproveitar a sonhada aposentadoria, longe das telonas.

Foto: Reprodução/ Redes sociais

 

A história “real”

Ed e Lorraine Warren foram um casal americano conhecido por investigar fenômenos paranormais — assombrações, possessões demoníacas e casos de casas amaldiçoadas. A dupla fundou, em 1952, a Sociedade de Pesquisa Psíquica da Nova Inglaterra (NESPR), e tornou-se famosa por casos como Amityville e a boneca Annabelle.

Ed Warren (1926–2006) foi um demonologista autodidata que baseou seus métodos em experiências pessoais; seu pai era policial. Lorraine Warren (1927–2019) era médium, relatada como capaz de perceber auras e visões espirituais, e assumia papel central nas investigações do casal.

Como seus casos permanecem controversos e sem comprovação científica, muitos os consideram lendas urbanas — ainda assim, têm grande apelo no campo dos mistérios ligados à fé. Entre as narrativas associadas à dupla estão relatos de poltergeists, casas amaldiçoadas e manifestações demoníacas.

João Lucas Dantas

Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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