Publicado em 30/11/2021 às 21h47.

‘Maior vulnerabilidade das mulheres negras fez aumentar dias de ativismo’

Afirmativa é da secretária de Políticas para as Mulheres do Estado, Julieta Palmeira; na Bahia, 92% das mulheres assassinadas são negras

Erem Carla
Foto: Jon Eric Marababol/Unsplash

 

Dados do Observatório de Igualdade de Gênero da América Latina e do Caribe apontam o Brasil como o país com maior número de casos de feminicídio. Em 2020 foram 3.913 homicídios de mulheres registrados, dos quais, 1.350 foram classificados como feminicídio. O homicídio de mulheres é qualificado como feminicídio quando as vítimas são mortas por causas relacionadas a seu gênero, geralmente em decorrência de violência doméstica e/ou familiar. 

Entre as vítimas de feminicídio ocorre prevalência entre mulheres jovens (16 a 24 anos – 35,2%), negras (28,3%) e separadas ou divorciadas (35%). Três entre cada quatro vítimas de feminicídio tinham entre 19 e 44 anos, e, em sua maioria, eram negras (61,8%).

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), neste ano, entre janeiro e setembro, o estado registra 66 casos de feminicídio. Em 2019, 92% das mulheres vítimas de homicídio eram negras, enquanto 8% eram brancas, indígenas ou amarelas.

A major Denise Santiago, superintendente de Prevenção à Violência da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, afirma que a pandemia afetou ainda mais as mulheres negras, que são responsáveis por mais de 11 milhões de lares uniparentais (chefiados por mulheres) no país. Segundo ela, a cada oito minutos, uma mulher sofreu violência no país durante a pandemia. Desse total, 52,9% eram negras.

Em entrevista ao bahia.ba, a secretária de Políticas para as Mulheres do Estado da Bahia (SPM), Julieta Palmeira, afirmou que a luta contra o racismo e o sexismo precisam ser realizadas não só em novembro, mas no cotidiano de todas as pessoas. 

“Não por acaso, no Brasil, os 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres se tornaram 21 dias, começando em 20 de novembro, exatamente para enfatizar a maior vulnerabilidade das mulheres negras, que representaram, em 2020, mais de 60% das vítimas de feminicídio no país”, disse a secretária.

A última pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) informa que 42,8% das casas eram chefiadas por mulheres negras no nordeste em 2015, e que esse número vem crescendo desde 1995. 

Ações do Estado buscam reduzir a desigualdade que atinge as mulheres

A Secretaria de Políticas para as Mulheres inaugurou nesta terça-feira (30) o portal “Compre das Mina”, uma plataforma virtual que tem o objetivo de apoiar o empreendedorismo feminino e a inclusão produtiva das mulheres chefas de família. A inciativa faz parte das ações dos 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres.

Além disso, a Secretaria também move o projeto “Casas de Farinha Móveis”, que visa o fortalecimento da organização produtiva de trabalhadoras rurais, por meio da aquisição de equipamentos , micro indústrias integradas, para a produção de farinha e demais derivados.

São atendidas organizações lideradas por mulheres agricultoras, familiares pertencentes a assentamentos de reforma agrária, comunidades quilombolas, comunidades de terreiros e comunidades indígenas, visando promover a autonomia econômica direta destas mulheres, através da cidadania e qualificação, oferecendo oficinas de formação.

“Só viveremos em uma sociedade mais justa e igualitária, com oportunidades iguais, quando as pessoas não forem  discriminadas por sua raça, gênero ou orientação sexual, e cada um de nós deve ter compromisso com a luta pela erradicação das desigualdades raciais e de gênero”, afirma a secretária Julieta.

Entre 2015 e 2020 foram entregues 15 casas de farinha, e cerca de 2 mil mulheres foram beneficiadas. Os equipamentos estão localizados nas cidades de Boa Vista do Tupim, Camaçari, Jacobina (duas casas), Pau Brasil, Sento Sé, Teixeira de Freitas, Vitória da Conquista (duas casas), Seabra, Amélia Rodrigues, Cruz das Almas, Caetité (duas casas) e Boninal.

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