Publicado em 29/06/2017 às 08h16.

Poeta revê tradução do Auden de ‘Quatro Casamentos e um Funeral’

Nelson Ascher disse que a primeira versão, de 1995, foi feita às pressas sob encomenda da Folha de S. Paulo para o dia seguinte

James Martins
Foto: Reprodução YouTube
Foto: Reprodução YouTube

 

O poeta e tradutor Nelson Ascher usou o Facebook para publicar uma nova versão, um aprimoramento da tradução que fez do poema “Funeral Blues”, do britânico W. H. Auden, cujos versos são citados no filme “Quatro Casamentos e Um Funeral”.

A primeira tradução foi feita por ele em 1995, a pedido do jornal Folha de S. Paulo (e depois republicada no livro “Poesia Alheia”, em 1998) justamente por causa da menção no filme com Hugh Grant e Andie MacDowell.

Após se confessar “lisonjeado, quando me citam ou republicam algo meu, inclusive traduções”, Ascher adverte, no entanto, que a versão do poema, sua campeã nesse quesito, foi feita “na tarde mesma em que o jornal a encomendara de última hora para a edição do dia seguinte”.

E completa: “Desde então a revi, refiz, corrigi e recorrigi. Nenhum texto, seguramente nenhum poema traduzido, é definitivo (…) Seja como for, se alguém quiser citar ou republicar esse meu Auden, faça-me a gentileza de usar a versão mais recente, que segue embaixo. Saravá”. Eis:

W. H. AUDEN – BLUES FÚNEBRE
(Rererererevisto de novo outra vez)

Detenham-se os relógios, cale o telefone,
jogue-se um osso para o cão não ladrar mais,
façam silêncio os pianos e o tambor sancione
o féretro que sai com seu cortejo atrás.

Aviões acima, circulando em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: Ele Morreu.
Pombas de luto ostentem crepe no pescoço
e os guardas ponham luvas negras como breu.

Ele era norte e sul pra mim, leste, oeste e tanto
meus dias úteis quanto o meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
julguei o amor eterno: quem o faz se engana.

Apaguem cada estrela, joguem o sol fora,
ponham de lado a lua — nada disso agrada,
tirem o mar daqui, mandem o bosque embora,
porque tudo só pode agora dar em nada.

FUNERAL BLUES

Stop all the clocks, cut off the telephone.
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling in the sky the message He is Dead,
Put crêpe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever, I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun.
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good.

Veja abaixo a cena em que o original é declamado no filme:

Mais notícias

Este site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência de navegação. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.