Publicado em 08/06/2017 às 08h57.

Rapper de direita louva Bolsonaro, mas se inspira em Chico Buarque

Luiz, o Visitante é autor de hits como "Bolsonaro, o Messias" e diz que já foi agredido com pedradas por causa de sua posição política

Redação
Foto: Reprodução Facebook
Foto: Reprodução Facebook

 

Auto-intitulado o primeiro rapper “de direita” no Brasil, Luiz Paulo Pereira da Silva já assinou seus trabalhos como Mr. Gângster, mas agora é Luiz, o Visitante. Ele ganhou notoriedade nacional quando uma de suas músicas entrou no hit parade de diversas manifestações pró-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

O título da canção não deixa espaço para meias palavras: “Bolsonaro, o Messias”. E a letra começa assim: “Nem ele imaginaria / quantos soldados teria / lutando em prol da família / hoje somos a maioria”. Outra música do Visitante louva um ídolo de seu ídolo, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, citado por Bolsonaro, na votação do impeachment, como “o pavor de Dilma Rousseff”.

Luiz, o Visitante, aliás, pretende tatuar o coronel Ustra, junto com outros ícones militares como o ex-presidente Médici, em suas costas, em uma paródia da capa do álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”. “Eles não botaram o rosto das figuras que eles mais gostavam? Vou fazer igual”, explica, em entrevista à Folha de S. Paulo.

O jovem de 22 anos, estudante de psicologia, já lançou três álbuns e é apenas mais um elemento explícito da transformação da militância de direita, ou conservadora, no país. Um índice da chamada nova direita, que aglutina comportamentos e atitudes anteriormente exclusivos da esquerda, a exemplo da “direita transante” proclamada pelo funkeiro Pedro D’Eyrot, do Bonde do Rolê, um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL).

Por falar em signos e lugares comuns, Luiz não se encaixa no perfil “elite branca paulista” cunhando por Lula. Pernambucano como o ex-presidente, filho de uma dona-de-casa e um aposentado, ele cresceu e ainda mora na área mais pobre da zona norte de Recife. Ou seja, está longe de ser o playboy de que às vezes o acusam. Ele questiona o comportamento de seus desafetos e diz que já chegou ser agredido, inclusive com uma pedrada. “Eles falam tanto que o rap é livre e que pregam a liberdade de expressão, mas são contra a minha. Eu não sou contra a deles”, diz.

E por falar em “eles”, é ainda do outro lado da moeda ideológica que o artista arranja inspiração. Chico Buarque, por exemplo, que ele considera um dos maiores. “Chico Buarque é um dos maiores compositores do Brasil, pra ser sincero. Acho fascinante a mensagem subliminar nas letras dele, eu queria fazer aquilo, hoje faço pra falar mal deles”, diz, e logo em seguida emenda: “Falar mal não, falar a verdade”.

Muito da atitude de Luiz, como de outros artistas dessa tendência paródica, não passa de marketing. No Facebook, ele provoca: “Vou queimar a bandeira do comunismo no palco do próximo show”. Mas, na mesma entrevista da Folha, admite que algumas declarações não passam de forçação de barra. Em “#UstraVive”, por exemplo, ele manda um “viva o regime militar”, mas pondera: “Falei de um jeito que foi pra chocar, mas não defendo a volta do regime militar, defendo que foi necessário naquele momento contra a tentativa de golpe comunista”.

Ouça abaixo “Bolsonaro, o Messias”:

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