Publicado em 05/11/2025 às 14h52.

Residência artística voltada ao teatro negro é lançada em Salvador

Etapa formativa do projeto “Ordem Questionada”, do Coletivo Subverso das Artes, oferece oficinas gratuitas e bolsa de permanência

João Lucas Dantas
Foto: Divulgação/ Coletivo Subverso das Artes

 

Já estão abertas as inscrições para a residência artística “Qualificando a Desordem”, etapa formativa do projeto “Ordem Questionada”, do Coletivo Subverso das Artes, que busca estimular a ação cultural e o teatro negro baiano, sobretudo em bairros negros e marginalizados de Salvador.

Até o dia 9 de novembro, artistas moradores de comunidades como Engenho Velho da Federação, Engenho Velho de Brotas, Nova Brasília, Candeal e Santo Inácio poderão se inscrever para uma oportunidade única de viver um semestre repleto de oficinas de formação artística e teatral, ministradas por profissionais experientes da área.

A inscrição é gratuita e deve ser realizada por pessoas a partir de 18 anos que possuam vínculo ou interesse em teatro e disponibilidade para participar das aulas. O resultado da seleção será divulgado até 11 de novembro, no Instagram oficial do projeto @coletivosubversoo.

Formulário de inscrição: [Formulário de Inscrição | RESIDÊNCIA ARTÍSTICA: QUALIFICANDO A DESORDEM].

De novembro de 2025 a abril de 2026, a turma participará de oficinas quinzenais de escrita teatral, atuação, direção teatral, direção musical, cenografia, gestão teatral, comunicação estratégica e formação de público. As inscrições também estão abertas para participantes externos, que poderão participar de, no mínimo, três oficinas — ou de todas, se desejarem. Já os selecionados para a residência deverão participar de todas as oficinas obrigatoriamente.

Os residentes receberão uma bolsa de permanência durante os seis meses do projeto, como auxílio para transporte e alimentação, garantindo que consigam acompanhar as atividades de forma contínua. Ao todo, 10 inscritos serão contemplados, entre eles quatro integrantes do Coletivo Subverso das Artes. Paralelamente, 20 participantes externos acompanharão todas as atividades, totalizando 30 pessoas. A proposta é ampliar redes de aprendizagem, colaboração e troca de saberes entre artistas, comunidades e territórios da capital baiana.

Sobre o projeto

Mais do que uma ação formativa, o projeto “Ordem Questionada” busca romper barreiras e ampliar o acesso à arte em territórios que muitas vezes ficam à margem do mercado teatral. Com oficinas, apresentações e atividades culturais, a iniciativa reforça a existência de talentos periféricos que só precisam de oportunidade e estrutura para florescer. O objetivo é incentivar tanto a produção quanto o consumo artístico local, criando um espaço de protagonismo e visibilidade para jovens artistas das comunidades.

De acordo com o coordenador do coletivo, Zaya Olugbala, o nome do projeto é inspirado na peça “Ordem Questionada”, criada em 2019 pelo grupo para provocar reflexões sobre as estruturas sociais e as diversas formas de opressão.

“Como artista, promover uma reflexão é algo incrível e necessário, mas ainda não é o suficiente para quem se encontra insatisfeito com a forma de vida que a gente leva aqui na Babilônia. O projeto nasce da vontade de transformar reflexão em ação”, explica o músico.

A coordenadora Laura Sacramento complementa: “Queremos acessar espaços culturais fora do centro, simbólica e geograficamente. Assim como os artistas considerados perigosos por Platão, queremos provocar pensamento, questionamento e mudança — não fazer da arte um objeto, mas um instrumento de transformação.”

Por trás dos questionamentos

O projeto é idealizado por Laura Sacramento e Zaya Olugbala, coordenadores do Coletivo Subverso das Artes, grupo formado por jovens artistas comprometidos com a promoção da arte negra.

Laura é graduada em Letras Vernáculas pela UFBA e mestranda em Literatura e Cultura, com trajetória que passa pelas artes plásticas, literatura e teatro, onde atua como roteirista, assistente de direção e coordenadora do coletivo.

Zaya é músico multi-instrumentista e estudante de Produção Musical na UFRB, com experiência em trilhas sonoras e direção musical. A coordenação geral é de Juliana Sousa, produtora cultural e mediadora formada pelo Teatroescola do Instituto de Arte e Cultura da Bahia, com atuação em projetos voltados à educação, acessibilidade e valorização da juventude negra.

Sobre os formadores

As oficinas serão ministradas por artistas de diferentes linguagens:

  • Onisajé — Escrita Teatral e Direção Teatral

  • Diana Ramos — Atuação: Corpo, Voz e Performance

  • Maurício Lourenço — Direção Musical

  • Clara Matos — Cenografia

  • Nell Araújo — Gestão Teatral

  • Ana Paula Potira — Formação de Público

  • Fábio Lucas — Comunicação Estratégica

Criação, laboratório e circulação

A segunda etapa do projeto, “Circula e Questiona”, será dedicada à criação e circulação dos espetáculos resultantes das oficinas. Serão criados e apresentados de dois a três espetáculos nos bairros participantes, garantindo o retorno das criações às comunidades.

Arte que transforma

Ao longo de seis meses, a residência “Qualificando a Desordem” pretende consolidar um espaço de troca e construção coletiva, fortalecendo redes entre artistas, educadores e comunidades. O projeto reafirma a arte como ferramenta de transformação social e afirmação de identidades negras em Salvador.

O projeto “Ordem Questionada” foi contemplado pelos Editais da Política Nacional Aldir Blanc Bahia, com apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura (Secult-BA), via PNAB, direcionada pelo Ministério da Cultura – Governo Federal.

João Lucas Dantas
Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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