Russo Passapusso celebra união entre literatura e música na Flica

Russo Passapusso, vocalista da banda BaianaSystem, que participou da mesa “Ler é Massa” ao lado de Rita Batista, na abertura da 13ª Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), nesta quinta-feira (23), contou ao bahia.ba como une literatura e música em sua trajetória.

O músico participou do projeto da história em quadrinhos 100 Discos para Conhecer Aguardela, dos autores Daniel Lopes e Raphael Salimena, da editora Pipoca & Nanquim, lançado em novembro do ano passado. Ele escreveu o prefácio da obra e lançou o single “Dora”, complementar à narrativa do livro, com a participação de Karina Buhr.

“O processo foi tão natural que eu nem consegui lembrar, porque faz tão parte de mim. Foi muito lindo. ‘Dora’, dos discos de vinil, cruzou as histórias dos quadrinhos. E as HQs têm me ajudado muito a entender um pouco de história, de como fazer as coisas, de como as coisas caminham”, relembra Russo, feliz com a lembrança de Aguardela.

100 Discos para Conhecer Aguardela conta a história de uma cidade fictícia por meio da criação de 100 capas de discos imaginários, atravessando décadas, gêneros musicais e subculturas, uma fusão entre quadrinhos, música e literatura.

“No final das contas, esse projeto foi muito bom porque criou uma nova cidade, um novo lugar dentro do meu coração e trouxe um grande amor de sempre. ‘Dora’ é uma história muito linda. Quando eu falei ali que eu lia pelos discos, que engraçado, você me lembrou. Realmente, no final, a gente lançou um livro que falava de discos. Olha como o mundo deu voltas”, destacou.

“Te agradeço pela pergunta, fez o link de tudo, e cada vez mais eu percebo por que estou aqui. 100 Discos para Conhecer Aguardela foi um mundo criado no meu peito. Lembrei de outras histórias, mas essa aí foi tão natural que era como se todo mundo já soubesse”, completou o vocalista.

Diversidade editorial

Recentemente, o jornal O Estado de S. Paulo publicou a matéria “O romance literário feito por homens brancos heterossexuais perdeu espaço. Devemos nos importar?”, que abordou o crescente debate sobre diversidade no mercado editorial. O texto citava a declaração de uma representante de agência literária de que “grandes obras não deixariam de ser publicadas porque os autores são brancos”.

Questionado sobre o assunto, Russo afirma que esse tipo de posicionamento “deve ser destruído”. “É para servir como mais força para a gente lutar. Não é o comentário, nem é a dor, nem é a imposição que congela, mas o que faz a gente lutar cada vez mais é o que multiplica. Ou esse comentário merece o esquecimento, ou merece ser lembrado para a gente lutar mais ainda contra”, argumentou.

Para o cantor e compositor, dar voz a diferentes narrativas ajuda a sociedade a se reconhecer. “Dar voz para a diversidade é dar voz para a gente se entender mais. Não é para a gente entender mais sobre o outro, é para a gente se entender mais. Eu acho que isso é um elo principal”, projetou.

Ao final, Russo deixou uma mensagem para a juventude, principalmente estudantes de escola pública: “Eu sou vocês ontem. Eu não imaginava nem estar aqui, nem estar em cima do trio, nem com o microfone, nem falando para uma rádio universitária ou comunitária. Sei que cada pessoa que está vendo a gente agora tem um sonho. Arte está em tudo, cultura está em tudo. Então, esse autorreconhecimento, esse entendimento. A gente precisa se ouvir”, concluiu.