‘Não tinha nada contra nem a favor dos militares’, diz Roberto Santos
Ao bahia.ba, ex-governador conta sobre rompimento com ACM, rebate a crítica de Rui Costa, lamenta o fim do Museu de Ciências e Tecnologia e fala da situação atual do país
Aos 90 anos, completados em setembro do ano passado, o ex-governador da Bahia, Roberto Santos, se mantém ativo e muito bem informado. Recorda-se do seu passado e fala do presente sem hesitar. Defende seu legado, enquanto administrador do Estado, e critica a descontinuidade de ações implantadas durante sua gestão, como o Museu de Ciências e Tecnologia e o Centro de Convenções de Salvador.
Ao bahia.ba, o ex-chefe do Executivo baiano, que chegou ao Palácio de Ondina na ditadura, conta que não teve motivos para “ter uma atitude frontalmente contrária” aos militares. “Não tinha nada contra nem a favor”, frisa, ao ressaltar que “praticamente” não sofreu restrições políticas ou administrativas no período.
Governador, entre 1975 e 1979, Roberto Santos não teve candidato à sucessão. Na época, Luís Viana Filho e Antônio Lomanto Júnior e o ex-vice-governador Jutahy Magalhães se compuseram com Antonio Carlos Magalhães, que acabou nomeado por Ernesto Geisel.
Segundo Roberto Santos, houve um “entendimento” entre ACM e o então ministro do Serviço Nacional de Informações (SNI), João Baptista Figueiredo, que interferiu para Antonio Carlos voltar ao poder. Logo depois, o próprio ex-chefe do SNI virou presidente da República, o último do regime.
Ainda na entrevista, o ex-governador fala sobre o rompimento com ACM e nega que tenha administrado o Estado com a presença de carlistas. “Ele [ACM] dizia que ia fazer meus secretários. Não conseguiu fazer nenhum. Único secretário que foi do mesmo governo dele foi José Mascarenhas, que é um excelente e competente técnico”, afirma.
Roberto Santos também rebate a crítica do governador Rui Costa (PT) sobre o Centro de Convenções, lamenta o fim do Museu de Ciências e Tecnologia e fala sobre a situação atual do país.
Leia a entrevista na íntegra:
bahia.ba – O senhor decidiu doar seu acervo pessoal para Centro de Memória da Bahia. O que continha neste arquivo?
Roberto Santos – Durante muito tempo eu colecionei muita documentação das coisas que eu frequentava enquanto governador, sobretudo, fotografias. Mais documentos outros também, que são de interesse mais amplo e geral. Quando Consuelo Novais Sampaio era diretora da Fundação Pedro Calmon, eu resolvi, em conversa com ela, doar as fotografias e outros documentos para fundação, onde há o memorial dos ex-governadores. É uma coleção que vem sendo acumulada há bastante tempo e foi muito bem cuidada. Consuelo faleceu e vieram os substitutos que têm demonstrado também muito interesse na continuidade dessas coleções, que dizem respeito aos ex-governadores. Foi, pela confiança que eu tinha em Consuelo, e depois nos presidentes que a sucederam na Fundação Pedro Calmon, que achei conveniente fazer essa doação, para dar uma oportunidade de apreciação mais ampla de estudiosos da história da Bahia. A maior parte [do acervo] é de coisas que vêm do meu governo, mas também tem outras situações. Posso dizer, por exemplo, que, como viajei muito pelo interior enquanto estava no governo, tinha mais de quatro mil fotografias, perto de cinco, tiradas na Bahia inteira. Então, vai encontrar fotografias ao lado de prefeitos, de diretores de escolas… Eu sempre dei muita ênfase à Educação, em épocas diversas. Então, foi isso que constituiu a maior parte do acervo. Um dos funcionários da Fundação Pedro Calmon teve um empenho muito grande em procurar comigo para junto identificarmos o maior número das pessoas que estavam me acompanhando nas fotografias. Conseguimos identificar muita gente [nas fotos], mas outras estavam um pouco antigas e não foi possível lembrar. A minha vida foi, sobretudo, na universidade. Fui professor da Faculdade de Medicina, depois fui reitor e me tornei professor emérito. Então, em grande parte [o acervo], são de coisas ligadas à Universidade Federal da Bahia. Isso está acumulado e se acrescenta ao convívio no governo do Estado, onde estive de 1975 a 1979. Já tem bastante tempo. O conjunto se estende por mais de 30 anos, 40 anos, talvez.
.ba – O senhor foi secretário da Saúde no governo de Luís Viana. Foi também governador da Bahia e reitor da Ufba. Depois disso, praticamente saiu da vida pública. Por quê?
RS – Pela idade. Já completei 90 anos. A essa altura – ainda estou raciocinando direito –, mas, infelizmente, o fato é que já não tenho a mesma disposição para enfrentar toda aquela trabalheira que consistiram as posições que ocupei. Realmente, quando me formei, passei uma temporada fora da Bahia, completando minha formação de médico. Estive nos Estados Unidos, na Inglaterra e voltando para cá, inicialmente, trabalhei em regime de tempo integral. Naquele tempo, ainda não era remunerado, era uma posição que a pessoa adotava de livre e espontânea vontade, ou não adotava. Trabalhei então no Hospital das Clinicas, que hoje tem o nome do meu pai: Hospital Universitário Edgar Santos. Lá trabalhei junto a uma juventude de estudantes de Medicina e recém-formados, vários deles trabalharam junto comigo, e com isso então tive um período… Em 1949, eu me formei. Em 1950 fui para o exterior e em 1953 eu voltei. Daí para frente, fiquei em regime de dedicação exclusiva até 1967. Portanto, de 1950 a 1967 trabalhei no Hospital das Clinicais. A essa altura, Luís Viana estava no governo e me convidou para assumir a Secretaria de Saúde. Tinha uma série de ideias de como proceder à prevenção de doenças. A Secretaria de Saúde do Estado tem um papel importante nisto e então aceitei, inclusive, pelo interesse em aplicar certas coisas que eram relativamente novas e queria que fossem aplicadas na Bahia. Mas acontece que, pouco tempo depois que assumi a Secretaria de Saúde, abriu a eleição pelo Conselho Universitário de uma lista tríplice [para reitor da Ufba] para ser enviada ao presidente da República. Naquele tempo, a nomeação do reitor era feita pelo presidente da República. Começou a ter uma série de disputas, outros candidatos a reitor apareceram e havia o empenho para que eu também me candidatasse. Homenagem ao trabalho que meu pai tinha feito na reitoria. A princípio, resisti. Mas depois, com o tempo… Resisti, alegando, com razão, que tinha assumido um compromisso com Luís Viana de ocupar a secretaria durante alguns anos. Afinal, acabei cedendo e aceitando a candidatura. E fui eleito no primeiro lugar na lista, como o mais votado. Daí essa lista foi para Brasília e lá o presidente da República fez a nomeação do primeiro da lista, que era eu. E assumi a reitoria. Eu era membro também do Conselho Federal de Educação, órgão composto de técnicos que trabalharam nessa área e foram escolhidos pelo governo federal. Quando estava como membro do Conselho Federal da Educação, em Brasília, tinha acabado de assumir a presidência do conselho, fui chamado para ir ao gabinete do ministro da Educação, que era na época o senador gaúcho Tarso Dutra, que me chamou e disse que tinha indicado o meu nome dentro da lista tríplice para ser o futuro reitor. Ainda resisti, falando de outros nomes que estavam na lista, mas ele entendeu que, se eu não aceitasse, haveria uma dificuldade grande no governo. E fui nomeado reitor. Fiquei quatro anos na reitoria. Quando terminou, estava pronto para me candidatar ao governo do Estado, e foi o que aconteceu. Pouco tempo depois fui para o governo e aí me dediquei totalmente.
.ba – O que foi mais difícil enquanto esteve na Secretaria de Saúde?
RS – Eu fiquei na secretaria dois meses, menos de dois meses. Não era propriamente o mais difícil. Eu estava procurando associar uma atenção muito grande na prevenção e na ampliação do número de leitos, que na época era ainda bastante reduzido para o número de pacientes que necessitavam de cuidados hospitalares. Tanto que uma das minhas preocupações quando fui para o governo foi fazer o hospital, que fica no Cabula, e a Assembleia Legislativa deu meu nome. Não fui eu que inventei o nome. Foi a Assembleia Legislativa que deu o meu nome e continua lá.
.ba – Como reagiu o governador Luís Viana quando soube que o senhor deixaria a Secretaria de Saúde?
RS – Me ajudou a aceitar a reitoria. Tanto Luís Viana quanto o outro candidato a reitor, que nós imaginávamos que deveria ser o futuro reitor, o professor Orlando Gomes dos Santos, que tinha sido professor de Direito e tinha sido vice do meu pai durante muito tempo. É uma pessoa de grande capacidade, mas não sei porque o governo preferiu que fosse eu. E eu não tive como escapar disso. Inclusive, com apoio do próprio Orlando Gomes, que disse que estaria sempre presente para me ajudar quando eu pretendesse interpretar certas coisas da atividade de reitor, que ele tinha alguma grande experiência por ter acompanhado por muito tempo o meu pai.
.ba – E Orlando Gomes de fato ajudou em sua administração?
RS – Ajudou muito no Conselho Universitário, que era o órgão que tinha grande influência aos colegas professores. Ele era muito querido e respeitado e me ajudou muito no conselho. Havia, às vezes, decisões difíceis. Eu peguei a reitoria, justamente, no momento em que houve a chamada Reforma Universitária. A reforma do ensino superior. A primeira escola de ensino superior no Brasil foi aqui na Bahia, a Faculdade de Medicina, em 1808, quando saindo de Portugal a família real portuguesa veio para o Brasil, porque Napoleão ameaçava invadir Portugal. E quando veio para o Brasil criou duas faculdades de Medicina, a primeira na Bahia e depois no Rio de Janeiro. Com isso se constituiu a primeira escola de nível superior no Brasil, apesar de o Brasil estar descoberto desde 1500. Mas, os portugueses, na época, não aceitavam universidade no Brasil e nas outras colônias para competir com a Universidade de Coimbra. Formou-se, então, a primeira escola, que era da área da saúde. Com o tempo, criaram duas faculdades de Direito em Pernambuco (Olinda) e em São Paulo. Então, foram duas de Medicina na Bahia e no Rio de Janeiro e duas de Direito em Recife (sic) e São Paulo. Foi somente em 1934 que, em São Paulo, várias escolas que existiam se reuniram para formar a Universidade Estadual de São Paulo. Naquela época, a Alemanha estava na ditadura do nazismo e, como é bem conhecido, fez com que os judeus – muitos de grande capacidade – fossem perseguidos e saíssem da Alemanha e de outros países, onde o nazismo existiu e ocupou. Com isso, São Paulo absorveu esses professores de alto nível, que eram de origem judaica e que a Alemanha não queria que permanecessem lá. A nossa universidade, entre 1934 e por vários anos, se criou pela união das faculdades que existiam em cada cidade. Aqui na Bahia havia as faculdades de Medicina, de Direito, a Politécnica, a de Belas Artes e outras que foram reunidas, cada qual incluindo as disciplinas pré-profissionalizantes. Para citar um exemplo, as disciplinas básicas de matemática, de física, ou de letras eram fragmentadas por várias faculdades para cuja profissão era necessária. A disciplina de física existia na Politécnica, na Faculdade de Arquitetura. Com isso, o Brasil não teve condição de desenvolver suficientemente o ensino e a pesquisa nessas disciplinas básicas. Essa é, talvez, uma explicação plausível para que o Brasil nunca tenha recebido um Nobel, enquanto outros países latinos americanos tinham pesquisadores que dispunham do prêmio.
.ba – A reforma do ensino superior veio neste sentido…
RS – A reforma veio no sentido de juntar todas as disciplinas em um só instituto. Então, nasceram os institutos de Matemática, de Física, de Química, de Letras e assim por diante. Foi uma reforma de grande importância. Resultou no seguinte: o local onde foi implantada Brasília não tinha faculdades, era completamente vazio, e foi preciso criar outro conceito de universidade que não fosse pela reunião das diferentes faculdades. Com isso, resolveram – ideia de um baiano, sobretudo, Anísio Teixeira – junto com o companheiro dele, Darcy Ribeiro, idealizar o modelo da Universidade de Brasília, em 1960. Pouco depois veio a crise que abalou o Brasil, no começo da década de 1960. A Universidade de Brasília foi criada por volta de 1961, com um modelo diferente daquele outro, em vez de ser pela aglomeração das faculdades, era começando pelas disciplinas básicas: Instituto de Matemática, de Física e assim por diante. Isso foi aceito, mas por pouco tempo, porque veio o regime militar, que perturbou muito esse conceito que tinha sido criado para Brasília.
.ba – O senhor foi escolhido pelo presidente Ernesto Geisel para ser governador da Bahia. Como era sua relação com os militares? Com Geisel?
RS – Eu não tinha nenhum motivo para, enquanto estavam esses militares, com relação à Bahia, ter uma atitude frontalmente contrária. De modo que cuidei da minha vida com relação à Bahia e trabalhei como pude.
.ba – Então, o senhor não tinha relação com Geisel e os militares?
RS – Não tinha nada contra nem a favor.
.ba – O senhor sofreu alguma restrição administrativa ou política naquele período?
RS – Praticamente não, porque cuidei muito da Bahia, de trabalhar aqui. Naquele momento, alcancei a Bahia em um período de grande significação, porque era um período em se vivia até ali [um modelo de economia] agroexportadora. A Bahia produzia cacau, exportava em grande quantidade, e vivia dos frutos dessas exportações. A partir de certo momento, quando o petróleo começou a ser produzido no Brasil, a Bahia deixou a economia agroexportadora e começou a ser industrial. Foi quando se criou o Pólo Petroquímico e outras indústrias que foram atraídas. Essa é a grande coisa daquele tempo. A transformação da economia baiana de agroexportadora em economia industrial.
.ba – O senhor acha que o governo militar foi importante para o desenvolvimento econômico da Bahia e do Brasil?
RS – Na Bahia, coincidiu com esse momento, que foi realmente muito importante. De todas as coisas que fiz, no período de governo, aquela que mais lamento que não tenha tido continuidade é o Museu de Ciências e Tecnologia. Foi um trabalho muito bem cuidado, que teve o apoio do Conselho Britânico. Naquela época, a Inglaterra estava em situação econômica excelente e financiou vários trabalhos. Eles mandaram para cá um dos membros do Museu de Ciência e Tecnologias de Londres, que teve papel fundamental na formação do Museu de Ciências e Tecnologia [da Bahia]. O museu era ativo, atuante, dinâmico e didático. Esse museu ajudou muito na criação de uma mentalidade industrial da parte dos jovens daquela época, que não estavam habituados. A Bahia não tinha pessoal jovem que tivesse se voltado para o convívio de uma economia industrial. E o museu foi preparando a juventude. Algum tempo depois jogaram fora o museu, acabou. O museu tinha uma instalação excelente, um espaço bastante amplo. Permitiram que os terrenos em volta fossem ocupados. De propósito, foram levando o museu a ser fechado. Hoje, não existe mais. Hoje, não, há algumas décadas.
.ba – O que o senhor considera ser o grande legado do seu governo?
RS – Embora não seja o maior, o mais rico, eu creio que, para a implantação da era industrial da Bahia, a coisa individualizada e mais importante foi esse Museu de Ciências e Tecnologia, para formar a juventude, que passou a enfrentar o empreendimento na Bahia.
.ba – A historiografia conta que o senhor rompeu com ACM no primeiro dia do seu governo. É verdade?
RS – Nem sei quando foi. É uma coisa que deve ter preocupado a ele, mas a mim não preocupou. Realmente, houve muita tentativa de insistir nessa ruptura. Eu não dei essa bola toda para isso não.
.ba – Foi ACM que quis romper?
RS – Suponho que sim (risos).
.ba – Por quê?
RS – Não sei (risos). Não sei.
.ba – Conta-se que ACM tentou várias vezes se reaproximar do senhor. E o senhor não quis. É verdade?
RS – Não tenho lembrança de ele ter tentado, não. Simplesmente, ele procurou complicar o relacionamento, mas eu nunca tive tanta preocupação com isso.
.ba – Como era a relação sua com ACM?
RS – Não existia relação. Só isso (risos).
.ba – O senhor não teve um candidato à sua sucessão. Os ex-governadores Luís Viana Filho e Lomanto Júnior, com apoio do ex-vice-governador Jutahy Magalhães, acabaram compondo com ACM, que foi nomeado de novo para administrar a Bahia. Por que o senhor não fez um sucessor?
RS – O presidente Figueiredo, com quem eu nunca tive muita aproximação, e Antonio Carlos eram muito amigos. E eles lá se entenderam. Naquele tempo, os ministros do SNI [Serviço Nacional de Informações] do governo tinham um poder muito grande na escolha do governador. E o Figueiredo, então, fez o Antonio Carlos.
.ba – O senhor tinha relação melhor com Geisel do que com Figueiredo?
RS – Com Geisel tinha uma relação muito respeitosa. O estilo dele era mesmo esse, mas era uma relação de muita liberdade. Figueiredo já era chefe do SNI, quando ocupei outras posições, mas nunca tive aproximação maior.
.ba – Por que o senhor não fez uma limpeza no governo e permaneceu a administrar com carlistas?
RS – Não. Ele [ACM] dizia que ia fazer meus secretários. Não conseguiu fazer nenhum. O único secretário que foi do mesmo governo dele foi José Mascarenhas, que é um excelente e competente técnico. Foi quem estava trabalhando mais intensamente no Pólo Petroquímico. E eu não ia interromper esse trabalho que vinha de Luís Viana. Depois, Antonio Carlos assumiu com José Mascarenhas e eu mantive. Foi o único. Nenhum outro.
.ba – Então, o senhor fez a limpeza no governo?
RS – Fiz, completa. Completa. Em todas as outras secretarias, exceto essa.
.ba – E no segundo escalão, manteve carlistas?
RS – Confesso que nem prestei atenção a isso. Mas não tinha relação com ele. Nenhuma aproximação. Mas não creio que tenha mantido pessoas do governo dele não, com exceção do José Mascarenhas.
.ba – No livro Política é paixão, ACM diz que o senhor tinha ciúmes da relação dele com o seu pai, Edgar Santos. Acha que ele quis te provocar?
RS – (risos) Eu tinha relação de pai para filho, que era a melhor que pode existir. Agora, havia o seguinte: o pai de ACM era professor da Faculdade de Medicina, muito amigo do meu pai, muito amigo meu. Um intelectual, excelente orador. Foi meu professor, inclusive. Fez um trabalho excelente. Agora, quando Antonio Carlos conseguiu passar no vestibular de Medicina, ele procurou, como era do estilo dele, assumir uma presença entre os colegas da faculdade. Nos primeiros anos, o ensino das disciplinas pré-profissionais de saúde era no Terreiro [de Jesus], na Faculdade de Medicina. Ele, então, aspirando a presidência de diretório, quando chegava a hora do almoço – meu pai era diretor da Faculdade de Medicina – ia para lá e esperava. Meu pai chamava e ele ia. Era assim. Ele ia para lá, sentava e esperava.
.ba – O Centro de Convenções foi construído no seu governo e, recentemente, foi alvo de uma tentativa de CPI na Assembleia. O governo Rui Costa condenou o local onde foi construído por ter, segundo ele, “salinidade do mar” (veja aqui). Por que o senhor escolheu aquele local? O senhor concorda com a crítica do governador?
RS – Não concordo. O local é excelente. Fica perto do aeroporto, fica perto da maior parte dos hotéis da Bahia e teve um projeto, do ponto de vista arquitetônico, realmente muito interessante, inovador e importante. Agora, funcionou muito bem durante quase 40 anos, sem nenhuma conservação. Então, a falta de conservação – conservação, que era exigida – é que levou a essa situação de hoje, que é muito recente. O Centro de Convenções atraiu muitos turistas para a Bahia e teve reuniões lá que foram extremamente importantes para a Bahia. O local tem maresia. Tem como prevenir mesmo tendo maresia de grande intensidade. Agora, tem que ter cuidado.
.ba – O senhor acha que o país hoje é mais corrupto do que no governo militar?
RS – Essa corrupção, que você está vendo agora cresceu muito ultimamente. Você vê uma entidade como a Petrobras, que era uma instituição muito respeitada, muito bem equipada, com pessoal do melhor nível… de repente, esses governos mais recentes jogaram uma porção de gente que não teve nenhuma cerimônia e meteu os pés pelas mãos. De todas as entidades que têm sofrido com essa corrupção, a pior de todas é Petrobras, que era um modelo internacional e que, até recentemente, praticamente não tinha corrupção.
.ba – Os governos Lula e Dilma fizeram bem para o país?
RS – Eles não cuidaram disso. Não se interessaram. E aceitaram, sem dúvida, gente que se tornou corrupta. Ou já era corrupta.
.ba – Para encerrar, como Roberto Santos quer ser lembrado?
RS – Como alguém que trabalhou na educação e na prevenção da saúde. Esses dois temas. A educação visando a economia industrial e a prevenção da saúde.
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