Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba.
DRT: 7543/BA
Publicado em 12/10/2025 às 05h00.
Conheça a história de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil
Do milagre da pesca à consagração, a história da devoção brasileira revela fé, esperança e amor que atravessam gerações
João Lucas Dantas

Neste dia 12 de outubro, é comemorado o Dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a Padroeira do Brasil. Para celebrar a data especial, o bahia.ba conversou com o padre Cleriston Mendes, pároco do Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em Salvador, que nos contou mais sobre a história da santa, a importância da data e a devoção dos fiéis.
A Nossa Senhora da Conceição Aparecida é uma das invocações de Maria, mãe de Jesus Cristo. O título, sempre evocado na Ladainha Lauretana (uma prece dirigida à Virgem Maria), faz relação com o dogma da Imaculada Conceição, que afirma que ela foi concebida sem a mancha do pecado original.
A Igreja Católica ensina que, desde o primeiro instante de sua existência, foi preservada do pecado pela graça de Deus, preparando-a para ser a Mãe do Salvador. Este dogma foi proclamado pelo Papa Pio IX em 1854, na bula Ineffabilis Deus.
Primeira aparição
Em 12 de outubro de 1717, três pescadores – Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso – lançaram suas redes no rio Paraíba do Sul, em Guaratinguetá (SP), conforme havia sido festejado no vilarejo para receber o então governador do Brasil, o Conde de Assumar. Após uma reza pedindo bons resultados, puxaram a rede e encontraram primeiro o corpo e depois a cabeça de uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição, feita em terracota escura.
Na mesma pescaria, recolheram tantos peixes que o barco quase afundou. Esse episódio milagroso despertou grande comoção local. A imagem foi guardada em um oratório improvisado em Porto Itaguaçu (nome que significa “pedra grande”, em tupi-guarani), e logo os moradores passaram a venerá-la como a “Nossa Senhora Aparecida” do rio Paraíba.
“Quando juntaram o corpo com a cabeça, naquela imagem escurecida, ela adquiriu o nome naquele vilarejo porque havia ‘aparecido’ naquele local. Por isso ficou conhecida como Nossa Senhora da Conceição Aparecida”, explicou padre Cleriston.
“É uma Nossa Senhora só, a Mãe de Jesus, mas, dependendo do lugar onde ela aparece, ela recebe o nome ou o título daquele local, como Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora de Guadalupe e, aqui no Brasil, Nossa Senhora Aparecida”, esclareceu o pároco.
Após encontrarem a imagem, foi feita uma capelinha, onde foi colocada, e logo o povo começou a demonstrar sua devoção a Nossa Senhora. “Com o tempo, começaram a surgir alguns milagres — os primeiros atribuídos a ela — e foi ficando famosa pelos prodígios que aconteciam naquele vilarejo. Logo começaram muitas peregrinações ao local da imagem”, acrescenta.
Além do milagre da própria pescaria, outros relatos pioneiros fortaleceram a devoção. Logo no pequeno oratório de Itaguaçu houve o chamado “milagre das velas”: velas diante da imagem apagavam-se repentinamente e voltavam a acender sozinhas, sem vento, nem explicação.
O padre Francisco da Silveira foi um missionário jesuíta que, em 1748, registrou um dos primeiros relatos históricos sobre a devoção a Nossa Senhora Aparecida. Em sua crônica, ele descreveu a imagem como “moldada em argila e de cor escura, famosa pelos muitos milagres realizados”, mencionando que já atraía devotos de regiões distantes.
Nos anos seguintes, surgiram relatos de curas e libertações atribuídas à intercessão da Padroeira, popularizando seu culto entre devotos de diversas origens.

Foto: Acervo CDM
Nascimento da Padroeira do Brasil
A devoção popular conduziu ao reconhecimento oficial de Aparecida como padroeira do país. Em 16 de julho de 1930, o Papa Pio XI assinou o decreto que proclamava “Rainha do Brasil e Padroeira Principal” a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. A proclamação solene ocorreu em 31 de maio de 1931, no Rio de Janeiro, reunindo cerca de um milhão de pessoas.
Na cerimônia participaram o então presidente Getúlio Vargas, bispos, diplomatas, e a imagem original foi trazida de Aparecida para a capital por Dom Sebastião Leme. Finalmente, em 30 de junho de 1980, a Lei Federal nº 6.802 tornou feriado nacional o dia 12 de outubro (Dia de Nossa Senhora Aparecida) e a declarou em lei oficialmente como Padroeira do Brasil.
“O dia 12 de outubro foi escolhido como feriado porque foi o dia em que os pescadores encontraram a imagem no Rio Paraíba. Muita gente acha que foi por causa do Dia das Crianças, mas não foi”, desmistifica o padre.

Foto: Reprodução/ Redes sociais
Relação de devoção dos fiéis
Para o pároco do santuário dedicado a Nossa Senhora Aparecida, à frente há seis anos, é de grande importância para sua trajetória de fé ver a relação dos fiéis com a santa. “Eu vejo a realidade de muitas pessoas que vêm agradecer. Primeiro, vêm pedir milagres, mas também vêm expressar gratidão por terem recebido graças”.
“A gente percebe a devoção e o carinho que as pessoas têm por Nossa Senhora, principalmente nesse período festivo, quando muitas pessoas vêm de vários lugares, não só aqui do bairro (Imbuí), porque aqui é uma paróquia, que tem essa característica territorial. Mas o santuário é diferente. É um lugar santo, onde acontece muitas peregrinações e pessoas de várias partes chegam para ter esse encontro com a imagem e agradecer as bênçãos recebidas”, expressou o padre.
Para o líder religioso, celebrar e estar à frente do local é uma “alegria muito grande”. “Cada peregrino e cada pessoa que chega aqui traz uma história, uma fé, uma espiritualidade muito devocional, pedindo a intercessão de Nossa Senhora para sua vida e sua família”, relata.
Maria aponta para seu filho Jesus
O padre ressalta a importância de lembrar que Nossa Senhora não pode fazer nada por si só. Segundo o pároco, na Sagrada Escritura vemos que ela sempre segue e aponta para o seu filho Jesus Cristo.
“Desde quando recebeu o chamado de Deus para ser a Mãe de Jesus, e também ao longo de toda a sua vida — no primeiro milagre de Jesus, nas bodas de Caná, quando intercedeu ao faltar o vinho; no seguimento a Jesus, na caminhada até o alto da cruz, onde ela estava presente; e também no Pentecostes, no início da Igreja, quando o Espírito Santo foi derramado sobre os apóstolos”, destacou.
“Tudo isso mostra que Nossa Senhora sempre esteve seguindo Jesus. E é isso que ela quer de nós, que sigamos o seu Filho, para que tenhamos um mundo melhor, de amor, paz e fraternidade. Ela é modelo de mulher obediente, que procurou fazer a vontade de Deus. E é assim que ela nos pede também, que sigamos os caminhos do Senhor”, salienta padre Cleriston.

Foto: Reprodução/ Redes sociais
Programação do Santuário para celebrar a data
Neste domingo, a programação no Santuário começa às cinco horas da manhã, com a alvorada, uma queima de fogos tradicional. Às 5h30, acontece o Ofício de Nossa Senhora. Às 6h30, ocorre a primeira missa, conhecida como Missa das Redes. “Uma celebração famosa aqui, porque no final dela uma rede é passada sobre a cabeça de todo mundo”, explicou.
Às 9h30, acontece a segunda missa; ao meio-dia, a Missa das Crianças; e às 15h, a procissão ao redor da praça. Depois da procissão, às 18h, haverá a Missa Campal de encerramento, celebrada pelo cardeal de Salvador, Dom Sérgio da Rocha.
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