Jornalista, repórter e produtor de conteúdo. Com experiência em redação e marketing digital, faz cobertura de esporte e política no bahia.ba. Antes disso, foi editor do In Magazine – Portal iG e repórter do Portal M! – Muita Informação.
De pai para filho: como nasce a paixão por um time de futebol
Especial do bahia.ba mostra como a influência paterna define corações e camisas no esporte

No futebol, muitas paixões nascem antes mesmo da criança saber o que é um gol. Para muitos torcedores, o primeiro contato com um clube vem de casa — mais precisamente do pai, que apresenta o hino, leva ao estádio ou compartilha o ritual de acompanhar uma partida.
É nesse elo silencioso, mas profundo, que se forma a torcida que atravessa gerações.
A relação entre pais e filhos no futebol é marcada por memórias e gestos que vão muito além das quatro linhas.
O primeiro jogo visto lado a lado, a camiseta vestida com orgulho e as histórias de craques contadas como lendas de família. Tudo isso constrói uma herança afetiva que molda o time do coração.
Em alguns casos, essa influência é tão natural que a criança cresce acreditando que nasceu torcendo para aquele clube.
Momentos compartilhados, rituais repetidos e um amor transmitido de geração em geração fortalecem essa ligação.
O futebol, nesse contexto, não é apenas um esporte: é um símbolo de união e pertencimento que conecta famílias, mesmo quando a distância física separa os lares.
Como nasce a paixão por um time?
Essa conexão foi estudada pelo professor Rodolfo Ribeiro, que em sua tese de doutorado na USP investigou como se forma a preferência por um clube.
O trabalho, que combinou pesquisas qualitativas e quantitativas, concluiu que a escolha costuma ocorrer entre os 6 e 10 anos de idade e é influenciada por três fatores principais:
1- O time dos familiares
2- O fanatismo dos familiares
3- Os títulos do clube no momento da escolha
Para Ribeiro, essas variáveis se combinam de forma única para cada criança, mas têm um ponto em comum: o peso da presença familiar, especialmente do pai, no momento da decisão.
Laço fortalecido pelo futebol

Este Dia dos Pais será o primeiro que o advogado Leandro Valverde passará sem o pai, Carlos Artur, que faleceu em janeiro deste ano.
Apesar da tristeza da perda, ele guarda vivas as lembranças que o futebol e o Vitória proporcionaram ao lado do seu herói.
“Eu gostava de ir [ao Barradão] para curtir cada momento de estar ainda mais com ele e aproveitar da melhor companhia que tive na vida. Sempre amei estar com meu pai, ele foi meu herói e meu exemplo em tudo. Ser Vitória sempre nos aproximou ainda mais”, declarou ao bahia.ba.
Pai e filho compartilhavam não só a paixão pelo clube, mas também a preferência pela posição de zagueiro.
“Quando era muito novo, não tinha muita habilidade e meu avô achava que não iria gostar de futebol. Meu pai pensava ao contrário. Ainda bem! Ele tentou bastante que eu gostasse de futebol, me colocou na escolinha de futebol desde os 6 anos de idade. Ele sempre foi zagueiro e queria que eu jogasse na mesma posição”, contou.
“Meu primeiro campeonato na OAB foi bem emocionante, pois tive que jogar na lateral direita, porque ele era o zagueiro e fomos campeões juntos. Foi um dia que me marcou bastante e guardo com muito carinho”, complementou.
Por orientação médica, a dupla deixou de frequentar o Barradão e passou a acompanhar os jogos em casa, com Leandro zelando pelo pai. Nos clássicos Ba-Vi, a tensão era redobrada.
“Ele ficava muito nervoso e diversos jogos tive que assistir com a chave do carro na mão. Algumas vezes eu nem olhava para a TV e torcia mais para ele se acalmar do que pelo resultado positivo. Era divertido e tenso ao mesmo tempo. Mas sempre era muito bom assistir com ele. Mudava meus horários para ficar livre no jogo”, disse.
A relação com o Vitória esteve presente até no adeus a Carlos Artur, cujo enterro teve bandeira do clube, gravata rubro-negra e canções instrumentais do hino. Agora, Leandro tenta passar o mesmo amor ao filho Theodoro, de quatro anos.
“Comprei os 12 bodys dos mêsversários iniciais, em todos tinham o símbolo do Vitória e um desses meses, botei o tema principal sendo o Vitória”, contou.
“Vou continuar insistindo para ele ser um torcedor/jogador rubro-negro e que no futuro possa ter momentos felizes de curtir diversos jogos com ele e que sejam tão divertidos quanto eram assistir com meu pai”, concluiu Valverde.
Paixão herdada pela mãe e transmitida aos filhos

Torcedor do Bahia desde que se entende por gente, o engenheiro Olívio Miranda Filho carrega no peito uma herança que veio de casa — mais precisamente da mãe, Leonília Landim, uma torcedora fanática e incansavelmente otimista.
“Eu sou Bahia por total influência da minha mãe, que era a torcedora mais fanática que eu já vi. Meu pai é torcedor do Ypiranga, mas sempre levava a gente para a Fonte Nova para ver o Bahia por causa da minha mãe. Então, total influência dela. Fora que o Bahia sempre foi um time de fazer coisas inacreditáveis. Isso faz com que o amor e a paixão realmente nos transforme”, contou ao bahia.ba.
Apesar de não torcer para o Tricolor, o pai de Olívio contribuiu para essa ligação ao acompanhá-lo aos jogos na Fonte Nova, atendendo ao entusiasmo da esposa.
“Como disse, meu pai é Ypiranga e minha mãe, torcedora do Bahia, daquelas que, por pior que os times estivessem, ela sempre tinha uma palavra de que as coisas iriam acontecer. Então, assim, esse otimismo dela e essa forma de torcer com alegria me mostrava qual era a identidade do Bahia e da torcida do Bahia, que é algo até difícil explicar”, emendou.
E como influencia os seus filhos? Hoje, Olívio é pai de Rodrigo e Leo e acredita que o exemplo é a maior motivação que pode oferecer.
“Eu tenho um conceito comigo de que a melhor forma de você demonstrar liderança, amor, confiança, enfim, todos os sentimentos dessa vida é através do exemplo. Então, eu não sei exatamente de que forma eu fiz para motivar meus filhos a torcerem para o Bahia. Talvez eles tenham visto o quanto eu sou apaixonado, o quanto eu amo esse time, o quanto ele tem importância na minha vida”, pontuou.
“As coisas também que eu conto do Bahia, que eu já contei, que aconteceram, que são meio inacreditáveis, que é o time que até o final está lutando. Eu não vejo motivos, eu acho que mais é o exemplo de ser torcedor por um time que vale a pena torcer, por pior que seja a situação, por piores momentos que ele já passou”, disse emocionado.
A paixão pelo Esquadrão é também um recado sobre identidade e pertencimento – com uma leve alfinetada ao rival.
“E eu acredito que nós baianos devemos torcer por times da Bahia. E o melhor é o Bahia, né? Eu não ia querer para meus filhos que eles torcessem para um time que só tem o nome de ‘vitória’, mas que é um perdedor”, completou aos risos.
Tradição flamenguista radicada na Bahia

O servidor público Rafael Dupuy recebeu uma missão especial no dia 27 de agosto de 2020, com o nascimento do filho Heitor, em Vitória da Conquista: manter viva a tradição flamenguista da família radicada na Bahia.
“Eu não me lembro de não ser Flamengo. Como meu pai sempre gostou de futebol e é rubro-negro desde criança, foi muito natural a minha escolha”, disse ao bahia.ba.
A história começa em 1987, quando o patriarca Ivan, nascido no Rio de Janeiro, foi aprovado em concurso da Petrobras e se mudou para Salvador.
Antes disso, havia se casado com Maria Célia, natural do município baiano de Licínio de Almeida. Em Sete Lagoas (MG), tiveram os dois filhos, Rafael e Renata, e depois a família seguiu para a capital baiana.
Rafael cumpre agora o papel de influenciar Heitor a vestir o manto rubro-negro, tarefa facilitada pela ajuda do avô. Ainda assim, o ambiente escolar do menino está cheio de colegas que torcem para Bahia ou Vitória.
“Na escola ele tem muitos coleguinhas que são Bahia ou Vitória e, vez ou outra, ele vem dizendo: ‘Papai, Fulaninha disse que o Bahia é melhor que o Flamengo, é verdade?’. Por enquanto, eu consigo convencê-lo que não, mas não sei até quando”, relatou em tom humorado.
Para ele, o mais importante é que pai e filho compartilhem as emoções de torcer juntos, sejam vitórias ou derrotas.
“Pode ser que esse pensamento seja meio egoísta e, por isso, não quero forçar a barra nessa influência. Então, eu faço a minha parte para tentar que ele seja Flamengo, mas não vou ficar chateado caso ele torça para o Bahia ou para o Vitória”, ponderou.
No dia 1º de junho deste ano, Rafael realizou um sonho: levou Heitor ao Maracanã para assistir ao Flamengo no meio da torcida rubro-negra.
“Fomos assistir Flamengo 5 x 0 Fortaleza. Demos sorte. Ele gostou muito da festa, do ambiente, da multidão cantando e comemorando os gols. Gostou muito da pipoca do Maracanã também. O problema é que como o jogo foi à noite e tínhamos visitado outros pontos turísticos durante o dia, bateu o sono e ele ficou mais quietinho no final. Mas valeu a pena. Até hoje ele comenta com as pessoas que foi no Maracanã ver o Mengão”, lembrou emocionado.
Herança que atravessa gerações
Mais do que cores, hinos ou camisas, o que pais e filhos compartilham no futebol é um sentimento que atravessa gerações.
Seja no Barradão, na Fonte Nova, no Maracanã ou no sofá de casa, cada gol comemorado, cada derrota lamentada e cada conversa sobre o time constroem memórias que resistem ao tempo.
As histórias de Leandro, Olívio e Rafael mostram que a escolha de um clube vai muito além de resultados: é feita de exemplos, de presenças e de afeto.
E, assim como eles receberam essa herança, também seguem passando adiante, garantindo que, no futebol, o amor de pai continue sendo um dos maiores títulos que alguém pode conquistar.
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