STF faz audiência pública antes de decisão final sobre ‘uberização’
Ministro pretende colher informações das plataformas e trabalhadores

O Supremo Tribunal Federal (STF) realizou nesta segunda-feira (9) uma audiência pública para debater a controvérsia sobre o vínculo de emprego entre motoristas de aplicativos e as plataformas digitais. O debate foi convocado pelo ministro Edson Fachin, relator do processo que trata da questão no Supremo.
Com a audiência, o ministro pretende colher informações das plataformas e entidades que representam os trabalhadores para balizar seu voto sobre a chamada “uberização das relações de trabalho”. Devido ao recesso de fim de ano no STF, o caso deve ser julgado pela Corte somente em 2025.
Durante a audiência, a advogada Solimar Correa, representante legal do Sindicato dos Motoristas de Aplicativos do Pará, relatou as dificuldades enfrentadas pelos motoristas e disse que eles vivem uma “falsa autonomia”.
Ela citou que as plataformas se isentam de qualquer responsabilidade trabalhista. Para o sindicato, a relação entre as plataformas e os motoristas é de contrato de trabalho por tempo indeterminado.
“O controle realizado pelo algoritmo é sem precedentes. Ele monitora a localização em tempo real, estabelece a frequência da resolução das tarefas, define metas de desempenho, avalia a qualidade do trabalho prestado e ainda impõe penalidades, como suspensões e desligamentos por descumprimento das ordens”, afirmou.
Leonardo da Cruz Medeiros, representante do Sindicato dos Trabalhadores por Aplicativos de Transporte Intermunicipal de São Paulo, afirmou que as plataformas realizam contratos de parceria para evitar a responsabilidade trabalhista.
“Não podemos continuar permitindo que essas empresas continuem a transferir suas responsabilidades para a sociedade, enquanto explora os motoristas, sem oferecer proteção adequada”, declarou.
O presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Aloysio Corrêa da Veiga, defendeu a regulamentação da matéria pelo Congresso Nacional. Para o ministro, a lacuna legislativa provoca a judicialização.
“A ausência de regulamentação da atividade decorre do fato de que os trabalhadores de aplicativo não se encaixam perfeitamente nem na figura clássica de autonomia, não fixam preço, não captam clientes, nem na figura típica de empregado subordinado, rejeitam corridas, definem horário e podem trabalhar para vários APPs simultaneamente”, afirmou.
Plataformas – A advogada Fabiana Sanovick, representante da plataforma 99, disse que o reconhecimento de vínculo de emprego pode ter impactos “desastrosos” para o modelo de negócio das plataformas e prejudicar motoristas e passageiros.
Fabiana ressaltou que não há relação de emprego com os motoristas porque não há imposição de horários, e eles podem exercer poder de escolha sobre as corridas mais vantajosas.
Segundo a advogada, parte dos motoristas da 99 utilizam a plataforma como complemento de renda. “Essa liberdade é essencial para que os motoristas se vejam como empreendedores, donos do próprio tempo e de suas escolhas”, afirmou.
O representante do IFood, Diego Barreto, declarou que a plataforma defende a regulação do setor e a proteção social para os trabalhadores que fazem as entregas. “Ao longo do tempo, o IFood passou a defender a regulação. Em uma condição de líder [de mercado], poderíamos deixar o mercado como está. Não é essa a realidade”, completou.
A audiência pública vai continuar na manhã desta terça-feira (10). Serão ouvidos representantes da plataforma Uber e especialistas ligados às universidades federais.
Vínculo – O principal processo que trata do assunto foi protocolado pela plataforma Uber. A empresa considera inconstitucionais as decisões do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que reconheceram a relação de emprego da plataforma com um motorista do aplicativo.
A decisão que for tomada pela Corte terá a chamada repercussão geral, mecanismo que obriga todo o Judiciário a seguir o entendimento do STF após o julgamento de uma causa.
Apesar de várias decisões da Justiça Trabalhista reconhecerem o vínculo empregatício, o próprio Supremo possui decisões contrárias. Em dezembro do ano passado, a Primeira Turma da Corte entendeu que não há vínculo dos motoristas com as plataformas.
O mesmo entendimento já foi tomado pelo plenário em decisões válidas para casos concretos. Cerca de 10 mil ações tramitam em todo o país e aguardam a decisão definitiva do Supremo.
Mais notícias
-
Justiça09h08 de 28/10/2025
Ex-auditor da ‘máfia do ISS’ que fingiu morte é transferido para presídio na Bahia
Arnaldo Augusto Pereira, foragido da Justiça paulista, estava em Mucuri e foi levado ao Conjunto Penal de Teixeira de Freitas nesta segunda (27)
-
Justiça08h14 de 28/10/2025
MPT investiga morte de trabalhador em silo de soja no oeste da Bahia
Dois homens foram soterrados em fazenda de Luís Eduardo Magalhães no último sábado (25)
-
Justiça07h49 de 28/10/2025
Nove desembargadores da Bahia receberam supersalários em setembro; veja valores
Os recebimentos extrapolam o teto constitucional e são descritos como títulos de direitos eventuais e gratificações
-
Justiça12h52 de 27/10/2025
Procurador da Bahia assumirá Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais
Eleição ocorre nesta quarta (29) com Pedro Maia como candidato único
-
Justiça10h48 de 27/10/2025
Jerônimo questiona no STF norma federal sobre estrutura das PMs e Bombeiros; militares reagem
Associação de PMs da Bahia rebate e acusa o Estado de usar argumento financeiro como 'cortina de fumaça' para negar direitos
-
Justiça21h59 de 25/10/2025
Justiça da Bahia interdita clínica de reabilitação por maus-tratos a 89 pessoas
MP-BA determinou interdição da Comunidade Terapêutica CT Vidas, que funcionava clandestinamente em Ipirá
-
Justiça18h08 de 25/10/2025
Justiça mantém prisão de influenciadora ‘ervoafetiva’ após audiência de custódia
Investigada por tráfico interestadual de drogas e lavagem de dinheiro, Melissa Said passou por audiência de custódia neste sábado (25)
-
Justiça08h40 de 22/10/2025
Instituto de André Mendonça fatura milhões em contratos públicos
Instituto começou as operações em 2023 e já tem receita de R$4,8 milhões
-
Justiça08h12 de 22/10/2025
STF decide reabrir investigação contra presidente do PL por golpe
Valdemar Costa Neto foi indiciado pela PF mas PGR não fez denúncia
-
Justiça07h44 de 22/10/2025
STF publica decisão que condenou Bolsonaro e abre prazo para recursos
Ex-presidente foi condenado a 27 anos e três meses de prisão; advogados de defesa têm cinco dias para apresentar os embargos de declaração











