Publicado em 08/03/2021 às 09h19.

Autoamor como forma de empoderamento feminino

No Dia da Mulher, mastologista Daniela Almeida fala sobre aceitação do corpo

Redação
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

 

Esse certamente será um 08 de março diferente, como tudo pelo que se tem passado neste último ano, porém uma coisa é certa, cada dia mais as mulheres avançam no sentido de quebrar antigos padrões e preconceitos. Atualmente, a autovalorização e o empoderamento feminino têm conquistado espaços da área médica ao social. A constatação de que o corpo natural é belo, tem feito mulheres buscarem as clínicas para retirar próteses de silicone.

Antes, porém, é preciso voltar ao início, como tudo começou. O primeiro implante do mundo aconteceu em 1962, nos Estados Unidos, mas eles só se tornaram populares em meados das décadas de 1980 e 1990. No Brasil, a onda bateu nos anos 2000. Hoje, o país realiza 12,9% de todas as cirurgias desse tipo no mundo.

Boa parte dos procedimentos ainda se dá por consequência da exposição prolongada a padrões de beleza cruéis. E é nessa toada que diversas mulheres, independentemente, dos motivos estão buscando manter seus corpos, cada vez mais, naturais e sem intervenções externas. A tendência atual são explantes mamários, ou seja, a busca é para retirada das próteses colocadas. Apesar disso, ainda é difícil falar sobre explante de próteses sem levantar argumentações contrárias, relacionadas à beleza e à sexualidade. Essa movimentação é pautada pela saúde, embora os estudos sobre o tema ainda sejam escassos, os médicos aqui no Brasil já percebem essa onda.

“Existe uma tendência mundial para realização dos explantes. E basicamente por dois motivos. O primeiro é uma maior aceitação das mulheres em relação aos seus corpos, da forma como eles realmente são, o que por si só é lindo. O segundo diz respeito tanto ao medo do câncer de linfoma, que está diretamente relacionado a prótese, quanto ao medo da síndrome autoimune induzida por adjuvantes (ASIA)”, relata a médica mastologista Daniela Almeida. A ASIA (Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants) é uma condição autoimune, até então considerada rara, causada por substâncias ou elementos externos capazes de estimular anticorpos de pacientes geneticamente propensos. Já o linfoma não é câncer de mama, mas um tipo raro que acomete a membrana que o corpo cria em torno da prótese.

A médica ressalta ainda que, em muitos casos, a prótese não é simplesmente estética, faz parte de uma reconstrução mamária. A retirada da mama e a reconstrução desta são indicadas pelos mastologistas, após diagnóstico de câncer, quando o tumor não pode ser retirado de uma forma conservadora, ou seja, não existe opção de deixar a mama após a cirurgia. A reconstituição simples consiste em colocar um implante de silicone, geralmente sob o músculo, simulando a forma natural da mama.

O processo de autoaceitação, claro, não se restringe a retirada de próteses e vai muito além. “Esse é um processo muito pessoal, ele mexe muito com questões psicológicas. Tudo isso vai além das questões estéticas. A gordofobia, por exemplo, passa pela questão de ter acesso às políticas públicas, seja na saúde, no transporte público, na área de segurança, com a violência doméstica… E ainda tem a questão do acesso ao trabalho, que não existe hoje, por conta de muitos preconceitos”, destaca Patrícia Almeida, publicitária e militante da causa.

As ações contra a gordofobia são trazidas, há mais de 30 anos, pelo movimento mundial Body Positive, que reflete a luta das mulheres cujo peso ou anatomia corporal não se encaixam em modelos de magreza, mulheres que batalham pela própria aceitação e por estimular outras a estabelecerem uma relação mais saudável e de apreciação de seus corpos. Mais recentemente, o Body Neutrality trouxe a proposta de levar amor-próprio para além da aparência. Aqui no Brasil, o Movimento Corpo Livre prega que todos os corpos devem ter acesso e liberdade.
Essas atitudes promovem, cada dia mais, o empoderamento feminino.

Quanto mais a mulher se valorizar e perder o medo de reconhecer suas qualidades e seu poder, mais terá força e inspiração pra empoderar outras mulheres. A essência feminina fala sobre uma beleza interna, algo imaterial e invisível aos olhos, é a alma, o espírito. Logo, também é o sorriso, o brilho nos olhos ou cada curva do corpo. “O importante é que a mulher se ame e busque se cuidar. O se exercitar é fundamental, uma caminhada, beber bastante água, evitar alimentos salgados e gordurosos… tudo isso fará a mulher ter tanto mamas mais bonitas, quanto fará se sentir melhor consigo mesma. Autoamor é tudo!”, finaliza Daniela Almeida.

Reconstrução mamária
A Lei nº 12.802/2013 determina que a paciente tem direito à cirurgia plástica reparadora da mama, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), imediatamente após a retirada do tumor. Se não houver condições clínicas e a oncoplastia não puder ser feita na hora, deve ocorrer tão logo a mulher apresente os requisitos necessários. A retirada da mama e a posterior reconstituição são indicadas pelos mastologistas após a biópsia e a localização de lesão impalpável. A reconstituição simples consiste em colocar um implante de silicone, geralmente sob o músculo, simulando a forma natural da mama.

Outra opção é implantar um expansor – invólucro de silicone vazio com uma válvula acoplada. Esse material, gradualmente preenchido com soro fisiológico, é utilizado para distender pele e músculo e dar espaço suficiente para colocar um implante de silicone com volume adequado para cada caso.

Em casos mais complexos, a oncoplastia é feita pelo preenchimento da mama com tecidos da região abdominal ou da região dorsal (costas) do próprio paciente. Algumas mulheres também precisam reconstruir o complexo areolopapilar ou o mamilo. Nesses casos, pode-se usar a técnica da tatuagem ou fazer enxertos de pele e mucosas da paciente.

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