Exposição Nhe´ ẽ Se chega à CAIXA Cultural Salvador
Mostra apresenta produção de 12 artistas indígenas de diferentes territórios brasileiros, com destaque para o Manto Tupinambá, recentemente exibido na Bienal de Veneza
![](https://d1x4bjge7r9nas.cloudfront.net/wp-content/uploads/2024/05/22165549/Nhe%C2%B4-e-Se-%E2%80%93-Desejo-de-Fala.png)
Nhe´ ẽ Se é uma expressão da língua guarani que, na língua portuguesa, significa o desejo de fala, a expressão do espírito e o diálogo como cura. É com esse propósito de comunicar ideias e emoções, função primaz da própria arte, que a mostra de arte indígena acontecerá de 28 de maio a 04 de agosto na CAIXA Cultural Salvador [R. Carlos Gomes, 57 – Centro]. A exposição Nhe´ ẽ Se reúne obras de 12 artistas indígenas vindos de diferentes regiões do Brasil. Depois de sua estreia em Brasília, ela chega à capital baiana e poderá ser visitada gratuitamente de terça a domingo, das 9h às 17h30. A classificação indicativa é livre e aberta a todos os públicos.
Entre os 12 criadores selecionados estão nomes já reconhecidos e nomes ainda iniciantes: Aislan Pankararu, Ajú Paraguassu, Arissana Pataxó, Auá Mendes, Davi Marworno, Déba Tacana, Edgar Kanaykõ Xakriaba, Glicéria Tupinambá, Paulo Desana, Tamikuã Txihi, Xadalu Tupã Jekupé e Yacunã Tuxá. As responsáveis pela curadoria são Sandra Benites e Vera Nunes. Sandra, da etnia Guarani-Nhandeva (MS), é pesquisadora e doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ, tendo se tornado a primeira curadora indígena, no Brasil, a integrar a equipe de um museu. Por sua vez, Vera, uma das principais mulheres na liderança de projetos artísticos de grande escala no país, é pesquisadora na área de gênero, raça e interseccionalidades.
Para Sandra Benites, reunir trabalhos de artistas indígenas de várias partes do país, de contextos e geografias díspares, cada um com sua linguagem e singularidade, é justamente o que dá a força da mostra. “Nhe´ ẽ Se é o espaço preparado para que o diálogo aconteça com as diferentes vozes de diferentes artistas e onde o acolhimento e a escuta são fundamentais”, resume. Vera Nunes lembra da importância de a Bahia receber a exposição, uma vez que ela é um genuíno território indígena. “É o reencontro afetivo dos baianos com a sua ancestralidade, o resgate da memória-território. O que estamos fazendo é movimentar essa memória, pois ela depende desse movimento. E despertar a memória, reativá-la, é fundamental para a construção do futuro”, explica.
A exposição, que nasceu a partir de uma pesquisa acadêmica de Benites e revela o desejo de fala dos povos indígenas, tem o patrocínio da CAIXA e do Governo Federal e é idealizada e realizada pela agência Via Press Comunicação, que atua há 25 anos com foco no desenvolvimento de projetos culturais e em áreas como assessoria de imprensa, eventos, marketing digital, relações públicas e relacionamento comunitário.
Manto Tupinambá
Entre as obras que serão exibidas está o Manto Assojaba Tupinambá, de Glicéria Tupinambá, conhecida por recuperar as técnicas ancestrais de confecção dos mantos de seu povo que foram roubados ao longo dos séculos de colonização. O manto foi o centro das atenções na abertura do pavilhão brasileiro da atual edição da Bienal de Veneza, em abril desse ano. Original da aldeia Serra do Padeiro, localizada na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia, Glicéria é, atualmente, a única que domina o método de realização dos mantos tupinambás, símbolos sagrados de poder utilizados em rituais por pajés, majés e caciques do povo.
A própria artista explica que para criar a peça são necessárias de 3.500 a 5.000 penas de guará e de araras coloridas que são levadas pelo vento quando as aves levantam voo. As penas são costuradas em uma malha de pesca com um cordão encerado formando nós que simbolizam a ligação do passado com os dias atuais. Os tupinambás dominavam a costa brasileira antes da chegada dos portugueses e foram os primeiros a ter contato com os colonizadores. Para além do resgate da tradição e do encantamento estético poderoso que ele provoca, o Manto Tupinambá representa a memória e o ativismo social e político pelos direitos das mulheres indígenas.
Força coletiva da exposição
A coletividade da exposição aponta para um conjunto potente de trabalhos que se identificam por objetivos comuns: a exaltação das origens, a urgente recuperação e preservação física e espiritual dos territórios e a necessidade de enaltecer a ancestralidade. No desejo de fala [que dá nome à exposição], também está contido o desejo de mostrar a força política e a beleza conceitual das culturas indígenas, de modo a chamar a atenção do público para a importância dos indígenas não só no passado, mas principalmente no presente e no futuro do planeta. Sobre a relevância política da mostra, a Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, afirmou: “é com muita felicidade que eu vejo que estamos ocupando espaços com a nossa arte”.
Outro ponto em comum das obras é o emprego e a utilização de materiais encontrados nos próprios territórios de origem dos artistas, o que reforça a conexão espiritual entre o indivíduo e a matéria que o cerca. Os 12 criadores empregam múltiplos suportes e linguagens e convidam o visitante a mergulhar no universo indígena abordado a partir de falas e narrativas particulares. Por meio de pinturas, fotografias, instalações, vídeos e textos, os artistas visuais contemporâneos provocam o olhar do público e o convidam a diálogos com diferentes etnias, territórios, expressões culturais e inquietações. Nessas conversas multiétnicas, o observador tece uma rede harmônica “na qual a serenidade prevalece naturalmente”, comenta Sandra Benites.
O trabalho em cerâmica de Déba Tacana, por exemplo, investiga o corpo indígena e o corpo territorial para expressar sua etnicidade e manifestar que, sob nossos pés, não há terra que não seja indígena. Déba pertence ao povo Tacana, no estado de Rondônia, fronteira com a Bolívia. Já no campo do audiovisual, Edgar Kanaykõ Xakriaba, da Terra Indígena Xakriaba (MG) e primeiro indígena Mestre em Antropologia pela UFMG, se dedica a narrar o cotidiano de sua aldeia com registros fotográficos contextualizados. Também por meio de fotografias, Paulo Desana, da etnia Desana (AM), traz à tona assuntos pertinentes à região do Rio Negro, no Noroeste do Amazonas. Em seus registros, irmãos da tribo, curandeiras e pajés são retratados como personagens encantadas.
Por sua vez, Arissana Pataxó, Mestra em Estudos Étnicos e Africanos e professora na Terra Indígena Coroa Vermelha (BA), utiliza pinturas e ilustrações para debater a exploração e a destruição da terra e a representatividade indígena como parte do mundo contemporâneo. Semelhante a esse mote, o trabalho de Tamikuã Txihi mostra o equilíbrio entre a irmã natureza, a mãe terra e a humanidade. De forma mais específica, Aju Paraguassu, neta da reserva indígena Paraguassu, ativista, designer gráfica e mensageira afro-indígena, se vale também da pintura para abrir-se à escuta das curandeiras e das mães de sangue e de axé.
Também não falta na exposição arte contra o apagamento da cultura indígena no Rio Grande do Sul. Xadalu Tupã Jekupé, de origem ligada aos indígenas que historicamente habitavam as margens do Rio Ibirapuitã, mescla elementos de serigrafia, pintura e fotografia para abordar o tensionamento entre cultura indígena e cultura ocidental nas cidades. São impactantes fotografias, serigrafadas em tecido, de seus parentes usando coletes à prova de balas. Já Auá Mendes (AM) e Yacunã Tuxá (BA), usando a técnica do acrílico sobre tela, exibem, respectivamente, os quadros “Deusa e o véu dos mundos” e “Os rios de memória que redemoinham em mim”. Outras etnias ainda presentes na exposição, representadas por seus artistas, são provenientes de estados como Pernambuco (Aislan Pankararu) e Amapá (Davi Marworno).
Abertura, visita guiada e roda de conversa “Diálogo é Cura”
A abertura da exposição coletiva de arte indígena Nhe´ ẽ Se será às 19h do dia 28 de maio, com as presenças da curadora Sandra Benites e da cocuradora Vera Nunes. A cerimônia contará com tradução em libras. Pensando ainda na acessibilidade, a exposição terá audiodescrição e vídeos legendados ao longo de todo o período que permanecer em cartaz.
No dia 29 de maio, estão programadas uma visita guiada, às 14h, e a roda de conversa “Diálogo é Cura”, das 14h30 às 15h30. Ambas as atividades são também com Sandra Benites e Vera Nunes. A roda de conversa tem como tema o poder do diálogo, o processo da retomada da cultura indígena e o trabalho de cada um dos artistas. Idealizada por Sandra, a atividade se configura como uma junção de vivências que refletirão sobre a cosmovisão dos povos indígenas e sua contribuição essencial para que a sociedade brasileira seja mais justa e mais democrática. A conversa abordará os modelos comunitários dos povos originários e o relato de suas preocupações com o paradigma civilizatório moderno.
Por fim, a roda de conversa tem o objetivo de ampliar o conhecimento do público acerca do conceito de Nhe ́ ẽ Se e das artes e culturas trazidas pela exposição.
Mais notícias
-
Mais Notícias
19h37 de 11 de junho de 2024
Deputado encaminha trator para auxiliar produtores de banana em Serra do Ramalho
“Os implementos agrícolas chegam para facilitar o trabalho no campo”, afirma Márcio Marinho
-
Mais Notícias
17h03 de 22 de maio de 2024
Garrafas d’água reutilizáveis pedem cuidados redobrados contra bactérias
"Superfícies arranhadas ou amassadas favorecem o aumento de bactérias por criar uma área onde elas podem grudar e resistir à limpeza", diz médico
-
Mais Notícias
16h48 de 22 de maio de 2024
Fundação João Fernandes da Cunha celebra 32 anos
Homenagens a personalidades e apelo para que legado do fundador sobreviva marcaram a solenidade
-
Mais Notícias
16h19 de 17 de maio de 2024
FJS ocupa 1ª posição no Programa de Qualificação de Prestadores de Serviços de Saúde
Reconhecimento evidencia a alta eficiência operacional e o melhor desempenho em qualidade e segurança do paciente
-
Mais Notícias
20h29 de 16 de maio de 2024
‘Lúcia já mostrou para que veio enquanto vereadora de Conquista’, diz secretária
A titular da SIHS, Larissa Moraes (MDB), participou do evento que oficializou a pré-candidatura de Lúcia Rocha à prefeitura
-
Mais Notícias
18h38 de 12 de maio de 2024
Sociedade Amigo do Rio Tea celebra o Dia das Mães em Lauro de Freitas
Foram reunidos espanhóis e familiares na comemoração
-
Mais Notícias
19h54 de 10 de maio de 2024
O que a Bíblia diz sobre a segurança das mulheres?
Saiba como Deus encara as mulheres e o que ele pretende fazer no futuro para acabar com os maus-tratos que elas sofrem
-
Mais Notícias
18h06 de 06 de maio de 2024
Renilton Rosário lança livro sobre liderança no Shopping Bela Vista em Salvador
Com o título Liderança Absoluta, o livro aborda estratégias e vivências de como se tornar um líder e ganhar destaque em sua área de atuação
-
Mais Notícias
17h30 de 06 de maio de 2024
Aulão com mestres do Direito Previdenciário vai ajudar vítimas de tragédia no RS
Valor arrecadado será destinado às vítimas das chuvas na cidade de Candelária, no Rio Grande do Sul