Publicado em 16/11/2019 às 10h00.

Repressão a manifestações contra golpe militar deixa ao menos 8 mortos na Bolívia

Representante da Defensoria do Povo da Bolívia disse que manifestantes feridos foram transferidos a um hospital "com ferimentos de bala", mas morreram antes de chegar às instalações

Redação
Foto: Reprodução/Ruptly
Foto: Reprodução/Ruptly

 

Ao menos oito pessoas morreram em decorrência da repressão da polícia militar e do Exército a manifestantes pró-Evo Morales em Sacaba, nas proximidades de Cochabamba, na Bolívia, nesta sexta-feira (15). O protesto era contra o golpe militar ocorrido no país, que culminou com a renúncia de Morales e a ascensão ao poder da senadora de oposição Jeanine Áñez.

De acordo com o representante da Defensoria do Povo da Bolívia em Cochabamba, Nelson Cox, os manifestantes feridos foram transferidos a um hospital “com ferimentos de bala”, mas morreram antes de chegar às instalações.

Cox relatou uma operação “desproporcional” das forças conjuntas de policiais e militares diante da manifestação, que nos dias anteriores terminou com pessoas feridas por bala. Ele denunciou, ainda, que as forças de segurança nos pontos de controle não deixaram passar ambulâncias que transportavam feridos.

“Tenho insistido todos os dias para que evitem mobilizações, não só não violentas, mas para evitar mobilizações. Desde domingo, assistimos a uma escalada das intervenções das forças conjuntas, da polícia e das Forças Armadas, que tiveram intervenções desproporcionais”, argumentou.

De acordo com os centros de saúde de Sacaba, pelo menos 22 pessoas ficaram feridas. À rede CNN, Cox disse que o número é maior:  125 pessoas ficaram feridas e 110 manifestantes foram detidos durante a manifestação.

Para a polícia, os agentes “foram atacados com armamento letal e armas de fogo improvisadas” entre as cidades de Cochabamba e Sacaba, e que uma viatura “recebeu impactos de armas de fogo”, fatos que ainda estão sendo investigados.

Os confrontos tiveram início quando um grande número de cocaleros tentou entrar na cidade por um dos acessos onde as forças da ordem instalaram controles. Os manifestantes tinham como destino final La Paz, para apoiar protestos a favor de Evo Morales, que exilou-se no México após renunciar à Presidência da Bolívia.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em comunicado, condenou o “uso desproporcional da força policial e militar” e confirmou os cinco mortos, destacando, ainda, que havia um número indeterminado de feridos. Para a comissão, “as armas de fogo devem estar excluídas dos dispositivos utilizados pelo controle dos protestos sociais”.

A Human Rights Watch (HRW), uma entidade de defesa de direitos humanos com sede em Washington, por sua vez, declarou que apoia o pedido de organizações civis bolivianas para que a CIDH envie uma comissão “para monitorar a situação”.

José Miguel Vivanco, diretor para as Américas de HRW, disse que era “alarmante” que algumas autoridades do governo de Áñez queiram perseguir políticos adversários ou processar jornalistas.

“Áñez não deve esquecer que assumiu o cargo sem um só voto. Sua missão é convocar eleições o mais rápido possível”, afirmou. Até o momento, no entanto, não há previsão de novas eleições no país.

A forte repressão contra os manifestantes que fazem oposição ao governo estabelecido após o golpe militar no país foi condenada por Evo Morales, que pediu que as Forças Armadas e a polícia “parem o massacre”.

“Condeno e denuncio ao mundo que o regime golpista que tomou o poder por assalto em minha querida Bolívia reprime com balas das Forças Armadas e da polícia o povo que pede pacificação e a reposição do estado de direito”, escreveu no Twitter.

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