Publicado em 18/02/2025 às 12h53.

Rússia sinaliza disposição para negociar fim da guerra na Ucrânia

Em meio a reuniões diplomáticas na Arábia Saudita, Moscou reafirma oposição à entrada da Ucrânia na Otan e espera avanços econômicos nas negociações com os EUA

Redação
Foto: Presidência da Rússia

O presidente russo, Vladimir Putin, demonstrou disposição para, “se necessário”, entrar em negociações com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, visando encerrar o conflito que já dura quase três anos, conforme informou o Kremlin nesta terça-feira (18).

A Rússia reconheceu o direito soberano da Ucrânia de aderir à União Europeia (UE), mas se opõe à entrada do país na Otan, a aliança militar ocidental. Em Riad, na Arábia Saudita, representantes das diplomacias americana e russa se reúnem com o objetivo de reestabelecer o diálogo entre Washington e Moscou, interrompido desde a invasão da Ucrânia.

A presidência russa afirma que não há como resolver a guerra iniciada sem uma discussão mais ampla sobre as questões de segurança na Europa. “Um acordo de longo prazo e viável é impossível sem uma revisão completa dos temas de segurança no continente”, declarou o porta-voz Dmitry Peskov aos jornalistas.

Quanto à adesão da Ucrânia à UE, Peskov ressaltou: “É um direito soberano de qualquer país; ninguém tem o direito de impor regras a outro”. Contudo, ele pontuou que “quando se trata de segurança e alianças militares, a situação é completamente diferente. Nossa abordagem nesses quesitos é distinta e bem conhecida.”

Essas declarações ocorrem em meio a uma reunião em Riad, na Arábia Saudita, entre o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o chanceler russo, Serguei Lavrov, após três anos de relações congeladas entre Washington e Moscou.

Além disso, nesta segunda-feira (17) foi realizada uma reunião em Paris para discutir as garantias de segurança exigidas pelos aliados de Kiev, que foram deixados de fora das negociações anunciadas por Donald Trump e Vladimir Putin.

Segundo a Casa Branca, o encontro de Rubio e Lavrov no Palácio Diriyah, na capital saudita, busca retomar os laços entre Washington e Moscou, com expectativa de avanços econômicos em até três meses, após o reinício das conversas com os americanos.

Trata-se das primeiras discussões nesse nível e formato desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022. Contudo, os Estados Unidos não consideram a reunião como o início de uma “negociação” sobre a Ucrânia, mas sim como a continuação da conversa telefônica entre Donald Trump e Vladimir Putin, que devem se encontrar em breve na Arábia Saudita, após a exclusão de Kiev e dos europeus das tratativas.

Marco Rubio foi acompanhado pelo conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, e pelo enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff. Do lado russo, o conselheiro de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov, participou do encontro ao lado de Serguei Lavrov.

Alvo de severas sanções ocidentais em razão do ataque à Ucrânia, a Rússia afirmou nesta terça-feira que espera um rápido “progresso” na vertente econômica das negociações com os Estados Unidos. “Temos diversas propostas que estão sendo analisadas pelos nossos colegas. Creio que será possível alcançar avanços significativos já nos próximos dois ou três meses”, disse Kirill Dmitriev, chefe do Fundo Russo de Investimento Direto e um dos representantes nas negociações russo-americanas.

Ele acrescentou: “Não podemos revelar os detalhes”, e explicou que “os americanos são excelentes em solucionar problemas, e acredito que o presidente Donald Trump se destaca como um eficaz solucionador de problemas”, observou Dmitriev, que estudou nos Estados Unidos e atuou no Goldman Sachs e na McKinsey.

“É fundamental construir pontes” entre os dois países, ressaltou Dmitriev, enfatizando que “as relações entre os Estados Unidos e a Rússia são essenciais para a paz.”

Neste ano, pelo menos 40% do orçamento federal russo deverá ser destinado à defesa e segurança. O mercado de trabalho está paralisado desde 2022 devido a centenas de milhares de homens que foram para a frente de batalha ou se exilaram, e a inflação se mantém alta (quase 10%), apesar dos esforços do Banco Central para controlá-la.

Contrariando as expectativas russas, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, afirmou em entrevista à emissora Franceinfo nesta manhã que é necessário “aumentar o custo da guerra para Vladimir Putin”. Ele anunciou “uma nova rodada de sanções”, a 16ª, que entrará em vigor a partir de segunda-feira (24), com o intuito de obrigar o presidente russo a retornar à mesa de negociações.

Barrot explicou que as novas sanções terão como foco principal “os recursos energéticos e, particularmente, os mecanismos que a Rússia tem utilizado para contornar as sanções impostas nos últimos anos”, citando, por exemplo, navios que permitem a Moscou continuar vendendo petróleo sem sofrer as restrições da União Europeia.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, viaja à Arábia Saudita nesta quarta-feira (19), país que mantém diálogos com todas as partes envolvidas no conflito. A visita de Zelensky já estava programada há bastante tempo. O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, destinou milhões de dólares em ajuda humanitária à Ucrânia desde o início da guerra, e a diplomacia saudita tem desempenhado um papel importante nas negociações de troca de prisioneiros com a Rússia.

Além disso, o monarca enviou sinais para agradar Donald Trump ao anunciar, em janeiro, um mega investimento de US$ 600 bilhões em empresas de tecnologia americanas nos próximos quatro anos.

No cenário árabe, a Arábia Saudita tem se posicionado na defesa dos palestinos. Até o momento, foi o Catar, seu principal rival, que conduziu as negociações que levaram ao acordo de trégua entre Israel e o Hamas. Contudo, ao propor uma alternativa ao plano de Trump para a Faixa de Gaza, a posição do reino saudita tende a ser decisiva.

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