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Publicado em 22/12/2025 às 09h43.

Áudios revelam Márcio Marinho e Kênio Rezende orientando uso de fiéis como cabos eleitorais

Jornal teve acesso a gravações de reuniões da Igreja Universal em Salvador; deputado estadual e secretário municipal também foram citados

Raquel Franco
Fotos: Câmara dos Deputados/ Antônio Queirós/CMS

 

Gravações obtidas de reuniões internas na catedral da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), em Salvador, revelam o envolvimento direto do deputado federal e bispo Márcio Marinho (Republicanos-BA) em uma estratégia de cooptação de votos. Nos áudios, Marinho, que também preside o Republicanos na Bahia, orienta líderes religiosos a utilizarem a estrutura da igreja e a confiança dos fiéis para transformar obreiros e membros em multiplicadores de votos para candidatos ligados à instituição.

De acordo com reportagem do Intercept Brasil publicada na última quarta-feira (17), os áudios foram gravados em abril de 2024 e detalham o funcionamento de um esquema que utiliza listas de transmissão e redes de contatos pessoais para fins eleitorais. 

Além de Marinho, a reunião contou com a presença de outras figuras políticas e religiosas da Bahia, como o Bispo Sergio Corrêa, então responsável pela Universal no estado, o deputado estadual Jurailton Santos (Republicanos), o secretário municipal de Infraestrutura e Obras Públicas de Salvador (Seinfra), Luiz Carlos de Souza e o vereador Kênio Rezende (PRD).

O esquema foca na capital baiana, onde lideranças como o pastor Luiz Carlos de Souza e o vereador eleito Rezende atuam. Rezende é ouvido orientando os pastores a interromperem as reuniões nos templos por 10 ou 15 minutos para realizar um “pente-fino” nos títulos de eleitor dos fiéis, visando regularizar documentos a tempo do pleito. Marinho reforça essa instrução, afirmando que o “trabalho de domingo” na igreja deve ser dedicado a essa finalidade para garantir o resultado nas urnas.

A estratégia de Marinho consiste em orientar os fiéis a abordarem amigos e parentes de fora da igreja. O deputado instrui que o candidato seja apresentado como um “amigo íntimo” ou “homem de bem”, evitando o rótulo de político em um primeiro momento para criar uma conexão de confiança. 

Veja a publicação que expõe os áudios:

O plano de ação também cita o envolvimento de figuras como o Bispo Alessandro Paschoal, que comanda o grupo Arimateia em São Paulo, e o Bispo Célio Lopes (PSDB), que atuou no Rio de Janeiro antes de se eleger vereador em Santo André (SP).

As gravações mencionam ainda o papel de lideranças nacionais do Republicanos e da Universal, como o Bispo Marcos Pereira, presidente nacional do partido, e o fundador da igreja, Edir Macedo, além de seu sobrinho Marcelo Crivella. Em outras regiões, como Fortaleza, a estratégia foi replicada pelo vereador Ronaldo Martins (Republicanos).

Raquel Franco
Natural de Brasília, formou-se em produção em comunicação e cultura e em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Também é fotógrafa formada pelo Labfoto. Foi trainee de jornalismo ambiental na Folha de S.Paulo.

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