Bolsonaro chama coronel Brilhante Ustra de ‘herói nacional’
Chefe do DOI-Codi na ditadura, militar foi apontado pela Justiça como responsável por torturas; para o presidente, ele evitou que o país caísse “naquilo que a esquerda quer”
O presidente Jair Bolsonaro disse, nesta quinta-feira (8), que o coronel Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi durante a ditadura militar, é um “herói nacional”. Na saída da residência oficial do Palácio do Alvorada, Bolsonaro falou com jornalistas sobre um almoço marcado para esta quinta com a viúva de Ustra, Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra.
“Tem um coração enorme. Eu sou apaixonado por ela. Não tive muito contato, mas tive alguns contatos com o marido dela enquanto estava vivo. Um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer”, disse o presidente.
Entre 29 de setembro de 1970 a 23 de janeiro de 1974, período em que o coronel esteve à frente do DOI-Codi, órgão de repressão política no período do governo militar, foram registradas ao menos 45 mortes e desaparecimentos forçados, segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade, que apurou casos de tortura e sumiço de presos políticos na época.
Ustra também foi o primeiro militar brasileiro a responder por um processo de tortura durante a ditadura. Em outubro de 2008, o juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível central, em São Paulo, julgou procedente o pedido dos autores da ação, que buscava que a Justiça apontasse Ustra como responsável por crimes de tortura.
Em 2012, ele foi condenado a pagar indenização por danos morais à esposa e à irmã do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, morto em julho de 1971.
O relatório final da Comissão da Verdade apontou 377 pessoas – entre elas Ustra – como responsáveis diretas ou indiretas pela prática de tortura e assassinatos durante a ditadura. O coronel negava ter cometido atos de violência contra presos. Ele morreu em 2015, aos 83 anos.
Bolsonaro citou Ustra em voto no Congresso
Em abril de 2016, dias depois de aberto o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro, comandada à época por Felipe Santa Cruz – atual presidente nacional -, pediu a cassação do mandato do então deputado Jair Bolsonaro por quebra de decoro parlamentar e apologia à tortura.
Durante a votação no Congresso, Bolsonaro, ao declarar-se favorável à abertura do impeachment, homenageou Brilhante Ustra. “Pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”, disse o então deputado ao votar pela abertura do processo.
O caso de Bolsonaro foi arquivado pelo Conselho de Ética da Câmara, em novembro de 2016.
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