Publicado em 27/06/2024 às 19h03.

Campos Neto afirma que críticas de Lula afetam Banco Central: ‘é constatação’

Presidente do BC afirmou que há perda de potência da política monetária com o aumento da volatilidade provocado pelos pronunciamentos do presidente da República

Redação
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

 

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, abordou nesta quinta-feira (27) as críticas feitas a ele e à instituição pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo Campos Neto, há uma “constatação”, não uma opinião, de que os principais ativos financeiros são afetados pelos pronunciamentos de Lula. Isso se traduz em uma deterioração das expectativas, complicando o trabalho do Comitê de Política Monetária (Copom).

“O que se mostrou no passado recente – e não é opinião minha, é constatação. Se a gente olha os movimentos de mercado em tempo real com os pronunciamentos, o que se mostrou é que você teve piora em algumas variáveis macroeconômicas, em alguns preços de mercado. Então, é óbvio que, quando você aumenta o prêmio de risco, ele obviamente faz com que o trabalho fique mais difícil ao longo do tempo”, afirmou.

Para Campos Neto, isso resulta em uma perda de eficácia da política monetária, o que significa que o Banco Central precisa ajustar a taxa Selic para um patamar mais elevado.

“O nosso modelo trabalha muito fortemente pelo canal das expectativas, e quando você tem prêmio de risco, ele influencia o canal das expectativas e, influenciando o canal das expectativas, ele influencia a potência do canal de política monetária, que é o que é relevante no nosso dia a dia”, afirmou. Campos Neto disse, porém, que Lula tem o direito de se manifestar.

Esses comentários foram feitos após a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, na manhã da última quarta-feira (26). O documento foi publicado uma semana após a reunião que interrompeu o ciclo de cortes da taxa básica de juros, Selic, fixando-a em 10,5% ao ano.

Campos Neto também enfatizou que Lula tem o direito de manifestar suas opiniões sobre a política monetária. “O presidente da República tem todo o direito de se manifestar em relação ao que está acontecendo, o que está sendo feito no Banco Central ou em qualquer outro órgão. Não cabe a mim, presidente do BC, entrar em debates políticos”

Ele destacou que o Banco Central “tem demonstrado e continuará demonstrando” que suas decisões são baseadas em critérios técnicos. “Em breve, deixarei a presidência do BC. O tema político continuará, e as pessoas farão uma avaliação após minha saída, concluindo que, durante meu mandato, as decisões foram totalmente técnicas”, afirmou em entrevista à imprensa para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Questionado se os ataques de Lula dificultam o trabalho do BC, Campos Neto observou que, conforme evidenciado pelo comportamento do mercado em tempo real no passado recente, houve uma deterioração nos preços dos ativos e nas variáveis econômicas em momentos de pronunciamento do presidente. Portanto, ele ponderou que o aumento do prêmio de risco, juntamente com a volatilidade, afeta o canal das expectativas e, consequentemente, a eficácia da política monetária, tornando o trabalho do BC mais desafiador ao longo do tempo.

Mais notícias

Este site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência de navegação. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.