Casa onde Marighella viveu em Salvador será transformada em instituto
Anúncio foi feito no dia que marca 55 anos da morte do guerrilheiro
A casa onde o político, guerrilheiro e poeta Carlos Marighella e sua companheira de vida e luta, Clara Charf, viveram, no bairro de Nazaré, em Salvador, será a sede do Instituto Carlos Marighella, espaço de realização de atividades culturais e formação política. A transformação do local foi anunciada nesta segunda-feira (4), durante um ato que o homenageou no endereço em que foi assassinado, na Alameda Casa Branca, região central de São Paulo, por agentes da ditadura militar.
O projeto é pleiteado, há anos, por militantes e entidades representativas da sociedade civil, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O ato ocorreu no Armazém do Campo, no bairro Campos Elíseos, na capital paulista.
Nascido em Salvador, Carlos Marighella fundou a Ação Libertadora Nacional (ALN), que também comandou como dirigente nacional. Foi a principal liderança da luta armada contra a ditadura militar, que o submeteu a torturas, ao encarceramento e ao exílio. Iniciou sua militância, quando ainda era estudante de engenharia, pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), conforme destaca o Memorial da Resistência.
Cofundador da ALN, ao lado de Marighella e outras lideranças, o radialista e político José Luiz Del Roio acabou incumbido de zelar pela memória dos acontecimentos que ele e seus companheiros de luta viveram e testemunharam. Ele, que também se filiou cedo ao PCB, se tornou um dos responsáveis pela recuperação de parte do acervo do partido, tirando-a das vistas dos órgãos de repressão militar. Teve sucesso, com a ajuda da sigla, enviando o acervo para Milão, na Itália, onde fundou o Archivio Storico del Movimento Operaio Brasilliano. Atualmente, os documentos originais encontram-se sob guarda da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Presente no ato e em entrevista à Agência Brasil, Del Roio conta que arquiva na mente uma infinidade de lembranças, a maioria vinculada ao que predominou em sua vida: a militância.
“O que volta mais, realmente, são momentos extremos. Extremos de vitória e extremos, sobretudo, de quedas e de mortes de companheiros e companheiras. A questão da morte dos companheiros, os tombados, sempre deixa uma marca, porque você não sabe se você teve uma responsabilidade direta ou indireta e não pode cometer a injustiça de esquecê-los”, diz.
Salientando a trajetória de radialista, função que o permitiu realizar um grande número de entrevistas, e a de responsável por cuidar de arquivos da classe operária, Del Roio se autodeclara “um operador da memória”. “Estou muito feliz assim. Claro, a idade me preocupa, a memória começa a ter lapsos. Mas isso faz parte. Gosto de ter lapsos. Se não tivesse os lapsos, estaria morto”, afirma.
“Agora, a memória não tem que ser individual, mas coletiva. Você tem que transformar a tua memória, os grandes momentos, que ajudam na construção da sociedade, ela tem que ser coletivizada. Todos esses de cabelos brancos que estão aqui, eu os conheço há 60, 75 anos. Uns foram presos, outros, não. A nossa memória é coletiva, totalmente coletiva, algo bastante impressionante. Não é possível passar tudo isso para frente porque tem a vivência, mas, pelo menos, a experiência tem que se passar para frente para a construção da grande memória da sociedade do Brasil. Senão, você não tem Brasil, não tem memórias. Você tem bandeira, mas não tem Brasil”, declara.
Quem foi Carlos Marighella
Marighella foi torturado pela primeira vez no ano de 1936, aos 24 anos de idade, tendo seus pés queimados por maçarico. Permaneceu um ano preso, até que recebeu anistia. Então, mudou-se para São Paulo. Depois disso, ficou preso por seis anos e, com o fim da ditadura da Era Vargas, foi anistiado e eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte de 1946, mas, em seguida, cassado, como outros parlamentares do PCB. Em 1952, passou a integrar a Comissão Executiva do Comitê Central do PCB, e, no ano seguinte, foi enviado à China.
Em 1964, ano do golpe que depôs o presidente João Goulart e instaurou a ditadura civil-militar, Marighella foi encontrado por policiais em um cinema no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, e resistiu à prisão, sendo baleado à queima-roupa. Na época, já estava em curso seu distanciamento da direção do PCB e o que o arrematou foi sua participação na 1° Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), ao lado de lideranças como Ernesto Che Guevara, usada como justificativa para sua expulsão do partido.
Por meio do documento “Pronunciamento do Agrupamento Comunista e São Paulo”, de fevereiro de 1968, anunciou o surgimento de uma organização favorável à luta armada como instrumento de combate às arbitrariedades da ditadura. Assim, em julho daquele ano, surgia a Ação Libertadora Nacional (ALN), que nos próximos meses já registraria as primeiras operações de guerrilha urbana no Brasil.
Uma das referências mais associadas a Marighella é o sequestro do embaixador dos Estados Unidos, idealizado pela Dissidência Comunista da Guanabara (que deu origem ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro – MR-8), que pediu apoio da ALN. Ele foi executado na noite de 4 de novembro de 1969, por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS/SP), após uma emboscada, na qual não teve possibilidade de se defender. Contudo, a versão oficial conta que houve um tiroteio entre o militante comunista e policiais do DOPS/ SP.
Mais notícias
-
Política
09h37 de 05 de novembro de 2024
Mudanças nos pisos de Saúde e Educação estão sendo discutidos pelo governo, diz jornal
Alterações seriam incluídas dentro do pacote de corte de despesas públicas elaborado pelo Ministério da Fazenda
-
Política
09h28 de 05 de novembro de 2024
Jerônimo descarta interferência em Camaçari e oferece apoio na transição de Luiz Caetano
Governador declarou que já tratou com Caetano de temas que envolvem a infraestrutura e a saúde do município
-
Política
08h24 de 05 de novembro de 2024
Governador defende proporcionalidade em Mesa Diretora da Alba
Jerônimo considera importante a "voz" da oposição na casa
-
Política
08h11 de 05 de novembro de 2024
‘Toda semana Neto vê sua liderança questionada’, diz Éden após declaração de Roma
"João Roma se junta ao coro que questiona se ACM Neto lidera ou não lidera a oposição, se ele será ou não candidato", declarou o petista
-
Política
07h31 de 05 de novembro de 2024
Câmara aprova projeto que torna crime fotografar partes íntimas de alguém sem consentimento
Medida já previa a criminalização do ato de registrar a intimidade sexual sem consentimento, com penas de detenção de seis meses a um ano e multa
-
Política
21h47 de 04 de novembro de 2024
Governador recebe lideranças e debate avanços para os povos indígenas da Bahia
Jerônimo Rodrigues destacou as ações que estão sendo realizadas pelo Governo do Estado para garantir a assistência às comunidades indígenas
-
Política
21h20 de 04 de novembro de 2024
PL propõe medidas adicionais para combater endividamento por apostas
De autoria do deputado baiano Daniel Almeida, o PL visa proteger os consumidores de situações de endividamento excessivo
-
Política
21h00 de 04 de novembro de 2024
Bolsonaro critica Enem 2024 do governo Lula: ‘Agenda woke’
“A doutrinação ideológica que o sistema acusava os outros de fazerem segue agora mais forte que nunca', disse o ex-presidente
-
Política
20h20 de 04 de novembro de 2024
Ministra da Cultura recorda cortes de Bolsonaro e celebra avanços do governo Lula
A cantora baiana e ministra, Margareth Menezes, fez um pronunciamento sobre ações, investimentos e conquistas para o setor