CPI: consultor aponta erros em faturas enviadas para compra da Covaxin
William Santana prestou depoimento à CPI da Pandemia

Por Karine Melo
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado, nesta sexta-feira (9), o consultor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) William Santana, que atua junto ao Ministério da Saúde como técnico da Divisão de Importação do Departamento de Logística, disse que não participou “de negociação ou celebração do contrato”, nem de reuniões para a aquisição da vacina indiana Covaxin.
Logo em sua fala inicial, Santana destacou que o papel dele na divisão se limita a analisar invoices (faturas de negociações internacionais) para a compra de vacinas e solicitar a abertura da licença de importação.
À CPI, o depoente disse que, no caso de informações enviadas pela Precisa Medicamentos, ao Ministério da Saúde, para compra da vacina Covaxin constatou diversos erros e inconsistências. Segundo William, três invoices, todas com informações divergentes com o contrato assinado no Ministério da Saúde, foram enviadas à pasta pela Precisa Medicamentos entre os dias 16 e 24 de março de 2021.
Segundo o consultor, logo na primeira invoice enviada pela empresa Precisa, no dia 18 de março, para a compra da Covaxin pelo Ministério da Saúde, a quantidade de vacinas era menor do que o previsto. Além disso, a empresa indicada como vendedora não era a mesma do contrato, não havia licença de importação, o nome do Ministério da Saúde estava errado, não estava indicado a que aeroporto a carga chegaria, não havia informações sobre peso bruto ou líquido da carga e o número de lote. O documento indicava ainda que o pagamento deveria ser antecipado, o que contrariava o contrato. Santana disse que ligou para a empresa e pediu a correção dos dados.
Durante o depoimento, o consultor disse que, após dois pedidos de correção de dados, a empresa Precisa Medicamentos enviou outras duas invoices com erros. Ele detalhou que, no último documento, a carga de vacinas Covaxin viria por via marítima e não aérea. Além disso, a nota transferia para o Ministério da Saúde a responsabilidade pelo pagamento de frete e seguro da carga. Pelo contrato, esse custo caberia à Precisa. O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), criticou a postura da empresa. “O nome disso não é erro. É golpe”, afirmou.
Santana disse que “não é comum” um fornecedor apresentar essas faturas com tantos erros.“Existem casos em que fornecedores mandam informações que precisam ser corrigidas. Mas não é comum. Não nessa quantidade.”
Outro fato considerado incomum trazido por Santana aos parlamentares foi que a Precisa pediu por e-mail “auxílio” para a liberação de uma licença de importação para o imunizante. Na mensagem, de março de 2021, a empresa dizia que a solicitação tinha a “anuência da Secretaria Executiva” do Ministério da Saúde, à época comandada pelo coronel Elcio Franco. “Nunca recebi um e-mail de um fornecedor nesses termos. Normalmente, o fornecedor encaminha um e-mail com a documentação pedindo providências quanto à abertura da licença de importação”, observou o consultor.
A fiscal do contrato no Ministério da Saúde, Regina Célia Oliveira, que já depôs ao colegiado, também foi citada por William Santana. Segundo ele, coube à fiscal autorizar a participação da Madison Biotech, empresa sediada em Cingapura, que atuava como intermediadora do contrato. Santana acrescentou que Regina Célia foi a responsável por autorizar o quantitativo do envio de vacinas, ainda que menor que o previsto em contrato. O depoente também disse que alertou a servidora sobre as várias divergências nas invoices enviadas pela Precisa.
William Santana afirmou que seu chefe na Divisão de Importações do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda, foi pressionado a liberar a importação das vacinas Covaxin. “Há uma hierarquia no ministério, então as cobranças vêm de cima para baixo. As cobranças eram dirigidas a ele, ele era bastante cobrado”, relatou.
Durante o depoimento do consultor, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) defendeu a convocação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni. Na avaliação de Renan Calheiros, Onyx Lorenzoni cometeu “crime de falsidade” ao tentar confundir a investigação.
O requerimento de convocação deve ser votado na semana que vem pelo colegiado. Em entrevista coletiva, no mês passado, em que rebateu denúncias de irregularidades na compra do imunizante, Onyx apresentou como falso um documento com dados inconsistentes sobre o contrato para a compra da vacina Covaxin.
Questionado hoje pelo relator sobre o assunto, o consultor William Santana disse que o documento foi o mesmo enviado pela Precisa Medicamentos ao Ministério da Saúde, no processo para a importação da vacina indiana.
Procurada pela Agência Brasil, a assessoria de Onyx Lorenzoni disse que ele não cometeu nenhuma ilegalidade e que não tem nada a declarar a respeito do depoimento do consultor.
Mais notícias
-
Política
16h38 de 17/09/2025
Lídice critica PEC da Blindagem: ‘É legitimação da impunidade’
Para a congressista, a medida representa um risco grave à Justiça e pode abrir espaço para crimes sem punição
-
Política
16h30 de 17/09/2025
Sidninho confirma reunião na CMS sobre quatro projetos: ‘Vamos apreciar’
Na ocasião, o vereador também comentou sobre a invasão à Câmara em maio
-
Política
16h12 de 17/09/2025
Vereadora critica aprovação da PEC da blindagem: ‘Escárnio para população’
Marta Rodrigues diz esperar que o Senado barre a proposta e acusa deputados de legislar em causa própria e contra a democracia
-
Política
16h00 de 17/09/2025
Kiki Bispo confirma reunião para discutir projeto após greve dos professores
O texto foi protocolado no dia 20 de agosto e propõe mudanças no Plano de Carreira do Magistério Municipal
-
Política
15h55 de 17/09/2025
ALBA aprova pagamento de precatórios a professores da rede estadual
Tiago Correia defendeu uma emenda que propunha o aumento de 20% para 30% nos recursos destinados à valorização dos profissionais
-
Política
15h47 de 17/09/2025
Vereador se solidariza com Bolsonaro após diagnóstico de câncer de pele
Médico, Cezar Leite destaca força do ex-presidente e afirma que "sua história ainda não terminou"
-
Política
15h27 de 17/09/2025
Votação de projetos na CMS deve ocorrer na próxima quarta, diz Kiki Bispo
Reunião conjunta das comissões deve aprovar textos nesta quinta (18)
-
Política
15h06 de 17/09/2025
Lula e Dilma tiveram câncer e sobreviveram após tratamento; relembre
Ex-presidente Jair Bolsonaro está com suspeita de câncer de pele
-
Política
14h55 de 17/09/2025
Aliado nega disputa de Bruno Reis ao governo da Bahia em 2026
Segundo a fonte, a permanência do prefeito é considerada positiva pela cúpula do União
-
Política
14h45 de 17/09/2025
Wagner reage à PEC da Blindagem: ‘Não passará no Senado’
O senador também questionou a prioridade dada à proposta