Publicado em 22/04/2025 às 11h43.

Galípolo compara papel do Banco Central ao de ‘chato da festa’ em audiência no Senado

Presidente do BC explica atuação na política de juros e aponta desafios internos e externos para controle da inflação

Redação
Foto: Roque de Sá/Agência Senado

 

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (22), durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que o papel da autoridade monetária é “ser o chato da festa”. A sessão teve como foco as perspectivas da política monetária no país.

Segundo Galípolo, o BC deve ajustar a taxa de juros conforme a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), composto pelo próprio BC e pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

Para ilustrar sua fala, ele usou uma analogia: “Quando a festa [economia] está muito aquecida e o pessoal está subindo na mesa, tiramos a bebida [aumentamos os juros]. Mas, quando o pessoal quer ir embora [economia desaquecida], dizemos: ‘Calma, ainda tem bebida e música, podem ficar’ [reduzimos os juros]”. Ele ressaltou que o BC precisa agir de forma contracíclica, mesmo que impopular.

O objetivo central do Banco Central é manter a estabilidade de preços, cumprindo a meta de inflação estipulada pelo CMN. Para 2025, a meta é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo — ou seja, entre 1,5% e 4,5%.

Atualmente, a inflação acumulada em 12 meses, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), está em 5,48% até março, superando o teto da meta. A Selic, taxa básica de juros, está em 14,25% ao ano, com previsão de novas altas, conforme sinalizado na última reunião do BC.

Galípolo apontou sinais positivos da economia brasileira, como pleno emprego, aumento da renda e produtividade dos setores. Ainda assim, destacou a necessidade de frear a economia quando há risco inflacionário: “Estamos avaliando agora se já atingimos um patamar suficientemente restritivo ou se ainda precisamos ajustar mais ao longo deste ciclo de alta de juros.”

Ele também comentou o impacto do câmbio na inflação de alimentos, afirmando que 60% dos custos da produção agropecuária têm ligação direta ou indireta com a variação cambial. Segundo o BC, uma depreciação de 10% no câmbio pode elevar a inflação dos alimentos em até 1,4 ponto percentual.

Durante a audiência, o presidente da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), reconheceu que o aumento dos juros é uma medida eficaz, embora seja um “remédio amargo” para a população e as empresas. Renan também mencionou o apoio do presidente Lula (PT) e do Ministério da Fazenda a Galípolo, que foi secretário-executivo do ministro Fernando Haddad em 2023.

Sobre o cenário internacional, Galípolo mencionou as incertezas provocadas por políticas tarifárias dos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump. Para ele, essas tarifas e o ambiente de guerra comercial podem desacelerar a economia global, o que também representa riscos para o Brasil.

Ainda assim, avaliou que o país pode se destacar entre os emergentes devido à diversificação de sua pauta comercial e à força do mercado interno.

As audiências com o presidente do Banco Central fazem parte do Regimento Interno do Senado, que prevê sua participação na CAE ao menos quatro vezes por ano.

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