Jornalista da Folha é insultada em depoimento na CPMI das Fake News
Hans Nascimento deu informações falsas sobre empresa que fez disparos ilegais por WhatsApp na corrida presidencial de 2018; Eduardo Bolsonaro repetiu ofensas
A jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, foi insultada por um ex-funcionário da empresa de marketing digital Yacows, alvo de uma série de reportagens por ter realizado disparos de mensagens em massa por WhatsApp para influenciar o voto nas eleições presidenciais de 2018. O ataque ocorreu na terça-feira (11), quando Hans River do Rio Nascimento prestava depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News.
Na ocasião, ele deu informações falsas à CPMI e insultou Patrícia Campos Mello, autora de uma das reportagens. Hans afirmou que a jornalista se insinuou sexualmente em troca de informações sobre a agência Yacows.
“Quando eu cheguei na Folha de S.Paulo, quando ela [repórter] escutou a negativa, o distrato que eu dei e deixei claro que não fazia parte do meu interesse, a pessoa querer um determinado tipo de matéria a troco de sexo, que não era a minha intenção, que a minha intenção era ser ouvido a respeito do meu livro, entendeu?”, disse Hans, que foi convocado pelo deputado Rui Falcão (PT-SP) a prestar esclarecimentos no colegiado.
Ao comentar as acusações, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse não duvidar que a repórter “possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro”. Após sua participação na CPMI, o filho do presidente ainda postou suas afirmações no Twitter.
Em nota, a Folha condenou os ataques à jornalista. “A Folha repudia as mentiras e os insultos direcionados à jornalista Patrícia Campos Mello na chamada CPMI das Fake News. O jornal reagirá publicando documentos que mais uma vez comprovam a correção das reportagens sobre o uso ilegal de disparos de redes sociais durante a campanha de 2018. Causam estupefação, ainda, o Congresso Nacional servir de palco ao baixo nível e as insinuações ultrajantes do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)”, afirmou.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também repudiou as “alegações difamatórias” de Eduardo. “É assustador que um agente público use seu canal de comunicação para atacar jornalistas cujas reportagens trazem informações que o desagradam, sobretudo apelando ao machismo e à misoginia”, disse a Abraji.
Disparos
O episódio fez com que Patrícia fosse alvo de ofensas machistas nas redes sociais. Em 2018, ela publicou uma série de reportagens sobre a ação de empresas que faziam disparos em massa de mensagens por WhatsApp para influenciar o voto nas eleições presidenciais. A Yacows era uma delas.
Em dezembro daquele ano, reportagem da Folha, baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos de Hans, mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nome e CPF de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.
No início da sessão da CPMI das Fake News, Hans River também provocou polêmica ao afirmar que o deputado Rui Falcão (PT-SP) o chamou de “favelado” quando o cumprimentou. Falcão disse que se tratava de uma “mentira”, reagindo à acusação ao lado de seu correligionário, o senador Humberto Costa (PT-PE). Hans disse mais tarde que teria sido chamado de “periférico”.
(Com informações dos jornais O Estado de S. Paulo e da Folha de S. Paulo)
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