Publicado em 25/11/2016 às 09h54.

Medo da Odebrecht agita Brasília. Deputados perderam a vergonha

Delação já contabiliza 130 deputados e senadores, 20 governadores e ex, além de prefeitos; Muita gente está perdendo o sono por lá

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“Um homem pode agradar e sorrir e não passar de um facínora”

William Shakespeare, poeta e dramaturgo inglês (1564-1616)

Foto: Zeca Ribeiro/ Câmara dos Deputados.
Foto: Zeca Ribeiro/ Câmara dos Deputados.

 

No calor das discussões sobre a anistia para o caixa 2 o deputado baiano João Gualberto (PSDB) bradou:

— Se nós aprovarmos um negócio desses (a anistia do caixa 2) a sociedade vai tocar fogo nisso aqui! A desmoralização será total!

Um outro retrucou:

— Desmoralizados já estamos. Pelo menos a gente se livra da cadeia!

Esse foi o clima que predominou na Câmara dos Deputados nesta semana. O medo da delação da Odebrecht, que já contabiliza 130 deputados e senadores, 20 governadores e ex, além de prefeitos, está mesmo tirando o sono de muita gente em Brasília.

O escancaramento da angústia se deu no projeto Anticorrupção, sugerido pelo Ministério Público, mas enxertado com emendas que anistiam o caixa 2, que alguns queriam aprovar a toque de caixa ontem na Câmara para seguir logo ao Senado.

Um parecer de 429 páginas que ninguém leu de repente entrou na pauta com pedido de urgência urgentíssima, o que significaria votação imediata. E a pedida foi aprovada por 312 votos a favor, 65 contra e duas abstenções, mas minguou graças aos protestos ostensivos de um grupo de deputados.

Curioso: entre os que ficaram contra a urgência urgentíssima só um baiano, o próprio João Gualberto, que admite ter enfrentado problemas até com colegas de partido:

— Ficaram putos comigo, mas por convicção, acho que quem cometeu crimes que responda por eles. Do jeito que eles queriam a sociedade ia tocar fogo no Congresso.

A votação do projeto foi adiada para terça-feira, mas depois da decisão só outro baiano, Jutahy Júnior, também do PSDB, se pronunciou contra a anistia do caixa 2.

O fato suscita a pergunta: há tantos conterrâneos com medo da Odebrecht assim?

Silêncio nas assessorias

Outro detalhe sintomático: normalmente fartas na produção de releases sobre os feitos dos seus assessorados, as assessorias dos deputados (outros estados inclusos) calaram-se sobre o Projeto Anticorrupção (leia-se caixa 2).

Só o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), relator distribuiu um. Para dizer-se ostensivamente contra as emendas que perdoam o caixa 2, que ele chama ‘maluquice’.

O silêncio revela outro detalhe: a tentativa de aprovar uma lei que livra da cadeia os implicados na Lava Jato que ainda serão citados é ato consciente. Estão sabendo o que fazem.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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