Secretário de Cultura de Bolsonaro usa discurso de ministro de Hitler e gera indignação
Frase, estética e trilha sonora usadas no pronunciamento levam internautas a comparar divulgação com propaganda nazista; veja vídeo
O secretário da Cultura Roberto Alvim divulgou nas redes sociais um vídeo em que menciona trechos de discurso de Joseph Goebbels, ministro de propaganda da Alemanha nazista.
O material, publicado na noite de quinta-feira (16), trata do Prêmio Nacional das Artes, projeto no valor total de mais de R$ 20 milhões.
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— Secretaria Especial da Cultura (@CulturaGovBr) January 16, 2020
“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”, disse o ministro de cultura e comunicação de Hitler em um pronunciamento para diretores de teatro, segundo o livro “Goebbels: a Biography”, de Peter Longerich. “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, parafraseou Alvim no vídeo.
Além dos trechos do pronunciamento, a estética do vídeo, a aparência do secretário, o vocabulário, o tom de voz e a trilha sonora escolhida também fizeram várias personalidades compararem a divulgação à propaganda nazista.
A estética do vídeo, o som de fundo, a postura do ministro, a fala carregada de nacionalismo e citações ao Joseph Goebbels… Se isso não for indícios do nazismo tropical, é pq uma máquina do tempo nos levou de volta para 1933 na Alemanha. https://t.co/M7HoMlmbiE — David Nemer (@DavidNemer) January 17, 2020
Uma das referências no vídeo é a música de fundo, que veio da ópera “Lohengrin”, de Richard Wagner, uma obra que Hitler contou em sua autobiografia ter sido decisiva em sua vida.
O pronunciamento de Alvim foi ambientado em uma sala que tem o retrato do presidente Jair Bolsonaro ao fundo, a bandeira brasileira de um lado e uma cruz do outro.
Dramaturgo, Alvim ganhou a simpatia de Bolsonaro ao defender o presidente nas redes sociais e ao atacar a atriz Fernanda Montenegro, dizendo sentir “desprezo” por ela.
Na Secretaria Especial da Cultura, coleciona polêmicas, como a nomeação do jornalista e militante de direita Sérgio Nascimento de Camargo para a presidente da Fundação Palmares. A nomeação foi suspensa após uma grande mobilização contra afirmações de Camargo consideradas racistas.
Esta semana, Alvim ironizou a indicação de “Democracia em Vertigem” na categoria de melhor documentário longa-metragem do Oscar dizendo que a produção deveria estar na categoria ficção.
Dirigido pela cineasta mineira Petra Costa, o filme acompanha o impeachment de Dilma Rousseff a partir de uma visão particular da diretora.
(Com informações da Folha de S. Paulo)